No Calvário, praticamente todos rejeitaram a Jesus. Somente uns
poucos reconheciam quem, realmente Ele era. Dentre estes um ladrão — igualmente
sendo executado — dirigiu-se a Cristo como "Senhor" ( Luc. 23:42); e
um soldado romano reconheceu: "Verdadeiramente este homem era Filho de
Deus!" (Mar. 15:39).
Quando João, referindo-se a Jesus, escreveu: "Veio para o que
era Seu, mas os Seus não O receberam" (João 1:11), suas palavras possuíam
aplicação não apenas para a multidão ali reunida, e não somente para a nação
israelita, mas efetivamente para todo o mundo, ao longo de todos os tempos. Exceto
um pequeno punhado, todos fracassaram em reconhecê-Lo como Deus e Salvador.
Este fracasso, o maior e mais trágico que o homem pode experimentar, mostra
que o conhecimento que a humanidade possui de Deus é radicalmente deficiente.
O Conhecimento de
Deus
As numerosas teorias que explicam ou
definem a Deus e os muitos argumentos que tentam provar ou negar a Sua existência, constituem evidências de que a
sabedoria humana é por si própria insuficiente para penetrar no terreno do
divino. Depender tão-somente da sabedoria humana para aprender acerca de Deus,
é como utilizar uma lupa com o intuito de estudar as constelações. Portanto,
para muitos a sabedoria de Deus é uma sabedoria "em mistério" (I
Cor. 2:7). Para estes Deus continua sendo um
mistério. A respeito dessa sabedoria divina disse Paulo que "nenhum dos
poderosos deste século conheceu; porque se a tivessem conhecido, jamais teriam
crucificado o Senhor da glória" (I Cor. 2:8).
Um dos mais básicos mandamentos das Escrituras é "amarás a Deus de
todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento" (Mat.
22:37; cf. Deut. 6:5). Não podemos amar alguém a respeito de quem nada
conhecemos; por outro lado, não poderemos descobrir as coisas profundas de Deus
através de investigação (Jó 11:7). Assim, de que modo poderemos conhecer e
amar o Criador?
Deus Pode Ser Conhecido. Conhecendo a situação humana, Deus — em Seu amor e
compaixão — procurou fazer chegar à raça humana a Sua revelação especial, a
Bíblia, que abre diante de nós as possibilidades para conhecê-Lo. Ela revela
que "o cristianismo não constitui um registro da pesquisa do homem em
busca de Deus; é o produto da revelação que Deus faz de Si mesmo e de Seus
propósitos para o homem".1 Esta auto-revelação destina-se a
cobrir o abismo cavado pelo mundo em sua rebelião contra um Deus amorável.
Através das Escrituras Deus provê a certeza de que é possível conhecê-Lo.
Nela Ele manifesta Seu mais amplo amor por intermédio de Sua suprema revelação,
Jesus Cristo, Seu Filho. Jesus salienta que a chave para a vida eterna se acha
no conhecimento de Deus: "E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). A
Bíblia também garante que a pessoa pode conhecer a Deus e que Jesus é o
caminho para semelhante conhecimento, ao dizer: "Também sabemos que o Filho
de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro;
e estamos no verdadeiro, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e
a vida eterna" (IJoão
5:20).
Muito boa esta notícia de que o ser humano pode conhecer a Deus. Isto
significa que é possível desenvolver um relacionamento pessoal
com Ele. Ainda assim, cumpre reconhecer que é impossível obter um conhecimento completo e perfeito de
Deus. As Escrituras revelam um conhecimento de
Deus que é muito prático. Trata-se de um conhecimento perfeitamente adequado a
quem deseja alcançar a vida eterna.
Como Obter o Conhecimento de
Deus. Verdadeira compreensão de Deus é mais um assunto do coração
humano do que de seu cérebro. Envolve a pessoa como um todo, e não apenas o intelecto.
Deve-se permitir ampla entrada ao Espírito Santo e manifestar plena
disposição de aceitar a vontade de Deus (João 7:17; cf. (Mat. 11:27). Disse
Jesus: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus" (Mat.
