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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O QUE JOSEPH RATZINGER DISSE SOBRE MATEUS 28:19



                           


                                                    



Muitos dizem que o papa escreveu em seu livro Introdução ao Cristianismo que o texto de Mateus 28:19 foi inventado pela igreja católica.

* SERÁ QUE ISSO ESTÁ CERTO?  QUER VER O QUE REALMENTE O PAPA ESCREVEU? ENTÃO PROSSIGA COMIGO...

O livro foi escrito originalmente em alemão, com o título: Einführung in das Christentum,  traduzido para o inglês, com o título: Introduction to Christianity e traduzido para o português, com o título: Introdução ao Cristianismo.         

Para compreender e verificar a verdade sobre o assunto, fiz algo que qualquer um pode fazer também: Baixei as versões em alemão, inglês e português do livro Introdução ao Cristianismo. Com o auxílio do Google tradutor, comparei o que está escrito em alemão com o inglês e português. O resultado é o seguinte:

Percebi que a confusão está acontecendo basicamente devido a um problema de INTERPRETAÇÃO DE TEXTO. O texto foi mal interpretado e encontrou ninho no seio daqueles que já vinham abrigando a ideia de que Mateus 28:19 foi adulterado, mesmo com todas as inúmeras evidências dadas pelo Espírito de Profecia de que o texto é original, provindo diretamente do Senhor Jesus, registrado no manuscrito grego Textus Receptus - original da Bíblia.    

O texto objeto da polêmica está no capítulo 2, na página 45 do original em alemão, onde o autor tenta explicar o origem e a estrutura do Credo Apostólico, e sua influência nas crenças católicas.                  
O papa diz: “Talvez seja útil começar a discussão com alguns poucos fatos sobre a origem e estrutura do Credo.” De qual Credo o papa está falando? Do Credo Apostólico, como ele mesmo disse no início do capítulo.




Esse é o Credo Apostólico, o qual, segundo o papa, é o guia para compreender a base da crença cristã. O que o papa disse é que o CREDO APOSTÓLICO, e não Mateus 28:19, foi originado na cidade de ROMA. Ele não estava se referindo ao batismo ou ao texto de Mateus 28:19, como muitos pensam ou tentam fazer outros pensarem. Basta ler todo o contexto e analisar atentamente.

Veja o texto em inglês:
“The basic form of our profession of faith took shape during the course of the second and third centuries in connection with the ceremony of baptism. So far as its place of origin is concerned, the text came from the city of Rome.” (p. 83).

Agora compare com a tradução que fizeram para o português: “A forma básica do nosso símbolo apostólico cristalizou-se no correr do segundo e terceiro século, em nexo com o rito batismal. Trata-se originariamente de uma fórmula nascida na cidade de Roma.” (p. 54).

Naquilo que eu conferi, a tradução para o inglês está de acordo com o original alemão. Mas veja que a tradução para o português não foi fiel ao texto original.

Profession of faith (profissão de fé), que está se referindo ao texto do Credo, foi traduzido por símbolo apostólico.
The text (o texto), foi traduzido por uma fórmula.

O papa prossegue e nisso ele confirma algumas coisas muito interessantes. Veja primeiro a continuação do texto: 

Contudo, seu lugar interno de origem é a liturgia, ou mais exatamente, o batismo. O rito batismal fundamentalmente orientava-se pelas palavras de Cristo: "Ide, fazei discípulos a todos os povos e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28, 19).” (p.54).

O que o autor está dizendo aqui? Quando diz “seu lugar interno de origem”, ele está se referindo à origem do Credo católico. Aqui fica claro que o pronome “seu” retoma o substantivo Credo. Isso é simples interpretação de texto. Ele não pode estar se referindo a algo que ainda nem citou, portanto, definitivamente não estava fazendo menção a Mateus 28:19.

Além disso, ele diz que a Igreja foi buscar a base do Credo no rito batismal, citado no texto de Mateus 28:19.

Com isso podemos facilmente concluir que Joseph Ratzinger está, na verdade, confirmando que Mateus 28:19 é autêntico, uma vez que ele diz que esse foi o texto que serviu de base para a Igreja estabelecer o seu Credo. Em momento algum ele diz que o texto não é autêntico ou que a Igreja o adulterou.

Na continuidade do texto, veja como Joseph Ratzinger confirma sua crença na autenticidade de Mateus 28:19:

“This again was fundamentally based on the words of the risen Christ recorded in Matthew 28:19: “Therefore go and make disciples of all nations, baptizing them in the name of the Father and of the Son and of the Holy Spirit.” (p. 83)

“Isso novamente estava baseado fundamentalmente nas palavras do Cristo ressuscitado, registradas em Mateus 28:19: Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

É IMPORTANTE LER O TEXTO TAL COMO ELE ESTÁ E NÃO FAZER ACRÉSCIMOS TENTANDO FAZER O PAPA DIZER ALGO QUE ELE NÃO DISSE. VEJAMOS O PARÁGRAFO COMPLETO EM SUA ÍNTEGRA:



"Talvez seja útil fornecer alguns dados sobre a origem e estrutura do símbolo, que contribuirão para esclarecer o "por quê" do nosso proceder. A forma básica do nosso símbolo apostólico cristalizou-se no correr do segundo e terceiro século, em nexo com o rito batismal. Trata-se originalmente de uma fórmula nascida na cidade de Roma. Contudo, seu lugar interno de origem é a liturgia, ou mais exatamente, o batismo. O rito batismal fundamentalmente orientava-se pelas palavras de Cristo: "Ide, fazei discípulos a todos os povos e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28, 19). De acordo com esta ordem, o batizando ouvia três perguntas: "Crês em Deus, Pai todo-poderoso...? Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus...? Crês no Espírito Santo...?". A cada uma das perguntas o batizando respondia: "Creio", sendo, de cada vez, mergulhado na água. Portanto, a fórmula mais antiga do símbolo realiza-se em tríplice diálogo e está enquadrada no rito batismal."


