INTRODUÇÃO
Atualmente têm surgido no meio cristão alguns críticos da
Bíblia com ideias as mais incomuns. Entre estas se encontra a de que Mateus
28:19 não é autêntico, mas uma adulteração feita pela Igreja Católica. O
presente artigo visa combater esta ideia fazendo uma análise dentro da
história, da teologia, dos pais da igreja e de códices antigos para se chegar a
uma conclusão confiável e séria acerca do assunto.
Algumas perguntas surgem naturalmente quando este tema é
apresentado:
1. Mateus
28:19 é autêntico?
2. Existe
referências às três pessoas da Trindade antes do concílio de Nicéia em 325
d.C.?
3. A
palavra Trindade somente foi criada pelo papa no concílio de Nicéia?
1.0
Análise
de manuscritos
O
texto de Mateus 28:19 consta nos melhores e mais antigos manuscritos do NT,
tanto nos chamados “maiúsculos” (unciais) como nos “minúsculos”.[1] Se houvesse ao menos um
texto antigo confiável em que a fórmula de Mateus 28:19 não aparecesse poderia
se levantar a hipótese de que sua origem era duvidável. Este, porém, não é o
caso.
A
fórmula trinitária também encontra-se no manuscrito mais importante produzido
no Egito, o álef (a) ou
01 (Códice Sinaítico) o que desqualifica qualquer suposição de que tenha sido
fruto de adulteração do texto, visto que hoje é considerado um dos mais
fidedignos aos originais: “O Códice sinaítico (álefe) é o manuscrito grego do
século IV considerado em geral a testemunha mais importante do texto, por causa
de sua antiguidade, exatidão e inexistência de omissões.”[2]
A
fórmula trinitária já era conhecida na Síria, ambiente onde se teria originado
o evangelho de Mateus, antes do ano 100 d.C.[3] Aliás, embora a Peshita
não seja a mais importante fonte para a pesquisa do texto original da Bíblia, a
frase “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” encontra-se também no
texto da Peshita, editada pela Sociedade de Pesquisa das Escrituras Aramaicas
em Israel e publicada pela Sociedade Bíblica em Jerusalém.[4]
A
seguir, apresentar-se-á fotos de manuscritos Unciais onde a fórmula de Mateus
28:19 está presente:
CÓDICE VATICANUS DO IV SÉCULO E SEGUE O TEXTO ALEXANDRINO DO SÉC. II
1.1
Mateus 28:19 – versões antigas
1. Texto
Ocidental: II Séc.
2. Texto
Alexandrino: II Séc.
3. Texto
Cesareense: III Séc.
4. Siríaco
Peshita: II Séc.
5. Diatessaron:
160 d.C., autor: Taciano
6. Siríaco
Antigo: Mais antiga que Peshita e existe nos manuscritos sinaítico e
curetoniano.
1.2 Mateus 28:19 – textos latinos
1. LATIM
ANTIGO: Esta denominação é para distinguir dos manuscritos posteriores, como os
da Vulgata. Estes manuscritos já existiam ao final do II séc. d.C. Suas
traduções são da LXX e chegaram até nós muito fragmentadas; tem duas tradições:
Africana, Européia; foi produzida no II Séc. e é anterior ao Textus Receptus.
1.3 Mateus 28:19 – versões coptas
COPTA
(egípcio). São quatro as versões do Antigo Testamento nesta língua:
1. A
saídica ou tebaica foi preparada no século II d.C., no sul do Egito, com base
na LXX.
2. A
Boárica ou Menfítica, no século IV d.C., no norte do Egito.
3. A
Fayúmica .
4. Akhmímica:
Com poucos fragmentos, conhece-se também as versões.