5:8). Descrentes não poderão, portanto, obter genuíno conhecimento de
Deus. Referindo-se à sabedoria dessas pessoas, Paulo exclamou: "Então, o
que acontece com esses sábios, esses eruditos, esses brilhantes comentaristas
das grandes questões mundiais? Deus fez com que todos eles parecessem
ridículos, e mostrou que a sua sabedoria é uma tolice inútil. Deus, em Sua
sabedoria, providenciou para que o mundo nunca encontrasse a Deus através da inteligência
humana. E então Ele Se manifestou e salvou todos quantos creram em Sua mensagem
— essa mesma que o mundo tacha de absurda e ridícula" (I Cor. 1:20 e 21, O Novo Testamento Vivo).
O modo como adquirimos o conhecimento de Deus a
partir da Bíblia, é diferente de todos os
outros métodos de aquisição de conhecimento. Não podemos colocar-nos acima de
Deus, tratando-O como um objeto capaz de ser analisado e quantificado. Aquele
que se propõe a obter conheci-mento de Deus, deve colocar-se sob a jurisdição
de Sua auto-revelação — a Bíblia. Uma vez que a Bíblia interpreta a si própria,
devemos sujeitar-nos aos princípios e métodos que ela provê. Sem estes parâmetros
bíblicos, não podemos conhecer a Deus.
Por que tantas pessoas dos dias de Cristo
fracassaram em ver a auto-revelação de Deus em Jesus? Porque elas recusaram
sujeitar-se à orientação do Espírito Santo através das Escrituras,
interpretando erroneamente as mensagens de Deus e crucificando o Salvador. Seu
problema não era de ordem intelectual. Foi o endurecimento de seu coração que
lhes obscureceu a mente, resultando em perda eterna.
A Existência de Deus
As Escrituras salientam o fato de que as
evidências para a existência de Deus podem ser obtidas tanto a partir da Criação
quanto a partir da Bíblia.
Evidências na
Criação. Deus revelou Sua existência a todos os seres humanos. Ele pode ser
conhecido através da Natureza e da experiência humana. Davi escreveu: "Os
Céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas
mãos" (Sal. 19:1). João indicou que a revelação de Deus ilumina a todo
aquele que a contempla (João 1:9). Paulo, a seu turno, disse que "os
atributos invisíveis de Deus, assim como o Seu eterno poder como também a Sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo,
sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas" (Rom. 1:20).
Evidências no Homem. Evidências da
existência de Deus podem igualmente ser observadas no comportamento humano. Na
prática religiosa dos atenienses que adoravam o "Deus desconhecido",
Paulo percebeu evidências de crença em Deus. Ele disse: "Esse que adorais
sem conhecer, é precisamente Aquele que eu vos anuncio" (Atos 17:23).
Paulo observou também revelações de Deus na consciência de não-cristãos. Sua
forma de conduzir-se, disse o apóstolo, revela o testemunho de sua
"consciência" e mostra que o amor de Deus se acha gravado "em
seus corações" (Rom. 2:14 e 15).
Essas revelações divinas são responsáveis pela
ideia intuitiva de Deus que prevalece entre aqueles que não possuem acesso à
Bíblia.
Ao longo dos anos, a revelação geral de Deus, que
se acha disponível a todas as pessoas, fez surgir considerável número de
argumentos racionais em favor da existência de Deus.2
Evidências das
Escrituras. A Bíblia não prova a existência de Deus; ela assume que
assim ocorre. O texto inicial das Escrituras declara: "No princípio criou
Deus os Céus e a Terra" (Gên. 1:1). Aqui Deus é descrito como
Criador, Sustentador e Legislador de toda a Criação. Destaca ainda a Bíblia que
a revelação divina, através da criação, é tão vigorosa que não resta margem de
excusa para a descrença ou mesmo o ateísmo. Este último resulta
de uma persistente supressão da verdade divina ou da depravação da mente que
se recusa a reconhecer a soberania de Deus (Sal. 14:1; Rom. 1:18-22 e 28).
As evidências da existência de Deus são
suficientes para convencer o indivíduo honesto. Não é de surpreender que a
Bíblia afirme ser a fé um pré-requisito para nos aproximarmos de Deus: "Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto
é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se
torna galardoador dos que O buscam" (Heb. 11:6). Embora a existência de
Deus deva ser aceita pela fé, não significa isso que ela deve repousar sobre
uma fé cega. Baseia-se antes em evidências razoáveis e adequadas, que podem ser
encontradas em ambas as revelações de Deus — através das Escrituras e através
da Natureza.