DE MANEIRA MUITO PESSOAL, A ÚNICA COISA QUE ME SALTA AOS OLHOS É O FATO DE O PAPA ADMITIR QUE NO PASSADO O BATISMO ERA FEITO POR IMERSÃO E NÃO ADMISSÃO DA MUDANÇA DE MATEUS 28:19 POR PARTE DA IGREJA CATÓLICA. É UMA SIMPLES QUESTÃO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO...



CONCLUSÃO:

Não podemos acreditar em tudo o que nos dizem sem verificar por nós mesmos se está de acordo com a Palavra de Deus e os Testemunhos. Mais uma vez muitos são enganados, por causa de um erro que está baseado em outro grande erro: a incapacidade de harmonizar a Bíblia com o Espírito de Profecia, sem achar que foram mudados, ALÉM DA INCAPACIDADE DE INTERPRETAR TEXTOS (que deveria ter sido aprendido no ensino fundamental).



Texto retirado do site: http://pt.slideshare.net/Marildab/o-que-joseph-ratzinger-disse-sobre-mateus-2819  e adaptado pelo autor deste blog: Eleazar Domini.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Evidência da Trindade na Natureza


Este é um vídeo em que o Dr. Adalto Lourenço faz uma abordagem perspicaz sobre a relação existente entre a natureza (sua forma três-em-um) e a Divindade triúna. É uma perspectiva bastante interessante.



domingo, 15 de fevereiro de 2015

As declarações trinitarianas de Ellen G. White: o que ela realmente escreveu?

Tim Poirier, M.T.S.
Diretor-associado do Ellen G. White Estate, Inc., Silver Spring, Maryland, EUA

Resumo: O artigo demonstra a autenticidade das declarações trinitarianas encontradas nos textos de Ellen G. White. Por meio de pesquisa nos manuscritos originais conservados, bem como nos documentos datilografados ou impressos onde aparecem as revisões feitas de próprio punho pela escritora, o autor desacredita os argumentos com os quais os dissidentes acusam a Igreja e sua liderança de adulterar os textos. Além de fornecer esclarecimento quanto ao processo de editoração e publicação dos textos de Ellen G. White na época, o artigo traz um apêndice com as reproduções dos documentos originais mencionados no artigo.


Abstract: The article demonstrates the authenticity of the Trinitarian declarations found in the writings of Ellen G. White. Researching the handwritten manuscripts, as well as the typed or impressed ones that bring the revisions made personally by the writer, the author discredit the theory used by the opponents that accuses the Church and its leadership of adulterate the texts. Besides clarifications regarding to the process of editing and publication of Ellen G. White texts at her time, the article brings an appendix with the reproductions of the original documents mentioned in the article.

Introdução

Certos oponentes da segunda crença fundamental da Igreja (“a Trindade”), argumentam que as declarações de Ellen G. White quanto ao assunto não podem ser consideradas como refletindo corretamente o que ela escreveu e ensinou.1 Essas pessoas afirmam aceitar o escritos proféticos de Ellen G. White, enquanto questionam a autenticidade de suas declarações que confirmam a crença da Igreja quanto a três pessoas distintas, co-eternas, e plenamente divinas na Divindade – Pai, Filho e Espírito Santo.
Este artigo não tentará definir amplamente o conceito de Ellen White quanto à Divindade, nem discutir se houve qualquer desenvolvimento em sua posição. O interesse básico é na autenticidade das declarações-chave de Ellen G. White, à luz dos documentos disponíveis. Deve-se, por outro lado, afirmar claramente que a crença fundamental da Igreja na Trindade não está baseada nos escritos de Ellen G. White, mas em sua compreensão da verdade bíblica.

A terceira pessoa da Divindade

Para muitos adventistas, as declarações de Ellen G. White publicadas são conclusivas quanto ao seu ensino sobre a questão. No livro O Desejado de Todas as Nações ela escreve que “o pecado pode ser resistido e vencido apenas através da poderosa agência da terceira pessoa da Divindade, a qual viria com energia não modificada e na plenitude do poder divino” (p. 671). É desta forma que o texto é lido desde sua primeira publicação em 1898. Assim, como podem os oponentes escapar da sua interpretação natural de que há três pessoas distintas na Divindade?
Primeiro, sugerindo que a expressão foi incluída em O Desejado de Todas as Nações por meio da influência dos assistentes de Ellen G. White, ou por meio de Herbert Lacey, ou ainda W.W. Prescott.2 Segundo, indicando que as palavras “terceira pessoa” não estão em letras maiúsculas na edição original de 1898, significando que a palavra “pessoa” é usada em um “sentido geral”.3 Terceiro, sugerindo que enquanto há em realidade duas pessoas na divindade, “o efeito real para nós é que há três seres divinos”, uma vez que o Espírito Santo é chamado “o outro Consolador”. De acordo com esta posição, o Espírito Santo é “o Espírito (presença) do Pai e/ou de Cristo”, e não realmente uma terceira pessoa divina distinta.4
Não tomaremos tempo para analisar a terceira interpretação, exceto observando posteriormente outra declaração de Ellen G. White que fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo como “três agências distintas” trabalhando juntas em favor da humanidade. Mas as duas primeiras observações atacam a autenticidade do texto e, portanto, nosso interesse concentra-se em investigar esta posição.
Pode-se confiar nesta passagem de O Desejado de Todas as Nações como representando o que Ellen G. White realmente escreveu? O que o manuscrito original diz?
O White Estate frequentemente recebe este tipo de pergunta por parte de pessoas que questionam a leitura ou ensino de uma declaração publicada. Alguns ficam surpresos quando dizemos a eles que Ellen G. White não escreveu seus capítulos por extenso, como eles aparecem em livros tais como Caminho a Cristo e os da série O Conflito dos Séculos. Ela certamente foi a autora do texto, mas a maior parte do material compreendendo os capítulos como os temos foi compilado de outros dos seus escritos anteriores, incluindo seus sermões, cartas e artigos.5 Assim, para encontrar o manuscrito original de qualquer passagem em seu livro O Desejado de Todas as Nações, devemos determinar a fonte e se um rascunho manuscrito do documento está disponível.
Qual, então, é a fonte desta sentença na página 671 de O Desejado de Todas as Nações? Nós a encontramos em uma carta de Ellen G. White, dirigida aos “Meus irmãos na América”, datada de 6 de fevereiro, de 1896. Ela escreveu: “O mal tinha se acumulado por séculos, e poderia apenas ser limitado e resistido pelo grandioso poder do Espírito Santo, a terceira pessoa da Divindade, o qual viria com energia não modificada, mas na plenitude do poder divino.”6 Esta carta foi copiada e enviada da Austrália para os líderes da Igreja em Battle Creek, onde estava o presidente da Associação Geral, O. A. Olsen, e publicada no ano seguinte, em um panfleto que circulou entre líderes e ministros da Igreja (Special Testemonies, nº 10, 25-33). Esta publicação contemporânea provê outra evidência – além da óbvia data do direito autoral – de que esta passagem em O Desejado de Todas as Nações encontra-se precisamente como ela foi originalmente publicada em 1898.
A Figura 1 (p. 29) é uma cópia escaneada da primeira página desta carta, demonstrando a sentença-chave no segundo parágrafo. O cético perguntará como sabemos que esta carta veio realmente de Ellen G. White? O que diz o manuscrito original? Infelizmente para nós, que vivemos em 2006, Ellen G. White raramente preservou cópias originais de suas cartas, depois que elas sido transcritas e haviam recebido sua aprovação. Nós ainda vemos que em certas outras instâncias somos afortunados em ter o manuscrito original, mas para esta carta o manuscrito original não é conhecido como tendo sobrevivido.


