O conflito
entre Cristo e Satanás que é desenrolado no livro História da Redenção de Ellen
White, bem como no Patriarcas e Profetas, tem sido um dos campos base para os
que são contrários a doutrina Trinitária fundamentarem seus argumentos. Entre
as premissas básicas utilizadas por eles pode-se citar: “Como pode o Espírito
Santo ser uma terceira pessoa se ele não é mencionado no relato da queda de
Lúcifer contido no livro História da Redenção e Patriarcas e Profetas? Como
podemos conjugar uma terceira pessoa dentro do contexto apresentado pelo Senhor
a sua serva em visão?” Estas premissas contêm alguns erros grotescos que serão
analisados a seguir:
1. Neste relato não é mencionado o Espírito
Santo, logo, Ele não é uma pessoa
Seria este um
argumento adequado para solidificar alguma doutrina? Ora, os livros de Ester e
Cântico dos Cânticos não citam o nome de Deus. Por isso, Deus deixa de ser um
ser pessoal por não ser mencionado nos livros citados?
2. O livro cita Cristo e seu Pai
constantemente. Onde está o Espírito Santo?
Essa premissa é
um desenrolar da primeira e que mostra mais uma vez a fragilidade argumentativa
dos antitrinitarianos. O fato de dois seres da Divindade aparecerem e um ficar
de fora não o exclui como o terceiro ser desta Divindade. No livro de Mateus
capítulo 20 é relatada a história de 2 cegos assentados junto ao caminho. Os
textos correlatos de Lucas 18 e Marcos 10, afirmam que era um cego apenas. Esta
aparente discrepância se dá pelo fato de que um evangelista olha sob uma ótica
diferente dos outros. Eram dois cegos. Mas Lucas e Marcos atem-se a um deles,
quem sabe o que estava clamando mais, e, portanto, estava em mais evidência, dizem
os estudiosos. Isso não invalida o fato de que, mesmo Lucas e Marcos falando de
um cego apenas, o outro não existisse, só não foi mencionado.
Há dois texto
muito utilizados pelos antitrinitarianos que poderiam bem explicar esta questão:
a)
“Não é aos homens que devemos exaltar e adorar;
é a Deus, o único Deus verdadeiro e vivo, a quem são devidos nosso culto e
reverência. ...UNICAMENTE O PAI E O FILHO devem ser exaltados.” (The Youth's
Instructor, 7 de julho de 1898. - Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, 21 de
fevereiro, pág. 58).
Olhando a
primeira vista, adoração ao Espírito Santo está fora de questão. Ele nem é
mencionado. Portanto, não existe Espírito Santo. Mas, o que dizer deste outro
texto?:
“O Espírito
Santo habilitou os discípulos a EXALTAR UNICAMENTE AO SENHOR, e guiou a pena
dos historiadores sagrados, para que o registro das palavras e ações de Cristo
pudesse ser transmitido ao mundo.” (Obreiros Evangélicos, 286:3).
Nesta
última citação aparece o Senhor Jesus e o Espírito Santo. Alguém poderia pegar
esta citação e dizer: “Não podemos exaltar o Pai, pois UNICAMENTE o Senhor
Jesus pode ser exaltado.” Claro que isso é ser por demais unilateral e
evidentemente demonstra a má intencionalidade do proponente, uma vez que
esquece dos demais textos que abordam a questão.
É importante
observar que o foco do livro História da Redenção (que trata-se de uma
compilação) não é apresentar a doutrina da Trindade, mas mostrar a história da
redenção em Cristo. Ele é o assunto principal. Neste mesmo livro, quando Ellen
White fala do plano da redenção sendo estabelecido ela sequer menciona o
Espírito Santo, veja:
b)
“Vi o adorável Jesus e contemplei uma expressão
de simpatia e tristeza em Seu rosto. Logo eu O vi aproximar-Se da luz
extraordinariamente brilhante que cercava o Pai. Disse meu anjo assistente: Ele
está em conversa íntima com o Pai. A ansiedade dos anjos parecia ser intensa,
enquanto Jesus Se comunicava com Seu Pai. Três vezes foi encerrado pela luz
gloriosa que havia em redor do Pai; na terceira vez, Ele veio de Seu Pai, e
podia ser visto. Seu semblante estava calmo, livre de toda perplexidade e
inquietação, e resplandecia de benevolência e amabilidade, tais como não podem
exprimir as palavras.
Fez então saber ao exército
angelical que um meio de livramento fora estabelecido para o homem perdido.
Dissera-lhes que estivera a pleitear com Seu Pai, oferecera-Se para dar Sua
vida como resgate e tomar sobre Si a sentença de morte, a fim de que por meio
dEle o homem pudesse encontrar perdão; que, pelos méritos de Seu sangue, e
obediência à lei divina, ele poderia ter o favor de Deus, e ser trazido para o
belo jardim e comer do fruto da árvore da vida.” (História da Redenção 42 e 43)
Olhando
assim, alguém sugeriria (como já tem feito os antitrinitarianos): “Viu, o
Espírito Santo não existe. Ali diz que só Jesus entrou pra conversar com Seu
Pai. Onde está o Espírito Santo?” Mas é interessante analisar, assim como o
caso do cego em Mateus, Lucas e Marcos, outro livro, em um outro contexto, que
fala do mesmo assunto. Veja:
“A Divindade
moveu-se de compaixão pela raça, e o Pai, o Filho e o Espírito Santo deram-Se a
Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção. A fim de levarem a cabo
plenamente esse plano, foi decidido que Cristo, o unigênito Filho de Deus, Se
desse a Si mesmo em oferta pelo pecado. Que linha pode medir a profundidade
deste amor? Deus tornaria impossível ao homem dizer que Ele poderia ter feito
mais. Com Cristo deu Ele todas as riquezas do Céu, para que coisa alguma
pudesse faltar no plano de soerguimento do homem.” (Conselho Sobre Saúde 222)
"Os três poderes da Divindade comprometeram a sua força
para realizar o propósito que Deus tinha em mente quando deu ao mundo o
inefável dom de seu Filho" (The Reviw and Herald 18-07-1907)
"Os três poderes da Divindade comprometeram a sua força
para realizar o propósito que Deus tinha em mente quando deu ao mundo o
inefável dom de seu Filho" (The Reviw and Herald 18-07-1907)
Note as
preciosidades deste texto: Primeiro ela afirma que a Divindade moveu-se de
compaixão pela raça. Depois ela vai dizer quem é esta Divindade: o Pai, o Filho
e o Espírito Santo. O texto também afirma que os TRÊS estabeleceram o plano da
redenção. Mas isso não contradiz o relato do História da Redenção? Não. Assim
como Lucas e Marcos não contradizem Mateus. A questão é o foco do que se
apresenta. Infelizmente os antitrinitarianos pecam por desconsiderarem Ellen
White em seu contexto mais amplo e cria heresias a partir de suas ideias e dos
textos descontextualizados.
Portanto, o
que se pode afirmar sobre o livro História da Redenção e ausência do Espírito
Santo na parte inicial, é que o foco ali abordado era a batalha entre Cristo e
Satanás. A luta do mal não era contra o Espírito Santo, mas contra Cristo.
Entretanto, quando analisado relatos sinóticos em outros contextos que não o do
grande conflito no céu, como o caso exposto acima no livro Conselho Sobre Saúde,
a presença dos três é marcante e bem visível.
Por:
Eleazar Domini
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