2.0
Fontes
históricas e Pais da Igreja
A
seguir ver-se-á algumas fontes históricas, entre outras, que demonstram a
existência e uso da fórmula trinitária muito antes do século IV:
2.1 Fonte Histórica
2.1.1 A
Didaquê (70-150 d.C.). A fórmula batismal, conforme prescrita em Mateus
28:19, aparece nesta obra, conhecida também como O ensino dos doze apóstolos. Ela foi escrita na forma de uma carta
circular às igrejas cristãs na província romana da Síria perto da virada do
primeiro século de nossa era. Alguns estudiosos sugerem uma data mais antiga
que faria da obra o primeiro escrito cristão até hoje existente além do Novo
Testamento”.[5]
“Quanto
ao batismo, batizareis na forma seguinte: tendo antecipadamente disposto todas
as coisas, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em água viva,
se não houver água viva batizai em outra água; se não puderdes em água fria,
batizai em água quente. Se não tiverdes nem uma nem outra, derramai água na
cabeça três vezes em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (70-150
d.C.)[6]
Mateus
e a Didaquê são idênticos. Evidenciam que o batismo trinitário acontecia no
primeiro século d.C.:
Mateus:
βαπτίζοντες αὐτοὺς εἰς τὸ ὄνομα
Tradução:
em nome.
Didaquê:
βαπτίσατε εἰς τὸ ὄνομα
Tradução:
em nome.
Mateus:
τοῦ πατρὸς καὶ τοῦ υἱοῦ καὶ τοῦ ἁγίου πνεύματος.
Tradução:
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Didaquê:
τοῦ πατρὸς καὶ τοῦ υἱοῦ καὶ τοῦ ἁγίου πνεύματος.
Tradução:
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Pai,
Filho e Espírito Santo estão no batismo do próprio Jesus. Isto favorece a
associação e paralelo com Mateus 28:19. A tríplice presença não é um elemento
novo no evangelho e nem nas epístolas Paulinas e em Pedro (2Co 13:13; 1Co
12:4–6; cf. 1Co 6:11; Gl 4:6; 1Pe 1:2).
2.2 Pais da Igreja
2.2.1 Clemente
de Alexandria (Egito, 150-215 d.C.) também utilizava a fórmula trinitária.
A Didaquê desfrutava de tal prestígio na igreja cristã primitiva que Clemente a
considerava uma autoridade apostólica e a citava como “Escritura”.[7]
2.2.2 Justino,
o mártir (100-162 d.C.) foi morto por defender o monoteísmo triúno cristão
: "um só Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo"[8] em oposição ao politeísmo
pagão, e por isso foi martirizado exatamente em Roma que ainda era pagã.
Justino foi contemporâneo de Policarpo, discípulo do apóstolo João, também
escreveu vários livros, dos quais somente três obras apologéticas subsistiram.
Ele escreveu:
“Então
eles são trazidos por nós onde há água, e são regenerados da mesma maneira na
qual nós fomos regenerados. No nome de Deus, o Pai e Senhor do universo,
e de nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo, eles o recebem lavando
com água então.”[9]
(ano 100-162 d.C. grifo suprido).
No
capítulo LXV da mesma obra, é dito:
“Depois
de termos lavado desta maneira (batizado) aquele que se converteu e deu o
consentimento seu, o conduzimos aos irmãos reunidos para em comum oferecer
orações por nós mesmos [...] Ao terminar as orações, mutuamente nos saudamos
com o ósculo de paz e, logo, traz-se ao presidente o pão e um cálice de vinho
com água. Ele os recebe, oferecendo-os ao Pai de todas as coisas num
tributo de louvores e glorificações, em nome do Filho e do Espírito Santo,
dando graças por sermos considerados dignos de tamanhos favores de sua
clemência”[10]
(Ano 100 a 163 d.C, grifo suprido)
2.2.3 Irineu, bispo de Lião (França, 125-202
d.C.), foi instruído em sua juventude por Policarpo de Esmirna, discípulo do
apóstolo João. Escreveu um pequeno manual de doutrinas cristãs denominado Demonstração
da Pregação Apostólica, conhecido também como Epideixis. Irineu
morreu em Lião durante um massacre de cristãos em 202 d.C.[11] Em seu pequeno manual, no
artigo 3, ele escreveu:
“Agora
a fé ocasiona isto para nós; como os Anciãos, os discípulos dos Apóstolos, nos
passaram. Em primeiro lugar é licito ter em mente que nós recebemos o
batismo para a remissão de pecados, no nome de Deus o Pai, e no nome de
Jesus Cristo, o Filho de Deus que foi encarnado e morreu e subiu novamente, e
no Espírito Santo de Deus.”[12]
(grifo suprido)
2.2.4 Tertuliano (África, c.150-212 d.C.)
também indica a tríplice fórmula batismal como utilizada para o exame dos
candidatos ao batismo em seus dias.[13]
Outros líderes
cristãos mantinham o pensamento sobre a Trindade bem antes do IV século. A
palavra Trindade também foi usada por Tertuliano em seus dias, sem nem mesmo
tratar do tema da Divindade, portanto, tanto a noção como a palavra já existiam
antes do concílio de Nicéia. Estes fatos e documentos mostram o uso da fórmula
batismal, com as três pessoas da Trindade, bem próxima à época dos apóstolos,
conforme a ordem dada por Cristo em Mateus 28:19, o que dificulta a afirmação
de que seria uma tradição posterior, originada no III ou IV século.