Figura 01 - Carta 8, 1896, p. 1.
Figura 01 – Carta 8, 1896, p. 1.


Figura 02 - Carta 8, 1896, p. 6.
Figura 02 – Carta 8, 1896, p. 6.


Mas nós temos outras evidências de sua autenticidade. As páginas 5, 6 e 7 contêm, em entrelinhas, registros manuscritos de Ellen G. White, os quais ela frequentemente acrescentava depois de leitura posterior do documento. A Figura 2 (p. 30) é uma cópia escaneada da página 6, demonstrando estas alterações interlineares e provendo a evidência de que esta carta foi, de fato, revista pela própria Ellen G. White. Assim, estamos em base sólida ao concluir que esta sentença-chave em O Desejado de Todas as Nações não passou despercebida aos olhos da Sra. White e entrou para o manuscrito do livro, quer por intermédio dos seus assistentes ou por outros líderes da Igreja.
O que diríamos quanto ao segundo argumento, de que as palavras “terceira pessoa” não aparecem com letras maiúsculas nas edições mais antigas? Como vimos na Figura 1, a frase também não aparece com maiúsculas na carta original. Uma comparação adicional entre as cartas de Ellen G. White, seus artigos publicados e livros, indica que este estilo editorial, sem intenção teológica, governou tais questões quanto a se os pronomes referindo-se à Divindade deveriam aparecer em maiúsculas. Se o argumento de que o uso de letras minúsculas na “terceira pessoa”, demonstra que a sra. White não estava atribuindo status de divindade ao Espírito Santo, então deveríamos explicar por que nas mesmas edições anteriores, o pronome pessoal “Ele” (referindo-se ao Espírito Santo) duas vezes aparece em maiúscula no parágrafo imediatamente anterior (p. 671:1), bem como em outros lugares no mesmo capítulo.

Três pessoas vivas

Analisaremos agora uma significativa declaração do livro Evangelismo. Trata-se de uma compilação, publicada em 1946, uma década antes dos diálogos entre os adventistas e evangélicos, que resultaram no livro Questions on Doctrine. Entretanto, os questionamentos associados a este período têm levado alguns a lançar uma sombra de ceticismo nesta clara declaração trinitariana:
Há três pessoas vivas pertencentes ao trio celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e estes poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viverem nova vida em Cristo.7
Será que esta declaração corretamente representa o que Ellen White escreveu?
A Figura 3 (p. 31) é uma cópia escaneada da folha de rosto da fonte em que se encontra a citação de Evangelismo – Special Testemonies, Série B, nº 7. De particular interesse é observar no final da página a frase “Published for the Author” (Publicado pela Autora). A Figura 4 (p. 32) é a cópia escaneada da página contendo a sentença-chave. Assim, o que quer que as alegadas “conspirações” tenham feito quanto às palavras que aparecem em Evangelismo, elas não podem ter sido originadas pela liderança da Igreja na década de 1940. A passagem apareceu na impressão de 1906, publicada pela autora – Ellen G. White.


Figura 03 - Special Testimonies, Series B., N° 7 (1906), folha de rosto.
Figura 03 – Special Testimonies, Series B., N° 7 (1906), folha de rosto.


Figura 04 - Special Testimonies, Series B., N° 7 (1906), p. 63.
Figura 04 – Special Testimonies, Series B., N° 7 (1906), p. 63.


Buscando a fonte deste material, descobrimos que ele vem do Manuscrito 21, de 1906, escrito em novembro de 1905, indicando a data da transcrição como 9 de janeiro de 1906. A Figura 5 (p. 33) é a cópia escaneada da página 4, na qual esta declaração-chave aparece. A sentença é idêntica à que foi publicada na Série B, exceto que na versão impressa um ponto-e-vírgula foi substituído por uma vírgula depois das palavras “trio celeste”.


Figura 05 - Manuscrito 21, 1906, p. 4.
Figura 05 – Manuscrito 21, 1906, p. 4.


A Figura 6 (p. 34) é a cópia escaneada da primeira página deste manuscrito, mostrando as correções manuais da Sra. White – evidência de que ela pessoalmente revisou a cópia datilografada. Assim, vemos que o que foi publicado em Evangelismo, reflete corretamente o que foi publicado na Série B, a qual, por sua vez, reproduz corretamente o manuscrito de Ellen G. White como revisado por ela.


Figura 06 - Manuscrito 21, 1906, p. 1, mostrando as anotações de Ellen White nas entrelinhas.
Figura 06 – Manuscrito 21, 1906, p. 1, mostrando as anotações de Ellen White nas entrelinhas.


