“De acordo com o V. T. e o N. T., segundo o estudo feito
anteriormente, Jesus Cristo preexistiu Sua encarnação, isto é, Jesus Cristo
existiu antes de Seu nascimento em Nazaré. Alguém que já existia tornou-se
“Carne”. Alguns discordam desta declaração e para tanto citam João 3:16. No
estudo das profecias Messiânicas chegamos a conclusão que o Messias não somente
existiu antes da encarnação, como também vimos que Jesus Cristo era
preexistente desde toda a eternidade. E se Jesus existiu desde toda a
eternidade, então Ele é Deus ou era Deus.”
Algumas pessoas não concordam com estas declarações – que
Jesus existiu desde toda a eternidade e mencionam a passagem de João 3:16. Dizem
eles: se Jesus é unigênito então Ele teve um começo, e se Ele teve um começo
como podia Ele ser preexistente desde a eternidade ou ser Deus? O fato de Ele ser Filho prova que Ele não
podia ser co-eterno com o Pai, dizem eles. Estas perguntas reclamam uma
investigação do significado da palavra “unigênito” (monogenes).”
I – Monogenes no N. T.
Monogenes ocorre
9 vezes no N. T. Cinco vezes o termo é aplicado a Jesus - João 1:14;
3:16; 3:18; I João 4:9.
Estas cinco passagens ocorrem nos escritos de João, o qual procura
provar, que Jesus é Deus. Quatro passagens referem-se a outros e não a Jesus e
ocorrem em: Luc. 7:12; 8:42;
9:38; Heb. 11:17.
II - O significado
de Monogenes.
1 –
Linguisticamente: monogenes vem de monos + genes (um, único, espécie, categoria) = o único da espécie ou
categoria; ou de monos (o único)
= ginomai
(que é Ginomai vem do verbo gennaw que quer dizer: gerar, ser).
2 –
Significado dado pelo Léxico ou eruditos.
a)
Liddell e Scott, A Greek-English Lexicon (1940),
definem monogenes como sendo “o único
membro de sua espécie”, daí, “único”, “peculiar”, e a possibilidade de
“unigênito” não é nem mencionada. (Vol. II,
p. 1144).
b) Moulton e
Milligan, The Vocabulary of the Greek
Testament, (1932), p. 416.
Monogenes significa “um de uma
espécie”, “único”, “peculiar”, e a
possibilidade de “unigênito” não é possível, pois então, deveria ser monogennetos e não monogenos
no original.
c)
H. Cremer, em Biblical Tehological
Lexicon of the N. T. Greek, acrescenta que monogenes indica preciosidade e algo estimado, porque é raro,
único, peculiar, etc. ...
d) Schmidt e Kattembusch, em A Dictionary of Christ and the Gospels,
(1908), p. 281, V. II, declaram que monogenes é meramente uma forma mais completa de monos.”
e) O artigo de Friedrich Buechsel no Theological Dictionary of the New Testament, de Kittel, é uma
clássica exposição do significado teológico e linguístico de monogenes. Veja Vol. IV, pp.
745-750.
3 – Na LXX
(283 A. C.) é uma tradução do hebraico para o grego. Qual é a palavra
hebraica que foi traduzida para o grego monogenes?
Que palavra está atrás de monogenes
no original hebraico? É a palavra yachid que
quer dizer, “único”.
a) Salm. 22:20 –
“minha predileta”. Na margem = heb.
Única. Algo
precioso.
b) Salm. 25:16 –
“solitário”.
c) Salm. 35:17 –
“predileta”. Na margem, heb. Única.
d) Salm. 68:6 –
“solitário”.
Está claro que monogenes
e yachid não tem nada que ver com
unigênito. O significado é: único, solitário, só, predileto.
III – O uso de monogenes
em passagens não Joaninas.
É significativo que em cada caso a palavra monogenes denota a relação de um único
filho com seus pais.
1 – Luc. 7:12. O filho da viúva de Naim é chamado “único” (monogenes) de sua mãe. Aqui o mesmo monogenes de João 3:16 é traduzido por
único. O patético na história não é que ele foi gerado, pela sua mãe, mas a
tragédia era que ele era o filho único. Aqui monogenes claramente significa o único que ela tinha, o único em existência.