CONCLUSÃO
Dizer que
Mateus 28:19 é fruto de adulterações da ICAR, é no mínimo falta de conhecimento
histórico, teológico e de manuscritos antigos. Portanto:
1. A Bíblia registra de forma confiável o batismo trinitário.
2. A fórmula
trinitária encontra-se nos mais antigos documentos cristãos, antes do quarto
século.
3. A fórmula
encontra-se inclusive na tradução aramaica da Peshita.
Pode-se até concluir com um dito
popular: “o pior cego é aquele que não quer enxergar”.
Material
produzido pelo Pr. Demóstenes e adaptado por Eleazar Domini.
[1] ALAND, K. et
all., The text of the New Testament.
Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. xi-liii.
[2] GEISLER, M.; NIX, W. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou
até nós. SP: Vida, 2003, p. 142.
[3] Idem.
[4] The New Covenant Commonly
Called The New Testament – Peshita Aramaic Text with a Hebrew Translation. Edited by The Aramaic Scriptures Research Society in Israel.
Jerusalém: The Bible Society, 1986, p. 42, 43.
[5] OLSON, R. E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São
Paulo: Editora Vida, 2001, p. 43.
[6] Didaquê, 7. In: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. São Paulo:
ASTE, s/d. p. 101 (Grifo nosso).
[7] Pelikan and
Hotchkiss, Creeds and Confession of Faith
in the Christian Tradition, Yale University Press, New Haven and London,
vol. 1, 2003, p. 43.
[8] Idem.
[9] JUSTINO
MÁRTIR, Apologia I LXI (grifo nosso). Cf. Justino Apol.1, 61.3: Também em 61.10
e 13. Citado em: NIEDERWIMMER, K.;
ATTRIDGE, H. W. The Didache: A commentary. Facsim. on lining papers.
Hermeneia: a critical and historical commentary on the Bible. Minneapolis:
Fortress Press, 1998, p. 126.
[10] JUSTINO
MÁRTIR, Apologia I, LXV. In: BETTENSON, H. Documentos da igreja
cristã. São Paulo: ASTE, s/d. p. 103 (Grifo nosso).
[11] OLSON,
R. E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 67-69.
[13] DAVIES,
W. D.; ALLISON, D. C. A critical and Exegetical commentary on the gospel
according to saint Mathew. VOL 3. Edinburgh: T & T Clark, 1961,
p. 685 (nota 46).
Nossa, muito bom pastor. Amei o seu blog. É bem profundo e tira realmente as dúvidas. Espero que Deus continue te usando para trazer mais conhecimento a Seu povo. Acho que este blog vai auxiliar em muito os membros da IASD.
ResponderExcluirAmém. Ore para que o intuito desse blog seja alcançado: levar as pessoas com dúvidas ao pleno conhecimento da verdade.
ExcluirItard Víctor,assembléia de Deus,muito bom o seu estudo,vamos continuar provando a trindade aos da seita UNITARISTAS
ResponderExcluirMateus 28:19 é Verdadeiro com o mandamento de Jesus de Batizar em Pai, Filho e Espírito Santo .
ResponderExcluirA Doutrina da Trindade é Bíblica e Não foi inventada No Século IV.Deus é Uno e Trino.
Amém. É este o propósito deste blog, mostrar que a Trindade é bíblica. Deus é Uno e Trino. Obrigado pelo comentário. Só um pedido: Divulgue este blog para seus amigos. Tem muita gente que fala contra a Trindade e este blog tem muito material interessante que pode auxiliar a defender esta doutrina tão atacada. Deus o abençoe.
ExcluirOlá a todos
ResponderExcluirA Santa Doutrina da Santíssima Trindade refuta também o unicismo.
Um abraço
Luiz