Há muito tempo se
discute não pouco o significado dos vers. 22 a 31 de Provérbios 8. A LXX
apresenta a seguinte introdução ao tema: "Se eu lhes declarar as coisas
que ocorrem diariamente, também recordarei as coisas antigas para as
relatar".
Há um evidente paralelo
entre esta passagem e a obra da segunda pessoa de a Deidade. Entretanto, a passagem é alegórica e deve
empregar-se cautela para não afirmar que a alegoria diz mais do que o autor
quis expressar. As conclusões a que se
chegue sempre devem harmonizar com a analogia das Escrituras.
Alguns procuraram
encontrar aqui um respaldo para o ensino que afirma que houve um tempo quando
Cristo não existia, e que foi criado pelo Pai como o começo de sua obra para
estabelecer um universo perfeito e habitado.
Não têm validez as conclusões dogmáticas apoiadas em passagens figuradas
nem em parábolas. Os resultados falsos
destas interpretações são evidentes quando se considera a interpretação popular
da parábola do rico e Lázaro (Luc. 16: 19-31).
Sempre deve procurar-se que a veracidade das crenças doutrinais se apoie
em declarações literais da Bíblia. Como
exemplo de este tipo de declarações relacionadas com o assunto que nos ocupa,
ver Miq. 5: 2; Juan 1: 1; 8: 54; cf. DTG
16.
Compare-se também com
estas declarações:
"Em Cristo há vida
original, que não provém nem deriva de outra" (DTG 489).
"O Senhor Jesus
Cristo, o divino Filho de Deus, existiu da eternidade, como pessoa diferente,
mas de uma vez um com o Pai" (EGW RH 5-4-1906).
"Cristo é o Filho de Deus pré-existente, existente por si mesmo... Nos assegura que nunca
houve um tempo quando não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus"
(Ev 446, 447; DTG 11, 15-17).
À luz destas
declarações, pode ver-se que as traduções modernas que separam-se do hebreu
para seguir a LXX, e traduzem "criou-me" ou frases similares, em vez
de "possuía-me" (RVR), podem induzir a conclusões errôneas. 987 É
indubitável que a passagem se refere a Cristo, a quem se apresenta
simbolicamente como a sabedoria. No Eze. 28 pode ver-se outro exemplo desta
dobro aplicação, aonde o "príncipe de Tiro" em parte representa a
Satanás.
Outro fator
extremamente importante para quem defende que a SABEDORIA em Provérbios
refere-se única e exclusivamente a Cristo e que causa uma situação delicada e
sem resposta é esta: Ela é retratada no sexo feminino... é tratada como uma
IRMÃ.
“Dize à sabedoria: Tu
és minha irmã; e à prudência chama de tua parenta”... Pv. 7:4
Jesus é mulher? Ele
pode ser irmã de alguém???
Claramente
trata-se de uma alegoria, uma linguagem POÉTICA.
Caso semelhante, como
já referido, ocorre em Ezequiel 28 que possui dupla aplicabilidade.
Tem elementos que são
comuns ao rei de Tiro e a Satanás. Entretanto, há elementos que só podem ser
aplicados a Lúcifer.
Em Provérbios 8 usou-se
uma figura de linguagem (a sabedoria), personificou-se esta figura de
linguagem, e dentro do texto COMPLETAMENTE POÉTICO (pois a sabedoria realmente
não é uma pessoa e não fala), há elementos que são aplicados a Cristo, a
Sabedoria de Deus.
Mas há elementos
que não podem ser a Ele vinculados.
Surge a pergunta:
O Manual da IASD afirma que; “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito
Santo, uma unidade de três pessoas co-eternas.” Se isso é verdade,
por que Ellen White, ao comentar sobre a unidade que existe entre Cristo e o
Pai, utiliza Provérbios 8, onde o sábio Salomão afirma que quando Deus compunha
os fundamentos da Terra, Cristo era Seu aluno? Como poderia Cristo sendo
o próprio Deus, ser aluno de Deus?
"Cristo
declarou por intermédio de Salomão: "O Senhor Me possuiu no princípio
de Seus caminhos e antes de Suas obras mais antigas. Desde a eternidade,
fui ungida [a Sabedoria]; desde o princípio, antes do começo da Terra. ... Quando
punha ao mar o seu termo, para que as águas não
traspassassem o Seu mando; quando compunha os fundamentos
da Terra, então, Eu estava com Ele e era Seu aluno; e era cada dia as
Suas delícias, folgando perante Ele em todo o tempo.” Prov. 8:22, 23, 29 e 30. -Signs of the Times, 29 de
agosto de 1900 (A Verdade Sobre os Anjos, págs. 23 e 24).
RESPOSTA:
Ellen White usou a versão King James que contém a
palavra "brought up"; jamais
"pupil" (aluno), e citou Prov. 8:30, coerentemente com os eruditos que
traduzem o significado da palavra hebraicaאמן "amôn" como
artista, arquiteto, artífice, conforme o Dicionário de Hebraico de J. Strong. A
mesma palavra hebraica ocorre no livro de Cantares do próprio Salomão (7:1),
traduzida como "artista". "Aluno" é um problema da versão
Almeida antiga.
A versão Almeida antiga também traduz nesse texto (Cant.
7:1) a palavra como "artista", embora traduziu-a como "aluno" em
Prov. 8:30. A coerência indica para Prov. 8:30 a tradução como Arquiteto. Com
efeito, Cristo foi o grande Artista e Arquiteto da Criação (João 1:3; Col. 1:16;
Heb. 1:2).
Paulo também usou a versão de que dispunha na
época, a Septuaginta (LXX), e tolerou os problemas dela, e em suas citações há
alguma diferença do original hebraico, mas isso não altera o sentido das
verdades que ele quis enfatizar. Ellen White jamais ensinou que Cristo é
inferior ao Pai, como diz-se que ela disse o que não disse.
FONTES: Comentário Bíblico Adventista e o livro 100 Respostas às perguntas que não mais clamam do Pr. Roberto Biagini.
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