2 – Luc. 8:42. A filha de Jairo é dito ser “única” (monogenes) “filha”. A ênfase é que ela
era a única de sua espécie, ou ela era a única filha ou a única criança na casa
de Jairo.
3 – Luc. 9:38. O
menino lunático é declarado ser o único filho. Aqui o gerado não é o problema.
O patético da história é que ele era o único de sua espécie ou categoria.
4 – Heb. 11:17.
Abraão oferece o seu unigênito. Isaac realmente não era nem o primogênito de
Abraão, nem o seu filho único. Ismael precedera-o. Isaac era o filho único no
sentido de que ele era o único herdeiro segundo a promessa de Deus. Nisto ele
era o único, de categoria ou espécie.
Conclusão: ( 1 ) até
aqui do ponto de vista filológico e dos Léxicos, chegamos a conclusão de monogenes ou yachid significam basicamente: único, só, solitário, predileto,
único de sua espécie. ( 2 ) Nas passagens extra Joaninas monogenes é usado da mesma maneira, significando: único, só,
precioso, predileto, único de sua espécie. Por que não podemos aplicar este
significado a Jesus? Esta é a maneira como monogenes
é usado no V. T. e N. T.
IV – O uso de monogenes
nos escritos Joaninos.
João emprega monogenes
para mostrar que Jesus é o único ( 1 ) Salvador dos homens, ( 2 ) e Revelador de Deus.
A revelação de S. João, em dois capítulos vemos que enfatizam
a Divindade de Jesus ou a singularidade do Filho de Deus, desenvolve a dupla
missão de Cristo apresentada em I João
4:9-10.
( 1 ) Primeiramente nos é dito que o Filho de Deus é único,
singular, revelador de Deus (João 1:14,
18). O tema do Prólogo (1:1-18) do Evangelho de S. João é Jesus, o Revelador de
Deus.
a) O verbo (Logos) se fez carne (I João 1:14) no
milagre da encarnação. Mas Logos não
somente se fez carne, Ele era DEUS desde toda a eternidade (João 1:1). João não
cansa de dizer que o Pai enviou o Seu Filho (João 12:44; 13:20;
20:21), e que Jesus veio, ao mundo (João
1:11; 5:43; 6:38;
8:14; 10:10; 12:27, 46;
16:27). Jesus declara que Ele não só era antes de Abraão, mas Ele
declara ser o “Eu Sou”, o contínuo agora.
b) A
manifestação histórica do Verbo encarnado: “e habitou entre nós” João 1:14. O Logos, agora encarnado, viveu entre os
homens e , mostrou-nos o que Deus é, e o que Deus deseja que o homem seja.
c) O caráter do Verbo “cheio de
graça e verdade” João1:14.
d) A
experiência pessoal com o Verbo: “...nós vimos a Sua glória, como a glória
...” João 1:14.
Na conclusão do Prólogo, João 1:18, João declara duas
verdades: que Deus é invisível e que Deus foi revelado ou manifestado
visivelmente na pessoa de Seu único Filho.
A Segunda coisa salientada por monogenes é que o Filho de Deus é o único Salvador do homem. Nas
passagens restantes onde aparece monogenes,
(João 3:16,18; João 4:9) o tema é a
redenção do homem por Deus através de Seu único Filho.
Na
conversação de Jesus com Nicodemos, João 3,
Jesus empregou 6 vezes o verbo gennaw
para descrever o início da vida espiritual; nascido ou gerado por Deus. Nos
escritos de João o verbo gennaw
(gerar) ocorre 17 vezes, e é usado para descrever o ato divino da salvação pelo
qual os homens se tornam filhos de Deus.
Os homens, portanto, são “filhos de Deus gerados”.
Consequentemente, unigênito (o único gerado) não é a tradução correta para monogenes. Pois de acordo com as
ponderações acima, Jesus não pode ser o único “gerado” Filho de Deus. Monogenes, não quer dizer o “único
gerado”, mas sim a singularidade do Filho de Deus. Ficou provado anteriormente
que monogenes não tem a conotação de
“gerar” mas simplesmente significa, único, singular, só, único de sua espécie,
raro, precioso, predileto.