O Deus das Escrituras
A Bíblia revela de vários modos as qualidades
essenciais de Deus. Consideraremos, a seguir, de que modo Deus é revelado
através de Seus nomes, Suas atividades, e pelos atributos a Ele associados
pelos autores bíblicos.
Os Nomes de Deus. Os nomes desempenham
importante papel nas Escrituras, o que aliás acontece ainda hoje no Oriente
Próximo e no Extremo Oriente. Nesses lugares, o
nome revela o caráter de seu possuidor, sua verdadeira natureza
e identidade. Portanto, o nome de Deus representa importante aspecto
na revelação de Seu caráter, natureza e qualidades, para os seres humanos.
A importância do nome de Deus pode ser observada
em numerosos textos. O próprio Deus declara: "Não tomarás o nome do
Senhor teu Deus em vão" (Êxo. 20:7). Davi cantou: "Renderei graças ao
Senhor... e cantarei louvores ao nome do Senhor Altíssimo" (Sal. 7:17).
"Santo e tremendo é o Seu nome" (Sal. 111:9). "Louvem o nome do
Senhor, porque só o Seu nome é excelso" (Sal. 148:13).
Os nomes hebraicos de Deus, tais como El e Elohim ("Deus")
revelam o Seu divino poder. Retratam a Deus como o Todo-poderoso, o Deus da
criação (Gên. 1:1; Êxo. 20:2; Dan. 9:4). Elyon
("Altíssimo") e El Èlyon focalizam o elevado ou exaltado status
divino (Gên. 14:18-20; Isa. 14:14). Adonai
("Senhor") retrata a Deus como o Legislador Poderoso (Isa. 6:1;
Sal. 35:23). Todos estes nomes enfatizam o majestoso e transcendental caráter
de Deus.
Outros nomes podem, às vezes, revelar a Deus como
Alguém que deseja entrar em relacionamento com Seu povo. Shaddai e El Shaddai identificam o Deus Todo-poderoso, a fonte de toda bênção e conforto (Êxo. 6:3; Sal. 91:1). O
nome Yahweh,3 também traduzido
como Jeová ou Senhor, salienta a fidelidade e graça de Deus na manutenção do
concerto (Êxo. 15:2 e 3; Osé. 12:5 e 6). Em Êxo. 3:14, Yahweh descreve a
Si próprio como "Eu sou o Que Sou" ou "Eu Serei Aquilo
Que Serei", indicando a inalterabilidade do relacionamento que Ele mantém
com Seu povo. Em certas ocasiões Deus até mesmo Se revelou de modo mais íntimo
como "Pai" (Deut. 32:6; Isa. 63:16;
Jer. 31:9; Mal. 2:10) no momento em que identifica Israel como "Meu filho,
o Meu primogênito" (Êxo. 4:22; cf. Deut. 32:19).
Os nomes neotestamentários de Deus possuem
significados equivalentes, exceto a palavra "Pai". Jesus atribuiu a
esta palavra um significado pessoal mais profundo, tendo em vista levar os
indivíduos crentes a um relacionamento íntimo e pessoal com o Deus, que
é o seu Pai (S. Mat. 6:9; S. Mar. 14:36; cf. Rom. 8:15; Gál. 4:6).
As
Atividades de Deus. Os autores bíblicos ocupam-se mais tempo em descrever o
que Deus faz do que em dizer o que Ele é. Deus é apresentado como Criador (Gên. 1:1; Sal. 24:1 e 2) e como Sustentador do mundo (Heb. 1:3). Ele é também Redentor e Salvador
(Deut. 5:6; II Cor. 5:19), que carrega sobre Si
o fardo do destino último da humanidade. Ele estabelece planos (Isa.
46:11), faz predições (Isa. 46:10), concede promessas (Deut.