Podemos avançar mais um passo, porém, nesta questão. A Figura 7 (p. 35) é a cópia escaneada de uma página do diário da Sra. White, onde é encontrado o original não editado da cópia escrita a mão do Manuscrito 21, 1906. Isto é o que foi transcrito pelas secretárias de Ellen G. White. Na passagem-chave, como originalmente escrita por Ellen G. White, lê-se: “Aqui estão as três personalidades vivas do trio celestial, nas quais cada alma arrependida dos seus pecados, recebe Cristo por fé viva, para aqueles que são batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.”


Figura 07 - Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 21, 1906.
Figura 07 – Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 21, 1906.


Neste ponto encontramos uma questão interessante. Colocando de lado detalhes rotineiros de correções gramaticais – que as assistentes da Sra. White foram instruídas a fazer quando transcrevendo o rascunho de manuscritos –, o que deveríamos fazer com a sua mudança de “três pessoas” para “três personalidades”? Aqui está a evidência, argumentam os promotores do antitrinitarianismo, de que Ellen G. White estava fazendo uma distinção entre “personalidades” e “pessoas,” como a sentença finalmente se encontra na transcrição do manuscrito.
Deveríamos ler algo substancial nesta mudança de “pessoas” para “personalidades”? Um amplo estudo do uso que a Sra. White faz destes termos está fora dos parâmetros do nosso interesse neste artigo, contudo é suficiente dizer que, como sua primeira definição, o dicionário Webster indica “personalidade” como “a qualidade ou estado de ser uma pessoa” e, em seu uso teológico, “qualidade ou estado consistindo de distintas pessoas, dito acerca da Divindade”.8 Meu estudo pessoal do uso de Ellen G. White é o de que ela utiliza estes dois termos de forma intercambiável, razão pela qual, sem dúvida, ela esteve completamente satisfeita com a leitura final da transcrição, como vimos nas Figuras 5 e 6.
Além do mais, se escrevendo “três personalidades”, Ellen G. White quis evitar a alusão a “três pessoas na divindade”, somos forçados a explicar por que ela claramente escreveu “três pessoas” em um documento anterior: Manuscrito 57, 1900, publicado no Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia:
A obra está colocada diante de cada alma que reconhece sua fé em Jesus Cristo pelo batismo, e se tornou um recipiente da promessa das três pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo.9
A Figura 8 (p. 35) é uma cópia escaneada deste manuscrito e, como no exemplo anterior, somos afortunados em ter o rascunho original escrito a mão, que foi transcrito pelas secretárias de Ellen G. White. Como podemos ver na Figura 9 (p. 35), não resta qualquer dúvida de que a Sra. White escreveu “as três pessoas – o Pai e o Filho e o Espírito Santo”.


Figura 08 - Trecho do Manuscrito 57, 1900.
Figura 08 – Trecho do Manuscrito 57, 1900.


Figura 09 - Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 57, 1900.
Figura 09 – Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 57, 1900.


O uso que Ellen G. White faz de “terceira pessoa” e “três pessoas no trio celestial” indica claramente sua crença de que não apenas existem três seres na Divindade, mas que eles são “pessoas”. Outra afirmação publicada em Evangelismo diz isto em termos evidentes:
“O Espírito Santo é uma pessoa, pois ele dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.”10
Novamente nos perguntamos, o que Ellen G. White realmente escreveu? A Figura 10 (p. 36) é uma cópia escaneada da fonte citada no livro Evangelismo – Manuscrito 20, 1906, p. 9. Não apenas este manuscrito atesta a aprovação da Sra. White (no topo da sua primeira página lemos: “Eu li isto cuidadosamente e o aceitei” – Figura 11, p. 37). Possuímos o original do rascunho escrito a mão, que foi transcrito por suas secretárias. A Figura 12 (p. 38) é uma cópia escaneada da sentença-chave: “O Espírito Santo é uma pessoa, pois Ele dá testemunho ao nosso espírito.”


Figura 10 - Manuscrito 20, 1906, p. 9.
Figura 10 – Manuscrito 20, 1906, p. 9.


Figura 11 - Manuscrito 20, 1906, p. 1, mostrando a aprovação de Ellen White na parte superior da página: "Eu li isto cuidadosamente e o aceito".
Figura 11 – Manuscrito 20, 1906, p. 1, mostrando a aprovação de Ellen White na parte superior da página: “Eu li isto cuidadosamente e o aceito”.


Figura 12 - Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 20, 1906.
Figura 12 – Trecho do rascunho escrito à mão do Manuscrito 20, 1906.


Mas, dizem os promotores do antitrinitarianismo, o Pai e o Filho são pessoas. A referência não diz que “O Espírito Santo é uma pessoa, separada ou distinta de Deus o Pai.”11
Não, esta referência não diz isto. Mas Ellen G. White tem mais a dizer sobre o tema em outro lugar. O Manuscrito 93, 1893, diz:
“O Espírito Santo é o Consolador, em nome de Cristo. Ele personifica Cristo, contudo é uma personalidade distinta.”12
A Figura 13 (p. 38) é uma cópia escaneada do rascunho escrito à mão por Ellen G. White, confirmando a transcrição. O Manuscrito 27a, 1900 acrescenta esta descrição:
“O Pai, o Filho e o Espírito Santo, poderes infinitos e oniscientes, recebem aqueles que verdadeiramente entram em relação de concerto com Deus.”13
Figura 13 - Original escrito à mão do Manuscrito 93, 1893.
Figura 13 – Original escrito à mão do Manuscrito 93, 1893.


Observe como os atributos da Divindade são aplicados a cada pessoa. Isto é seguido da seguinte declaração:
Três agências distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, trabalham juntas pelos seres humanos.”14
O rascunho original escrito à mão deste manuscrito não existe mais, mas a transcrição dele não apenas estampa a assinatura de Ellen G. White, como também suas correções interlineares, como visto nas Figuras 14 e 15 (p. 39 e 40).


Figura 14 - Manuscrito 27a, 1900, p. 7.
Figura 14 – Manuscrito 27a, 1900, p. 7.


Figura 15 - Manuscrito 27a, 1900, p. 8, mostrando a assinatura de Ellen White.
Figura 15 – Manuscrito 27a, 1900, p. 8, mostrando a assinatura de Ellen White.


É o Espírito Santo o representante de Cristo ou o próprio Cristo?