Deve ser lembrado ainda que os escritos Joaninos reservam não
somente monogenes ao Filho de Deus,
mas também o substantivo “huios” ,
(filho). Quando João se refere a relação do crente com o Pai, o termo empregado
é “tekna”, (filho, criança).
Concluindo podemos dizer que monogenes, isto é, o significado de monogenes, está ligado à existência Pessoal de Jesus, sua
singularidade, única em sua categoria, e não está ligada à “geração do Filho”.
A grande simplicidade da idéia original da palavra monogenes foi perdida através dos tempos.
V – A tradução de um termo
Diante do que foi discutido, alguém poderia perguntar: Como
“unigênito” penetrou na Bíblia e ali permanece até hoje, a despeito de todas as
evidências? Esta pergunta queremos responder agora .
Na Catedral de Vercelli, Itália, está o mais notável
manuscrito latino (Latim Antigo), Codex
Vercellensis, provavelmente escrito em 365 A.D. por Eusébio, Bispo de
Vercelli. Neste documento, que contém os Evangelhos, a palavra monogenes em João 1:14, 18; 3:16, 18;
é traduzida pela palavra latina unicus
(único), e não “unigênito” (único gerado). A importância desta tradução do
Evangelho de João é evidente quando se é lembrado que Jerônimo (347-420 A.D.)
veio de Constantinopla a Roma em 382 A.D., e à pedido do Papa Damasco, Jerônimo
ocupou-se com a revisão das versões das Escrituras no Latim Antigo.
A revisão dos Evangelhos apareceu em 383 A.D., e após a morte
do Papa Damasco em 384 A.D., Jerônimo foi à Palestina em 385 A.D. para completar
a sua revisão, que se tornou a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana, a
Vulgata Latina. Jerônimo, em sua Vulgata, mudou o unicus de João 1:14, 18;
3:16, 18; das versões do Latim
Antigo para unigenitus (único
gerado). Um exame mais minucioso dos Manuscritos do Latin Antigo, que estão
convenientemente registrados no Novum
Testamentum Latinae, por Wordsworth e White, indica que Jerônimo fez as
mudanças acima (João 1:14, 18; 3:16, 18)
e mais as de unicus para unigenitus em I João 4:9 e Heb. 11:17,
por interesse ou vantagem para o dogma eclesiástico. Estudo lingüístico não
forçou a mudança pois Jerônimo deixou unicus
como a tradução de monogenes em Luc.
7:12; 8:42; 9:38,
onde nenhuma questão teológica estava envolvida.
Epifânio (315-403), bispo de Constância, Chipre, foi um
violento opositor de toda forma de heresia, especialmente àquelas que diziam
respeito à pessoa de Cristo. No fim de sua obra Ancoratus, (374 A.D.),
escrita à pedido de vários presbíteros da Panfília, Epifânio dá dois credos como
um resumo do ensino ortodoxo sobre o Espírito Santo. O segundo credo contém a
significativa frase gernethenta ek theou
patros monogene (o único Filho gerado pelo Pai).
Jerônimo, também um advogado do credo Niceiano, foi tentado a
ler unigenitus em vez de unicus em João 1:14, 18; I João 4:9;
Heb. 11:17. Estes fatos podem ser verificados facilmente em Philip
Schaff, The Creeds of Christendom,
vol. II, p.35. Além disso, o quadro comparativo da gradual formação do Credo
Apostólico, segundo Schaff, revela que a palavra unigenitum como tradução latina de monogenes ocorre apenas com Agostinho (400 A. D.) e no Sacramentarium Gallicanum (750 A. D.), e
que o último texto do Credo Ocidental (750 A. D.) tinha unicum, e não unigenitum.
Mesmo Agostinho primeiramente diz unicum,
Phillip Schaff, op. cit., p. 52.