15:6; II S. Ped. 3:9) e perdoa pecados
(Êxo. 34:7). Consequentemente, Ele é digno de
adoração (Apoc. 14:6 e 7). Finalmente, as Escrituras revelam a Deus como
Legislador, "Rei eterno, imortal, invisível, Deus
único" (I Tim. 1:17). Estas ações
confirmam o conceito de que Deus é um Deus pessoal.
Os
Atributos de Deus. Os autores bíblicos providenciaram informações adicionais
no tocante à essência de Deus através de seus testemunhos quanto aos atributos
divinos, tanto comunicáveis quanto incomunicáveis.
Os atributos incomunicáveis incluem alguns
aspectos da natureza divina de Deus, os quais não podem ser concedidos a seres
criados. Deus possui "vida em Si próprio" (João 5:26); portanto é
Auto-existente. Ele possui vontade independente (Efés. 1:5) e poder próprio
(Sal. 115:3).
Deus é Onisciente,
pois conhece todas as coisas (Jó 37:16; Sal. 139:1-18; 147:5; IJoão 3:20); na qualidade de Alfa e Ômega (Apoc. 1:8), Ele
conhece o fim desde o princípio (Isa. 46:9-11).
Deus é Onipresente
(Sal. 139:7-12; Heb. 4:13), e assim transcende todo o espaço. Logo, Ele Se
encontra presente de modo pleno em cada região do espaço. Ele é eterno (Sal.
90:2; Apoc. 1:8), e assim transcende os limites do tempo, estando plenamente
presente em todos os momentos do tempo.
Deus é Onipotente -
plenamente poderoso - e pode realizar tudo aquilo que deseja; nada Lhe é
impossível (Dan. 4:17, 25 e 35; S. Mat. 19:26; Apoc. 19:6).
Ele também é imutável,
uma vez que é perfeito. Ele diz: "Eu, o
Senhor, não mudo" (Malaq. 3:6; veja Sal. 33:11; S. Tia. 1:17). Estes
atributos não podem ser comunicados porque, em certo sentido, eles definem a
Deus.
Os atributos comunicáveis de Deus resultam de Seu
amorável interesse pela humanidade. Ele concede amor
(Rom. 5:8), graça (Rom. 3:24), misericórdia (Sal. 145:9), longanimidade (II Ped. 3:15), santidade (Sal. 99:9), justiça
(Esd. 9:15; João 17:25), galardão (Apoc.
22:12) e verdade (I João 5:20). Estas qualidades divinas aparecem à medida
que Deus doa a Si próprio. Esses dons, contudo, não podem ser recebidos sem que
se receba o próprio Doador.
A Soberania de Deus
A soberania de Deus é claramente ensinada nas
Escrituras. "Segundo a Sua vontade Ele opera... Não há quem Lhe possa
deter a mão (Dan. 4:35). "Porque todas as coisas Tu criaste, sim, por
causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas" (Apoc. 4:11).
"Tudo quanto aprouve ao Senhor, Ele o fez, nos Céus e na Terra" (Sal.
135:6). Desse modo Salomão pôde dizer: "Como ribeiros de água, assim é o
coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o Seu querer, o inclina"
(Prov. 21:1). Paulo, estando cônscio da soberania de Deus, escreveu: "Se
Deus quiser, voltarei para vós outros" (Atos 18:21; veja Rom. 15:32); ao
mesmo tempo, Tiago admoesta: "Devíeis dizer: 'Se o Senhor quiser' "
(Tia. 4:15).
Predestinação e Liberdade Humana.
A
Bíblia revela o pleno controle de Deus sobre o mundo. Ele
"predestinou" pessoas "para serem conformes à imagem de Seu
Filho" (Rom. 8:29 e 30), para serem
adotadas como Seus filhos e para obterem a herança (Efes. 1:4, 5 e 11). O que
representa tal soberania para a liberdade humana?
O verbo predestinar significa
"determinar antecipadamente". Alguns entendem que essas passagens
ensinam que Deus elegeu arbitrariamente alguns para a salvação e outros para a
perdição, sem considerar as escolhas dessas pessoas. Mas o estudo do contexto
de tais passagens mostra que Paulo não está falando de um Deus que
caprichosamente exclui a quem quer que seja.