Tendo em mente as declarações de Ellen G. White, sem qualquer ambiguidade, acerca do “trio celeste”, vamos agora examinar outra passagem relacionada com a natureza do Espírito Santo, que os promotores do antitrinitarianismo usam como apoio. Ela aparece na página 669 de O Desejado de Todas as Nações:
O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente. Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em toda parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles que fosse para o Pai, e enviasse o  Espírito como seu sucessor na Terra. Ninguém poderia ter então vantagem devido á sua situação ou seu contato pessoal com Cristo. Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto.
O enfoque desta passagem é a presença de Cristo por meio do seu representante – o Espírito Santo. A distinção pessoal entre Cristo e o Espírito Santo é cuidadosamente expressa no texto, mas os promotores antitrinitarianos indicam o manuscrito fonte desta passagem. Nós a encontramos em uma carta a Edson White e sua esposa, datada de 18 de fevereiro de 1895.15 Como é a leitura deste texto na carta original?
Limitado por sua humanidade, Cristo não poderia estar em toda parte em pessoa; portanto, era do interesse deles que ele os deixasse, e fosse para o seu Pai e enviasse o Espírito Santo para ser o seu sucessor na terra. O Espírito Santo é ele mesmo despojado da personalidade humana, e assim independente. Ele se representaria a si mesmo como presente em todos os lugares pelo seu Espírito Santo, como o Onipresente.16
O que é de particular significado para os não trinitarianos é que onde O Desejado de Todas as Nações apresenta “O  Espírito Santo é o representante de Cristo”, a carta original lê “O Espírito Santo é Ele mesmo.”
O manuscrito original não é conhecido como existente, mas a carta, como transcrita pela secretária de Ellen G. White, estampa a sua assinatura e outras correções, significando sua aprovação à carta. Veja a Figura 16 (p. 41 e 42).


Figura 16a - Carta 119, 1895, p. 1, mostrando texto de Ellen White escrito à mão.
Figura 16a – Carta 119, 1895, p. 1, mostrando texto de Ellen White escrito à mão.


Figura 16b - Carta 119, 1895, p. 5, mostrando texto de Ellen White escrito à mão.
Figura 16b – Carta 119, 1895, p. 5, mostrando texto de Ellen White escrito à mão.


Será que a frase na carta original estabelece que a Sra. White cria que o Espírito Santo e Cristo não são pessoas distintas?
Nós já observamos várias declarações de Ellen G. White afirmando que existem “três pessoas” na Divindade, e que o Espírito Santo é uma “personalidade distinta”. Como estas afirmações, cronologicamente, tanto antecedem como seguem a fraseologia desta carta, a consistência nos levaria a esperar que ela não está introduzindo uma nova compreensão do Espírito nesta passagem. De fato, nós encontramos a mesma linguagem de “representação” utilizada nesta carta, como nós encontramos em O Desejado de Todas as Nações. O parágrafo na carta onde esta sentença aparece, começa com a declaração: “Embora nosso Senhor tenha ascendido da terra ao céu, o Espírito Santo foi indicado como seu representante entre os homens.”
Ellen G. White adicionalmente explica o significado de suas palavras “O Espírito Santo é Ele mesmo” acrescentando que “Cristo se representaria a si mesmo como presente em todos os lugares pelo seu Espírito Santo.
Na misteriosa união que existe entre os membros da Divindade, a presença do Espírito Santo é sinônima da presença pessoal de Jesus; contudo, suas identidades distintas são preservadas.
A mesma ideia é encontrada em outras passagens da Sra. White, tais como:
Quando vós receberdes a Cristo como vosso Salvador pessoal, haverá uma marcante mudança em vós; sereis convertidos e o Senhor Jesus pelo seu Espírito se erguerá ao vosso lado.17
e
Eu testifico aos meus irmãos e irmãs que a igreja de Cristo, fraca e defeituosa  como possa ser, é o único objeto na terra ao qual Ele concede sua suprema consideração. Enquanto Ele estende a todos o seu convite para virem a Ele e serem salvos… Ele pessoalmente vem pelo seu Santo Espírito em meio à sua Igreja.18
Como explicar então a mudança nas palavras de O Desejado de Todas as Nações? Nós temos apenas a carta de 1895, e nenhum rascunho para a leitura final do capítulo, deixando-nos com a conclusão de que o que foi publicado em 1898 representa a leitura editada e aprovada pela autora.19 A linguagem adotada por Ellen G. White em O Desejado de Todas as Nações ajuda o leitor a evitar a má interpretação que surge quando a sentença, como originalmente construída, é isolada de todo o parágrafo do seu contexto original.

Conclusão

Em conclusão, não podemos abordar o tema da Divindade sem reconhecer as limitações da conceituação e linguagem humanas. Uma coisa é examinar o que um autor inspirado escreveu; outra completamente diferente é dizer que entendemos isto completamente.
Nosso interesse neste artigo, contudo, não foi discorrer sobre o mistério da Divindade, mas sobre a fidelidade de certas declarações descritivas encontradas nos livros de Ellen G. White. Encontramos que os manuscritos originais, as transcrições aprovadas, e/ou as primeiras edições de suas obras publicadas, apoiam as expressões trinitarianas encontradas hoje em seus escritos.

