Dando
continuidade à postagem anterior sobre a Divindade de Cristo, vou agora
falar um pouco sobre o tema da Trindade, tão "bombardeado" atualmente
no meio Adventista, especialmente no Brasil. Apresentarei aqui apenas
uma parte de um artigo que publiquei, e que pode ser encontrado no
arquivo do ADVIR (clique aqui).
Há
algum tempo recebi uma correspondência enviada para várias igrejas,
dirigidas genericamente para líderes locais. O remetente destas cartas é
um movimento chamado de "Ministério 4 Anjos", que procura solapar na mente do Adventista a doutrina bíblica e racional da 3ª Pessoa da Trindade - o Espírito Santo.
O
pessoal do “Ministério 4 Anjos” tenta levar o pensamento dos leitores à
certeza de que Ellen White ensinou que tudo que os pioneiros diziam,
seja o que for, era uma verdade absoluta, incapaz de conter erros ou
concepções humanas.
Para tanto, eles começam a “pescar” algumas
citações de artigos escritos por ALGUNS destes pioneiros, como se tais
artigos representassem a fé geral dos Adventistas naquele tempo.
Interessante notar que eles só escolheram citações de pessoas que
condenavam a Trindade, pois certamente haviam outros PIONEIROS que
aceitavam esse ensinamento bíblico (mas é mais fácil ocultar parte da
verdade... e essa é uma tática do inimigo de Deus).
Todas as
citações escolhidas eram de datas bem remotas (1856, 1861, 1863, 1869).
Veja que são utilizados artigos publicados apenas alguns anos após o
surgimento da Igreja, que oficialmente só ocorreu em 1863. Neste período
o corpo de doutrinas ainda estava sendo formado, e não se pode dizer
que porque ALGUNS pioneiros tinham pensamento contrário ao ensinamento
bíblico sobre a Trindade, isto significa que esta era a voz de Deus para
Sua Igreja naquela época.
Ao longo dos primeiros anos, foram
muitos os pontos doutrinários que foram sendo alterados, pois os
pioneiros vinham de diferentes denominações religiosas (dentre elas a Conexão Cristã,
que era anti-trinitariana), e por isso ainda traziam uma “bagagem”
doutrinária que precisava ser deixada de lado. As orientações foram
progressivas, e no decorrer dos anos, diversos pontos errados foram
abandonados, e outros tomaram forma.
Eis alguns exemplos:
SÁBADO –
A grande maioria dos pioneiros não acreditavam na guarda do sábado,
pois vinham de denominações que desprezavam a lei de Deus e santificavam
o domingo. Quando Joseph Bates surgiu com esta mensagem da santidade do
sábado, muitos se opuseram, a princípio. Mas Deus orientou Sua Igreja
durante os anos de estudo da doutrina, e a mensagem do sábado foi aceita
e clarificada progressivamente, até tornar-se a torrente de luz que
conhecemos hoje.
PREGAÇÃO DO EVANGELHO – Os que
participaram da pregação de Guilherme Miller sobre a volta de Jesus, e
passaram pelo desapontamento de 1844, ainda demoraram certo tempo para
poderem compreender seu papel na pregação da verdade presente. Alguns
achavam que não necessitavam pregar para ninguém, pois a porta da graça
já estava fechada (entre estes estava a própria Ellen Harmon – que
depois do casamento se tornaria Ellen White – também cria dessa forma:
Tiago White, Joseph Bates, etc.); outros acreditavam que só deveriam
pregar entre os americanos, e por isso as atividades missionárias só
ocorreram alguns anos mais tarde, quando só então os missionários
começaram a cruzar os mares para levar a mensagem do Advento a outros
povos. Deus, ao longo do tempo, também precisou orientar Sua igreja
sobre este assunto. Esta teoria (chamada de “teoria da porta fechada” só
foi abandonada plenamente após 1849, quando Ellen White recebeu
iluminação especial sobre o tema. Os pioneiros estavam equivocados
também neste ponto, e se fôssemos aceitar TUDO que eles ensinaram e
escreveram, também deveríamos deixar de pregar para o mundo, ou melhor,
nem mesmo nós teríamos ouvido a mensagem, pois ela nunca deveria sair
dos Estados Unidos, conforme criam alguns NO COMEÇO.
TEMPERANÇA E REGIME ALIMENTAR –
É interessante observar que, NO COMEÇO, muitos dos pioneiros defendiam o
consumo abundante de carne de porco, uso do fumo, e hábitos alimentares
e físicos que muito comprometeram a saúde de alguns pioneiros daquela
época. Muitos morreram na flor da idade, por não se preocuparem com a
reforma de saúde ou hábitos temperantes do dia-a-dia. Somente em Junho
de 1863 foi que Ellen White recebeu uma visão mais detalhada sobre a
reforma de saúde, que seria a primeira de muitas outras que o Senhor
daria para orientar Sua Igreja. Também neste assunto foi necessário que o
Senhor conduzisse PROGRESSIVAMENTE Sua Igreja, para que ao longo do
tempo a reforça de saúde e temperança passasse a fazer parte do estilo
de vida dos Adventistas do 7º Dia. Se fôssemos dar ouvidos absolutamente
a TUDO que os pioneiros ensinaram, também deveríamos voltar a comer
carne de porco (e olha que uma banda de porco era o salário pago a
alguns dos pastores da época), usar o fumo, e outros absurdos que foram
cometidos, ENQUANTO O SENHOR NÃO OS ILUMINOU TOTALMENTE SOBRE O ASSUNTO.
JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ –
Todos sabem que a grande controvérsia na Igreja Adventista sobre o tema
da justificação pela fé, ou seja, do modo como o homem é salvo por
Deus, ocorreu na década de 1880, culminando na Conferência Geral de
1888. Haviam acirrados debates entre os dois principais grupos dos
nossos pioneiros: de um lado os que criam numa salvação puramente pela
fé, independente das obras (Ellen White, Jones e Waggoner, por exemplo);
e do outro lado estavam os que eram conhecidos por “legalistas”, pois
achavam que a salvação só vinham como conseqüência de obedecer
detalhadamente a lei de Deus. Para este segundo grupo, a salvação não se
dava somente pela fé, mas o homem também precisava fazer sua parte (as
obras) para que fosse considerado “apto” a alcançar a salvação. O
próprio Uriah Smith (tão citado pelo
“Ministério 4 Anjos” e demais anti-trinitarianos como o sumo
representante do pensamento dos nossos pioneiros) era assumidamente
legalista, e utilizava as publicações da Igreja (pois ele era o editor
da Review and Herald na época) para defender seus pontos de vista, em
oposição a outros que defendiam a justificação pela fé, como Ellen
White, Jones e Waggoner. Eu pergunto: estava Uriah Smith certo em
defender a salvação pelas obras? Ele chegou mesmo a se opor aos próprios
conselhos de Ellen White. Felizmente, Uriah Smith, George Butler (o
próprio Presidente da Conferência Geral na época), e outros,
reconheceram QUE ESTAVAM ERRADOS, e a crise foi resolvida. A Igreja
Adventista passou a intensificar esta doutrina, que sempre existiu, mas
que estava adormecida devido ao pensamento EQUIVOCADO de ALGUNS de
nossos pioneiros. Foi a partir de então que Ellen White escreveu os
grandes livros sobre a justificação pela fé – Caminho a Cristo, Desejado de Todas as Nações, Maior Discurso de Cristo, etc.
Esta
é mais uma prova de que a consolidação do corpo doutrinário da Igreja
Adventista se deus com o tempo, e não podemos pegar citações de livros
isolados do início do Movimento e dizer que tais pensamentos eram os
“marcos” doutrinários que jamais poderiam ser removidos.
DOUTRINA DA CARNE SANTA –
Este era um ponto interessante defendido por alguns pioneiros, que logo
deixou de ser pregado, tamanho o absurdo teológico que representava. Os
defensores de tal teoria diziam que estavam com a “carne santa” e por
isso não poderiam mais pecar. Estavam selados pelo Espírito Santo de tal
maneira que nada os poderia influenciar novamente para a vida de
pecado. Em poucos anos esse ensino foi abandonado, também devido à
PROGRESSIVA orientação dada por Deus à Sua Igreja que estava ainda dando
seus primeiros passos. Deveríamos, também, voltar a crer neste ENSINO
DOS PIONEIROS? Seria este também um dos tais “marcos doutrinários”? É
óbvio que não!
Mais informações sobre o desenvolvimento teológico
de nossas doutrinas pode ser encontrado em livros da história
denominacional de nossa Igreja, como, por exemplo, no excelente livro do
Pr. Enoch de Oliveira, chamado A Mão de Deus ao Leme.
Como
exposto acima, foram muitos os pontos doutrinários equivocados nos
quais criam ALGUNS pioneiros do movimento adventista, ainda em seus
primeiros anos.
Não
podemos dizer que TUDO que eles ensinaram, mesmo através de nossas
revistas e periódicos, era a máxima expressão da verdade presente.
Muitos se utilizavam de sua influência como redatores e diretores das
revistas para escreverem em defesa de seus pontos de vista PARTICULARES
(como Uriah Smith, por exemplo), apesar de que haviam outros que
discordavam de suas opiniões.
Ao
longo do tempo, o Senhor concedeu orientações à Sua amada Igreja,
através do ministério de Ellen White, para que esses equívocos fossem
retirados, e a doutrina pura de Cristo se aprofundasse no movimento
Adventista.
O mesmo ocorreu com a Trindade, que
foi fortalecida nos escritos de Ellen White, e estabelecida como
doutrina bíblica fundamental das Escrituras, ainda na época do
ministério da profetiza do Senhor.
Retirado do site: http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/2007/10/divindade-parte-ii.html
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