O impulso desses textos é inclusivo. A
Bíblia declara, sem rodeios, que Deus "deseja que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Tim. 2:4). Ele não quer que qualquer pessoa "pereça,
senão que todos cheguem ao arrependimento" (II Ped. 3:9). Não existe qualquer evidência de que Deus decretou que algumas
pessoas devam perder-se; semelhante decreto seria uma negação do Calvário,
onde Jesus morreu em favor de todos. A expressão todo aquele no
conhecido texto de João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele que nEle crê não pereça,
mas tenha a vida eterna" significa que qualquer pessoa pode salvar-se.
"Que a livre vontade humana é o fator
determinante em seu destino pessoal, torna-se evidente pelo fato de que Deus
continuamente apresenta os resultados da obediência e da desobediência, e
insiste em que o pecador escolha a obediência e a vida (Deut. 30:19; Jos.
24:15; Isa. 1:16-20; Apoc. 22:17); e do fato de que é possível ao crente que
uma vez foi recipiente da graça, cair dela e vir a perder-se (I Cor. 9:27; Gál. 5:4; Heb. 6:4-6; 10:29)....
"Deus pode ver antecipadamente todas as
decisões individuais que serão tomadas, mas em Sua presciência Ele não determina
quais devem ser estas escolhas.... A predestinação bíblica consiste no efetivo
propósito de Deus, de que todos aqueles que crerem em Cristo sejam salvos (João
1:12; Efes. 1:4-10)."4
Assim, pois, o que deseja dizer a Escritura quando
afirma que Deus amou Jacó e aborreceu Esaú (Rom. 9:13), e que Ele endureceu o
coração de Faraó (vs. 17-18; confira com os versos 15-16, e com Êxo. 9:16;
4:21)? O contexto dessas passagens mostra que o interesse de Paulo é pela
missão, e não pela salvação. Redenção acha-se disponível para todos - mas Deus
escolheu determinadas pessoas para responsabilidades especiais. A salvação
achava-se igualmente disponível para Jacó e Esaú, mas Deus escolheu Jacó - e
não Esaú - para constituir a linhagem por intermédio da qual Ele haveria de
enviar a mensagem de salvação ao mundo. Deus exerceu soberania em Sua
estratégia missionária.
Quando a Escritura afirma que Deus endureceu o
coração de Faraó, está atribuindo a Deus o crédito por aquilo que Ele meramente
permite, e não a responsabilidade de uma ordem Sua para que aquilo ocorra. A
negativa de Faraó em responder aos apelos de Deus, serve, na verdade, para
ilustrar o respeito de Deus pela liberdade de escolha das pessoas.
Conhecimento Antecipado e
Liberdade Humana. Alguns crêem que Deus Se relaciona com as pessoas sem
efetivamente conhecer as suas decisões até que elas tenham sido tomadas; que
Deus conhece certos eventos futuros, tais como o Segundo Advento, o milênio e
a restauração da Terra, mas não tem ideia de quais serão as pessoas salvas.
Estas pessoas sentem que as dinâmicas relações de Deus com a raça humana
estariam em perigo se Ele conhecesse tudo aquilo que transpira de eternidade a
eternidade. Alguns sugerem que Ele Se sentiria entediado se conhecesse o fim
desde o princípio.
Mas o conhecimento divino a respeito daquilo que
os homens irão fazer, não interfere com as suas decisões efetivas em maior
grau do que o conhecimento que um historiador possui dos atos passados das
pessoas interfere naquilo que elas fizeram. Da mesma forma como uma câmera
registra as cenas mas não interfere nelas, o conhecimento antecipado de Deus
penetra o futuro sem alterá-lo. A presciência de Deus jamais viola a liberdade
humana.
Dinamismo Interno da Divindade
Porventura existe apenas um Deus? O que dizer de
Cristo e do Espírito Santo?
A Singularidade de
Deus. Em contraste com o paganismo das nações circunvizinhas, Israel cria na
existência de um Deus único (Deut. 4:35;
6:4; Isa. 45:5; Zac. 14:9). O Novo Testamento estabelece a mesma ênfase quanto
à unidade de Deus (Mar. 12:29-32; João 17:3; I Cor.