Referências

1 Artigo traduzido do original em inglês por Amin A. Rodor, Th.D.
2 Por exemplo, veja Rachel Cory-Kuchl, The Persons of God (s.l.: Aggelia Publications, 1996), 159-188.
3 www.creation-seventh-day-adventist-church.org/Binary/Essays/ePioneer.html (acessado em, 11/04/2005).
4 Cory Kuehl, 187-177.
5 Para O Desejado de Todas as Nações este processo é descrito em Arthur L. White, The Australian Years (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1893), capítulo 32, e, para maiores detalhes, veja Robert W. Olson, How The Desire of Ages Was Written (Washington, D.C., Inc., 1979) e Fred Veltman, Full Report of the Life of Christ Research Projet (n.p.: Life of Christ Research Project, Review Committee, 1988).
6 E. G. White, Carta 8, 1896.
7 E. G. White, Evangelism (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1946), 615. Extraído de Special Testemonies, Series B, nº 7, publicado em 1906.
8 Merriam-Webster’s Collegiate Dictionary, 11ª edição (Springfield, Mass.: Merriam-Webster, Inc. 2003); Webster’s New International Dictionary, 2ª edição, Unabridged (Springfield, Mass.; G. & C. Merriam Co., 1954).
9 E. G. White, SDA Bible Commentary, 6:1074. Ênfase acrescentada.
10 Evangelism, 616, 617.
11 Cory-Kuehl, 177.
12 E. G.White, Manuscrito 93, 1893, publicado em Manuscript Releases, 20: 323-325. Ênfase acrescentada.
13 E. G. White, Manuscrito 271, 1900, publicado em SDA Bible Commentary, 6:1075. Ênfase acrescentada.
14 Ibid. Esta porção não está publicada no SDA Bible Commentary.
15 E. G. White, Carta 119, 1895.
16 Publicado em Manuscript Releases, 14: 93.
17 E. G. White, Manuscrito 13, 1897, publicado em Mind, Character, and Personality, 1:124-125.
18 E. G.White, Carta 2d, 1892, publicada em Testemonies to Ministers, 15.
19 Contra o argumento de que a leitura publicada não reflete os ensinos de Ellen White, ergue-se o fato de que o texto permaneceu não-retocado por ela ao longo dos 17 anos anteriores à sua morte, e que a passagem foi repetida em um artigo que ela supriu para as Leituras da Semana de Oração, publicadas na Review and Herald de 19 de Novembro de 1908.


Adendo (adicionado em maio de 2012)

Num sermão pregado por Ellen White no Sábado, dia 20 de outubro de 1906, encontramos evidências adicionais de que ela acreditava que a Divindade consiste de três seres. O sermão inteiro foi reproduzido em Sermons and Talks, vol. 1, pp. 360-383. A declaração chave encontra-se na página 367: “Você nasceu de Deus, e encontra-se sob a aprovação e poder dos três Seres mais santos do céu, que são capazes de guardá-lo de cair.” Alguns questionaram a autenticidade dessa declaração pelo fato de não haver sido publicada enquanto Ellen White ainda vivia. Como podemos ter certeza de que o texto de Sermons and Talks é confiável? A fonte original deste sermão é o Manuscrito 95 de 1906, que foi parte do acervo de Ellen White desde a data em que o sermão foi transcrito em 1906, o que é evidenciado por outras porções do sermão publicadas por Ellen White em 13 de Dezembro de 1906 na Review and Herald.
A Figura 17 é uma fotografia do livro de cartas de 1906 de Ellen White, contendo o Manuscrito 95 de 1906 nas páginas 19-42. A Figura 18 é um escaneamento da primeira página do manuscrito, que identifica o documento, e a Figura 19 é um escaneamento da página contendo a declaração “[os] três Seres mais santos” (segundo parágrafo).


Figura 17 - Foto do livro de cartas de Ellen White de 1906, o qual contém o Manuscrito 95, 1906, nas páginas 19-42.
Figura 17 – Foto do livro de cartas de Ellen White de 1906, o qual contém o Manuscrito 95, 1906, nas páginas 19-42.


Figura 18 - Escaneamento da primeira página do manuscrito, a qual identifica o documento.
Figura 18 – Escaneamento da primeira página do manuscrito, a qual identifica o documento.


Figura 19 - Escaneamento da página contendo a declaração "os três seres mais santos" (segundo parágrafo).
Figura 19 – Escaneamento da página contendo a declaração “os três seres mais santos” (segundo parágrafo).


Fonte: Revista Parousia, 1° Semestre de 2006, UNASPRESS.



Reirado do Site: http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/as-declaracoes-trinitarianas-de-ellen-g-white-o-que-ela-realmente-escreveu/

A Divindade e a Personalidade do Espírito Santo

 O Espírito Santo não é uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho

Ozeas Caldas Moura

 Ideias heréticas sobre a divindade e a personalidade do Espírito Santo já vêm de longe. “Macedônio, bispo de Constantinopla de 341 a 360 d.C., já ensinava que o Espírito Santo era ‘ministro e servo’ no mesmo nível dos anjos. Cria que o Espírito Santo era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Isso era uma negação da verdadeira divindade do Espírito Santo”. Em 381 d.C., o Concílio de Constantinopla condenou essas idéias de Macedônio.No entanto, vê-se hoje que essas velhas heresias sobre a pessoa do Espírito Santo vêm sendo ressuscitadas, seja por mera curiosidade teológica especulativa, seja como meio de atacar a Igreja e suas doutrinas. O certo é que o conselho dado pelo apóstolo João, no I século, continua bastante válido para os nossos dias: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I João 4:1).
Concordamos que, devido à nossa limitação humana, não nos é possível abarcar tudo o que Deus é. Em relação com a pessoa do Espírito Santo, não é diferente: o que dEle podemos e devemos saber está revelado nas páginas das Escrituras, quer seja lógico ou não à razão humana. Com esse cuidado em mente, analisemos o que nos diz a Palavra de Deus sobre a Terceira Pessoa da Trindade. O que passar disso é mera especulação perigosa, que pode e tem desencaminhado da fé aqueles que se deixam levar “por todo vento de doutrina” (Efés. 4:14).

1. O Espírito Santo é Deus, pois tem os mesmos atributos de Deus. Por exemplo: santidade – em muitas passagens das Escrituras o adjetivo “santo” é acrescido ao nome do divino Espírito (Mar. 13:11; Tito 3:5); eternidade – (Heb. 9:14); onisciência – (I Cor. 2:10 e 11); onipotência – (em Lucas 1:35, o Espírito Santo é chamado de “poder do Altíssimo”; confira, ainda, a palavra “poder” ligada ao Espírito em Isa. 11:2; Miq. 3:8; Luc. 4:14 e Atos 1:8); onipresença – (Sal. 139:7-12); Criador – (Gen. 1:2; Jó 33:4; Sal. 104:30 e Eze. 37:14). Uma vez que só Deus tem esses atributos, e o Espírito Santo os tem, então ele é Deus, como Deus Pai e Deus Filho. Por isso Pedro disse a Ananias que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus (Atos 5:3 e 4).