Entre o Concílio de Nicéia (325 A. D.) e o Concílio de
Calcedônia (451 A. D.), justamente quando Jerônimo estava escrevendo, a
Vulgata, havia uma controvérsia na Igreja Cristã em torno das palavras
“gerado”e “não feito”, e os defensores da ortodoxia usaram a palavra “unigenitum”. Por que usaram unigenitum? Em que outro sentido foi
usada esta palavra? Eles não queriam salientar o início de Jesus, mas estavam
interessados em mostrar que o “gerador” (Pai) e o “gerado” Filho tinham a mesma
essência, ou possuíam a mesma natureza. Unigenitus
foi usado para salientar a divindade de Jesus.
Devia ser acrescentado que Jerônimo em Constantinopla, antes
de partir para Roma em 382 A. D., foi grandemente influenciado, pelas
exposições de Gregório Naziazeno, um defensor ardoroso do Credo Niceano.
Naziazeno falou do Pai como o gerador e do Filho como o gerado; e isto lança
luz, pelo menos em parte, sobre a razão teológica que levou Jerônimo a traduzir
monogenes como unigenitus. Jerônimo fez a tradução por interesse de dogma. Onde
não estava em jogo a questão teológica, Jerônimo deixou unicus.
Da
Vulgata Latina a tradução único gerado (unigênito) passou para a King James Version (1611), a English Revised Version (1881) e outras
traduções, com poucas exceções, até que o erro foi removido no Twentieth Century New Testament (1898).
Surpreendentemente o N. T. da American
Standart Version (1900) continuou com o erro, bem como Worrell (1904), Improved
Edition (1912), Berkeley Version
(1945), Swann (1947), e traduções
católicas da Vulgata Latina. A tradução Rotherham
(1878) não satisfeita com o erro de Jerônimo em João 1:14, 18; 3:16, 18;
I João 4:9; Heb. 11:17, fez o
erro completo ao traduzir monogenes
como unigênito também em Luc. 7:12;
8:42; 9:38. Fenton (1903) corrige
o erro em João 1:14, 18; Heb. 11:17,
(aquele que é declarado ser nascido para cumprir as promessas), mas deixa o
erro em João 3:16, 18; I João 4:9.
Montgomery, (1924) uma tradução de
grande mérito, corrige o erro de Jerônimo em João 1:14; Heb. 11:17;
I João 4:9, mas deixa o erro, aparentemente sem razão, em João 3:16,
18; 1:18. Alguns Comentários, inclusive
A. T. Robertson, Word Picture of the New
Testament (1898) removeu o erro (Vol. V, pp. 13, 424), mas preserva-o em
alguns lugares (Vol. V, pp.
50-52; Vol. VI, p. 232). Depois do The Twentieth Century New Testament
(1898) ter removido o erro completamente do N. T., outras traduções fizeram o
mesmo; Weymouth (1902), Moffat
(1922), Ballantine (1923), Goodspeed
(1923), Torrey (1933), Williams (1936), The
New Testament in Basic English (1941), e Phillips (1948-1952).
Alguém comentou aqui no Blogg (meus comentários estarão dentro do []): "P/ entendermos a verdade sobre a Filiação de Jesus Cristo em relação a Deus, basta olharmos p/ Adão e Eva [???? Criaturas comparadas ao criador?? Já começou errado], pois embora ambos sejam iguais [em nenhum lugar na Bíblia se diz que Adão e Eva eram iguais. Diz sim, que ambos eram uma só carne, mas não iguais... mais uma confusão], Eva foi tirada da costela de Adão, assim tb Jesus Cristo foi tirado do seio do Pai, ou seja, emanou, nasceu, "saiu de dentro" do Pai..." [Onde está escrito isso??? Onde se diz que Jesus "emanou do Pai? De que parte do corpo do Pai Jesus saiu? Da costela? O nome dessa heresia da "emanação" é GNOSTICISMO. Parece-se muito com a teoria do Big Bang: O cientista diz: "O universo veio de uma explosão!" Aí pergunta-se: "Como você sabe? você estava lá? você viu? Tem como provar?" Resposta: "Não. Mas foi assim que ocorreu!". O amigo diz que Jesus emanou do Pai, que de uma parte do Pai Jesus foi criado. Pergunta-se: "Onde está escrito isso? Você viu? Estava lá? Existe apoio bíblico para essa teoria?" Resposta: "Não. Mas foi assim que aconteceu. É só olhar Adão e Eva". Que argumento falacioso...
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