8:4-6; Efes. 4:4-6; I Tim. 2:5). Esta ênfase monoteísta não contradiz o conceito cristão
de um Deus triúno ou Trindade - Pai, Filho e
Espírito Santo; em vez disso, enfatiza que não existe um panteão com várias
deidades.
A Pluralidade
Interna da Divindade. Embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente que
Deus é triúno, ele alude à pluralidade interna da Divindade. Por vezes Deus utiliza
pronomes e verbos no plural, tais como nestas expressões: "Façamos o homem
à nossa imagem e semelhança" (Gên. 1:26); "Eis que o homem se
tornou como um de nós" (Gên. 3:22); "Vinde, desçamos e confundamos
ali a sua linguagem" (Gên. 11:7). Por vezes o Anjo do Senhor é
identificado com Deus. Tendo aparecido a Moisés, o Anjo do Senhor disse:
"Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de
Jacó" (Êxo. 3:6).
Várias referências distinguem o Espírito de Deus
do próprio Deus. Na história da Criação, lemos que "o Espírito de Deus
pairava por sobre as águas" (Gên. 1:2). Alguns textos não apenas
fazem referência ao Espírito, como também incluem uma terceira pessoa na obra
redentora de Deus: "Agora o Senhor Deus [Deus Pai] Me enviou a Mim [o
Filho de Deus] e o Seu Espírito [o Espírito Santo]" (Isa. 48:16);
"Pus [Deus Pai] sobre Ele [o Messias] o Meu Espírito [Espírito Santo], e
Ele promulgará o direito para os gentios" (Isa. 42:1). [Ver tbm
Isa. 63:7-10].
O Relacionamento
Interno da Divindade. O primeiro advento de Cristo nos provê alguns lampejos
mais claros a respeito do Deus triúno. O evangelho de S. João revela que a Divindade
consiste em Deus Pai (veja o terceiro capítulo desse livro), Deus Filho
(capítulo 4) e Deus Espírito Santo (capítulo 5), uma unidade de três pessoas
coeternas que se inter-relacionam de forma única e misteriosa.
1. Relacionamento amorável. No momento em que Jesus
exclamou: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" (Mar.
15:34), sofria Ele o afastamento de Seu Pai, que o pecado causara. O pecado
rompeu o relacionamento original da humanidade com Deus (Gên. 3:6-10; Isa.
59:2). Em Suas últimas horas antes da cruz, o Salvador, que por Si mesmo não
conhecia o pecado, tornou-Se pecado por nós. Ao assumir nosso pecado e nosso
lugar, experimentou Ele a separação do Pai que representava a nossa sorte, e,
consequentemente, pereceu.
Os pecadores jamais compreenderão o que a morte de
Jesus representou para a Divindade. Desde a eternidade fora Ele um com o Pai e
o Santo Espírito. Eles haviam existido como coeternos, numa coexistência em que
Se ofereciam a Si próprios mutuamente em amor. Tendo estado juntos durante
tanto tempo, compreende-se o perfeito e absoluto amor que existia entre a
Divindade. "Deus é amor" (I João 4:8); isto significa
que cada uma das Pessoas vivia de modo tão completo para as demais, que Eles
experimentavam completa realização e felicidade.
O amor é definido em I Coríntios 13. Alguns poderão inter-rogar-se por que razão
as qualidades da longanimidade e da paciência seriam necessárias no
relacionamento interno da Divindade, uma vez que ali existia o mais perfeito
amor. A paciência tornou-se necessária pela primeira vez no tratamento com os
anjos rebeldes, e mais tarde no relacionamento com o indócil ser humano.
Não existe distância entre as pessoas da divindade
triúna. Todas elas são divinas, e assim compartilham seus poderes e qualidades
divinas. Nas organizações humanas, a autoridade final repousa sobre uma pessoa —
um presidente, rei, ou primeiro-ministro. Na economia da Divindade, a
autoridade final reside sobre todos os três membros.
Embora a Divindade não seja apenas uma Pessoa,
Deus é um em propósito, mente e caráter. Esta unicidade não oblitera as
personalidades distintas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tampouco a
existência destas personalidades separadas destrói o conceito monoteísta das
Escrituras, de que Pai, Filho e Espírito Santo são um único Deus.