2. O Espírito Santo é uma Pessoa. Os que dizem que o Espírito Santo é apenas uma força e não uma pessoa, deveriam atentar para os atributos pessoais com que a Bíblia O apresenta. Ele tem inteligência, pois “perscruta” ou investiga (I Cor. 2:10 e 11) e “ensina” (João 14:26 e I Cor. 2:13); tem vontade, pois distribui os dons “como Lhe apraz” (I Cor. 12:11); tem emoção, pois pode ser “contristado” (Isa. 63:10) ou “entristecido” (Efés. 4:30). Ele fala (II Sam. 23:2 e Atos 13:2); ensina (João 14:26); guia (Rom. 8:14); convence (João 16:8); contende ou age (Gên. 6:3); testifica (Rom. 8:16); separa e envia (Atos 13:2); intercede (Rom. 8:26). A palavra grega com a qual Jesus descreve a obra do Espírito Santo é PARÁKLETOS (João 14:16, 26; 15:26; 16:7; aparece também em I João 2:1), vocábulo cuja tradução é “Ajudador”, “Intercessor”, “Advogado” (na Versão Almeida, o vocábulo é traduzido por “Consolador”). Esses significados de PARÁKLETOS indicam que o Espírito Santo é uma pessoa, pois uma mera força não poderia ser um Ajudador, um Intercessor, um Advogado e um Consolador. Deve-se dizer ainda que o fato de as Escrituras apresentarem o Espírito Santo como uma pessoa divina, não contraria Deuteronômio 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. A palavra “único”, no original hebraico, é Echad (pronuncia-se “errad”), a qual indica uma “unidade composta”. Em Gên. 1:5, uma tarde e uma manhã é igual a uma echad – dia. Em Gênesis 2:24, um homem e uma mulher, mediante o casamento, são uma (echad) só carne. Se Moisés quisesse dizer que Deus é uma só pessoa, teria empregado Yachid (pronuncia-se “iarrid”), como se pode ver no caso de Isaque, que era filho “único” (Yachid) de Abrão e Sara (Gen. 22:2). O fato de Moisés ter empregado Echad e não Yachid para falar de Deus, indica que Deus é uma “unidade composta”: Pai, Filho e Espírito Santo (Mat. 28:19). Sendo que as três pessoas da Trindade são co-iguais, coeternas, da mesma natureza, da mesma qualidade e com os mesmos propósitos, então é correto dizer que adoramos Um Deus, que Se manifesta ou Se apresenta em três pessoas divinas. Em outras palavras, adoramos o Deus Triúno. Isso pode não parecer lógico à nossa pobre mente humana, limitada, finita e imperfeita, mas é o que Deus revelou acerca de Si mesmo nas páginas das Escrituras. Caberia aqui nos lembrar do conselho divino dado em Deuteronômio 29:29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre…”
 Deveríamos também atentar para o que Ellen White escreveu sobre a pessoa do Espírito Santo: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade… Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo. …Os eternos dignitários celestes – Deus, Cristo e o Espírito Santo – munindo-os [aos discípulos] de energia sobre-humana, … avançariam com eles para a obra e convenceriam o mundo do pecado.
“Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos. O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. …O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com e com nosso espírito que somos filhos de Deus.
Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus. “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais altos no Céu – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de Deus.”3

Referências:
1. CAIRNS, E. E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), pág. 109.
2. Pedro Apolinário, As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia (São Paulo: Gráfica do IAE, 1986), pp. 84 e 85.
3. Ellen White, Evangelismo. 2ª. Ed. (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1978), pp. 615-617.


Fonte: Revista Adventista, novembro de 2002, pp. 16 e 17.


Retirado do site: http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/trindade/a-divindade-e-a-personalidade-do-espirito-santo/

Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo


José Carlos Ramos, D.Min.

Professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

Resumo: O Espírito Santo é revelado nas Escrituras como uma Pessoa divina semelhante ao Pai e ao Filho e, ao mesmo tempo, distinta de ambos. Mas grupos dissidentes do adventismo insistem que o Espírito Santo não passa de mera energia despersonalizada proveniente de Deus. Em resposta a essa teoria, o presente artigo provê um estudo bíblico-exegético sobre a natureza da terceira Pessoa da Divindade. O autor também procura restaurar o sentido original de algumas citações dos escritos de Ellen G. White distorcidas pelos antitrinitarianos.



Abstract: The Holy Spirit is revealed in the Scriptures as a divine Person like the Father and the Son but, at the same time, distinct to both. However, Adventist offshut groups insist that the Holy Spirit is only a mere despersonalized energy from God. In response to this theory, the present article provides a biblical-exegetical study on the third Person of the Godhead. The author also tries to restaure the original meaning of some quotations from the writings of Ellen G. White that have being distorted by anti-Trinitarians.


Introdução

Dos membros da Trindade, o terceiro é Aquele de Quem há menos informações objetivas, precisas, que definam o seu próprio Ser. O Filho Se tornou um de nós. Sua manifestação foi visível, material, em nosso nível. O Pai foi por Ele revelado. Mas o Espírito permanece um tanto imperceptível, à parte, despretensioso, operando sem autoprojeção, não Se impondo, não falando “de Si mesmo” (Jo 16:13). E no próprio ato do desprendimento, Ele cumpre a divina obra que O faz conhecido. É parte de Sua glória exaltar e glorificar o Filho e, através do Filho, o Pai, fazendo com que a revelação de ambos se efetive na consciência humana. Que exemplo de abnegação!
No quarto Evangelho, o Espírito executa pelo menos sete atividades, todas em exaltação a Jesus:
(1) Ensinar, e
(2) Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – João 14:26
(3) Dar testemunho de Jesus – João 15:26
(4) Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque Ele foi para o Pai; e do juízo, porque Satanás foi julgado e derrotado – João 16:8
(5) Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – João 16:13
(6) Declarar ou anunciar o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – João 16:13, 14, 15
(7) Glorificar a Jesus – João 16:14
O Apocalipse refere-se a Ele como os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4, 5; 4:5). Sete é o número da plenitude. O Espírito alcança a plenitude nesta atividade cristocêntrica sétupla.
Isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem o operar do Espírito, seria como se Jesus nunca tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e responder positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir Sua missão e estaríamos fadados a permanecer neste mundo indefinidamente.