2. Relacionamento Funcional. Dentro da Divindade
existe uma distribuição de funções. Deus não duplica desnecessariamente o
serviço. Ordem é a primeira lei do Céu, e Deus opera através de modos
ordenados. Esta organização parte da unidade interna da Divindade. O Pai
parece atuar como fonte, o Filho como mediador e o Espírito Santo como
atualizador ou aplicador.
A encarnação ilustra de modo perfeito o
relacionamento funcional entre as três pessoas da Divindade. O Pai entregou
Seu Filho. Cristo deu-Se a Si próprio e o Espírito Santo operou a concepção de
Jesus (João 3:16; Mat. 1:18,20). O testemunho do anjo a Maria indicou as
atividades dos três no processo misterioso em que Deus Se fez homem.
"Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com
a Sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho
de Deus" (Luc. 1:35).
Todos os membros da Trindade achavam-Se presentes
no batismo de Cristo: o Pai concedeu-Lhe estímulo (Mat. 3:17), Cristo
apresentou-Se a Si próprio para ser batizado e servir-nos de exemplo (Mat.
3:13-15) e o Espírito Santo deu-Se a Si mesmo para encher Jesus de poder (Luc.
3:21 e 22).
Aproximando-Se do fim de Seu ministério terrestre,
Jesus prometeu enviar o Espírito Santo como conselheiro ou ajuda-dor (João
14:16). Horas mais tarde, pendente da cruz, Jesus clamou a Seu Pai: "Deus
Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" (Mat. 27:46). Naqueles momentos
extremos e cruciais para a história da salvação, Pai, Filho e Espírito Santo
compuseram conjuntamente o quadro dramático.
Nos dias atuais, Pai e Filho chegam até nós
através do Espírito Santo. Jesus disse: "Quando, porém, vier o
Consolador, que Eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que
dEle procede, Esse dará testemunho de Mim" (João 15:26). O Pai e o Filho
enviaram o Espírito para que Este revelasse o Filho a cada pessoa. O grande
fardo que repousa sobre a Divindade é trazer a cada pessoa o conhecimento de
Deus e de Jesus Cristo (João 17:3) e tornar Jesus presente e real (Mat. 28:20;
cf. Heb. 13:5). Os crentes são eleitos para a salvação, diz Pedro,
"segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo" (I Ped. 1:2).
A bênção apostólica inclui as três Pessoas da
Divindade. "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão
do Espírito Santo sejam com todos vós" (II
Cor. 13:13).
Cristo aparece no início da lista. O ponto de contato de Deus com a humanidade
realizava-se, e ocorre ainda hoje, através de Jesus Cristo — o Deus que Se
tornou homem. Embora todos os três membros da Divindade trabalhem em conjunto
para a nossa salvação, somente Jesus viveu como homem, e tor-nou-Se o nosso
Salvador (João 6:47; Mat. 1:21; Atos 4:12). Uma vez, porém, que "Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (II Cor. 5:19), Deus também poderia ser designado como nosso
Salvador (cf. Tito 3:4), pois Ele nos salvou através de Cristo, o Salvador
(Efés. 5:23; Filip. 3:20; cf. Tito 3:6).
Em Sua distribuição interna de funções, diferentes
membros da Divindade executam tarefas distintas para a salvação do homem. O
trabalho do Espírito Santo não acrescenta coisa alguma à perfeição e eficácia
do sacrifício empreendido por Cristo na cruz. Através do Espírito Santo, a
propiciação obje-tiva efetuada no Calvário é aplicada subjetivãmente à medida
que o Cristo da propiciação é trazido para o íntimo do crente. E por esta razão
que Paulo fala de "Cristo em vós, a esperança da glória" (Col.
1:27).
A Salvação é o Foco
A igreja primitiva batizava as pessoas em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mat. 28:19). Uma vez, porém, que foi através
de Jesus que ocorreu a revelação do amor e do propósito de Deus, é nEle que a
Bíblia se centraliza. Ele é a esperança antecipada pelos sacrifícios e
festivais do Antigo Testamento. É Ele quem ocupa a posição central nos Evangelhos.
Ele representa as boas novas proclamadas pelos discípulos através de sermões e
de escritos - a Bendita Esperança. O Antigo Testamento dirige seu olhar para o
futuro, esperando-O; o Novo Testamento relata Seu primeiro advento e prossegue
olhando para o futuro, em direção a Sua segunda vinda.
Cristo, o Mediador entre Deus e o homem,
estabelece nosso vínculo de união com a Divindade. Jesus é "o caminho, a
verdade e a vida" (João 14:6). As boas novas acham-se centralizadas numa
Pessoa, e não apenas numa prática. Têm a ver com um relacionamento, não apenas
com regras — pois o cristianismo é Cristo. NEle encontramos o cerne, o conteúdo
e o contexto de todas as verdades e da vida.
Contemplando a cruz, conseguimos olhar o interior
do coração de Deus. Naquele instrumento de tortura, Ele derramou Seu amor por
nós. Através de Cristo, o amor da Divindade ocupa por completo nossos corações
doloridos e vazios. Jesus permaneceu ali pendurado como o Dom de Deus e nosso
Substituto. Na cruz do Calvário Deus desceu à Terra, ao ponto mais baixo
imaginável, a fim de encontrar-nos; mas este mesmo lugar representa o ponto
mais alto que nós podemos atingir. Quando nos aproximamos do Calvário, subimos
ao lugar mais alto possível em direção a Deus.
Na cruz a Trindade demonstrou a maior revelação de
altruísmo. Foi aquela a nossa mais elevada revelação de Deus. Cristo tornou-Se
homem a fim de morrer pela raça humana. Ele valorizou a auto-negação como sendo
mais valiosa que a auto-existência. Ali Cristo tornou-Se nossa "justiça, e
santificação, e redenção" (I Cor. 1:30). Qualquer que
seja o valor que tenhamos ou venhamos a ter, este provém do sacrifício que Ele
efetuou na cruz.
O único Deus verdadeiro é o Deus da cruz. Cristo
desvendou ao Universo o infinito amor e poder salvador de Deus; Ele revelou um
Deus triúno que Se dispôs a suportar a agonia da separação em virtude de Seu
amor incondicional por um planeta rebelde. Da cruz Deus proclamou o amorável
convite que nos dirige: devemos reconciliar-nos, "e a paz de Deus, que excede
todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo
Jesus" (Filip. 4:7).
Referências
1. Gordon R. Lewis, Decide for Yourself: A
Theological Workbook (Downers Grove, IL: Inter Varsity Press, 1978), pág.
15.
2. Trata-se
dos argumentos cosmológico, teleológico, ontológico, antropológico e religioso.
Veja,
por exemplo, T. H. Jemison, Christian Beliefs (Mountain View, CA:
Pacific Press, 1959), pág. 72; Richard Rice, The Reign of God (Berrien
Springs, MI: Andrews University Press, 1985), págs. 53-56. Estes argumentos não
provam a existência de Deus mas mostram que existe forte probabilidade de que
Deus exista. Em termos últimos, contudo, a crença na existência de Deus está
baseada na fé.
3. Yahweh representa uma "transliteração
conjectural" do sagrado nome de Deus no Antigo Testamento (Êxo. 3:14, 15;
6:3). O original hebraico continha quatro consoantes, YHWH. Com o decorrer do
tempo, receando profanar o nome de Deus, os judeus recusaram-se a pronunciar
em voz alta o sagrado nome. Em vez de fazé-lo, sempre que apareciam as
consoantes YHWH eles liam a palavra ADONAI. No sétimo ou oitavo século da era
cristã, quando as vogais foram acrescentadas às palavras hebraicas, os
massoretas supriram as vogais de Adonai às consoantes de YHWH. A combinação
resultou na palavra JEOVÁ. Outras versões bíblicas preferem manter o termo
YAHWEH, ou Senhor. (Veja Siegfried H. Horn, Seventh-day Adventist Bible Dictionary, edição
de Don F. Neufeld, edição revista [Washington. D. C: Review and Herald, 1979],
págs. 1192 e 1193).
4. "Predestination",
Seventh-day Adventist Encyclopedia, Don F. Neufeld, editor; edição
revista (Washington, D. C: Review and Herald, 1976), pág. 1144.
Fonte:
Nisto Cremos, Casa Publicadora
Brasileira, págs. 32-45
Nenhum comentário:
Postar um comentário