Objeto de especulação

Talvez o fato de existir pouca informação sobre o Espírito Santo faça com que uma conceituação sobre Ele se torne mais susceptível de especulação. Nos dias de Ellen G. White havia aqueles que afirmavam que o Espírito era uma “luz derramada” e “uma chuva caída”. Ela considerou essas ideias como de cunho espiritualista, ou espiritista, e as condenou por rebaixarem a Deus.1
Igualmente afrontoso é tomá-Lo por criatura. Há os que acreditam que Ele e Gabriel se equivalem. A inspiração nega isso fazendo clara distinção entre ambos no registro das palavras deste anjo a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo…” (Lc 1:35). Gabriel não poderia estar falando de si mesmo. E Ellen G. White assegura que o seguidor de Jesus pode sentir-se confiante e seguro no conflito “contra as hostes espirituais da maldade”, porque “mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha.”2 Rebaixar o Espírito Santo à categoria de anjo é, na realidade, minimizar a Deus, algo muito a gosto de Satanás.
Outra forma especulativa no tratamento de tão sublime tema é despojar o Espírito de Sua personalidade. Entre os que negam a Trindade, é comum a afirmação de que Ele é apenas uma influência ou energia – o poder de Deus. Esta idéia é tão antiga quanto o século terceiro, quando Paulo de Samosata, monarquista/adocionista e bispo de Antioquia entre 260 e 272, a difundiu. No tempo da Reforma, Lélio Socino e seu sobrinho Fausto, ambos antitrinitaristas, propagaram a teoria.
Não há como negar que este conceito rebaixa o valor do Espírito Santo para a Igreja. L. E. Froom a isto se refere quando afirma que negar a personalidade do Espírito não é
mera questão técnica, acadêmica ou simplesmente teórica. É de suprema importância e do mais elevado valor prático. Se Ele é uma Pessoa divina e O consideramos como influência impessoal, estamos roubando desta Pessoa divina a deferência, honra e amor que Lhe são devidos. E mais: Se o Espírito é mera influência ou poder, podemos então procurar apropriar-nos dEle e usá-Lo.3
Continua Froom:
Não, o Espírito Santo não é uma tênue, nebulosa influência imanente do Pai. Não é algo impessoal, vagamente reconhecido, apenas um invisível princípio de vida… Jesus foi a personalidade mais influente e marcante neste velho mundo, e o Espírito Santo foi designado para preencher Sua vaga. Nada a não ser uma Pessoa poderia substituir Aquela maravilhosa Pessoa. Nenhuma simples influência seria suficiente.”4
Para substituir uma Pessoa maravilhosa só outra Pessoa maravilhosa.

Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e o gênero neutro de Pneuma

Dissidentes se valem do fato de a Bíblia identificar o Espírito Santo como Espírito de Deus ou de Cristo (1Jo 4:2; 1Co 3:16; Gl 4:6; 1Pe 1:11, entre outros textos), para afirmar que o Espírito Santo é algo inerente a Deus, tal como a Sua energia, virtude, fôlego, glória, etc., e que, portanto, ao ser enviado, “parte de dentro (do interior) do Pai”.5
Ricardo Nicotra e Jairo de Carvalho, como exemplos, presumem que o verbo ekporeúomai, empregado em João 15:26 (um dos textos que registram a promessa do envio do Espírito), e vertido como “proceder” na Almeida Revista e Atualizada, significa originalmente sair, ou partir, ou vir de dentro de, do interior de.6 Não se sabe de onde eles copiaram esta idéia, mas o que temos aqui é uma dedução apressada e temerária. Quando tão somente ekporeúomai é registrado, não é feita referência ao ponto de partida do movimento que ele expressa; nesse aspecto, o verbo significa simplesmente sair, partir, encaminhar-se, conduzir-se, proceder, etc. (no sentido de ida e de vinda), tal como aparece em algumas passagens, como Lucas 3:7, que fala de multidões que “saíam para serem batizadas” (saíam de onde?), ou Atos 9:28, informando que, estando Paulo em Jerusalám, entrava e saía com toda a liberdade (entrava e saía sem sair de Jerusalém, isto é, ele se movimentava livremente na cidade).
Às vezes, o sentido de procedência de ekporeúomai está implícito, mas normalmente ele é dependente da preposição que rege o ponto de origem explícito na frase. Por esta razão, é totalmente supérfluo se valer de outros textos em que este verbo é empregado aparentemente com o significado aludido pelos dissidentes, se, nesses textos, a preposição é distintamente outra. Três exemplos alegados por Nicotra, com as referidas preposições aqui italizadas, são como seguem:
(1) “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4);
(2) “O que sai do homem, isso é o que o contamina” (Mc 7:20); e
(3) “Então vi sair da boca do dragão, da boca da besta…” (Ap 16:13).7
O original de (3) não consigna verbo algum, e é levado em conta apenas na pretensão do dissidente, razão porque desconsideramos esse exemplo. Observamos, então, que em (1), a preposição é diá cujo sentido principal é através de; qualquer palavra, normalmente, é emitida através da boca, daí procedendo. Alegar que antes que uma palavra seja dita ela se formulou na mente, o que pode até ser um fato,8 e que, portanto, significa “sair de dentro”, é impor ao verbo um sentido que ele, por si só, não reúne. É a preposição que se liga ao ponto de onde parte o movimento que poderá dar esse significado.9
Por exemplo, em (2), a preposição é ek, “de, desde”, e pode implicar o sentido “de dentro de”, como o emprego de ésôten, “de dentro”, em Marcos 7:21 e 23 demonstra. Dizemos que pode, porque nem sempre é isto o que ocorre, ainda que seja empregada a preposição ek. Exemplos: “Do trono [ek tou thrónou] saem relâmpagos, vozes trovões…” (Ap 4:5), e “rio da água da vida… que sai do trono [ek tou thrónou] de Deus” (22:1) não significam necessariamente que os relâmpagos, vozes, trovões e o rio saem de dentro do trono.
Ademais, se o sentido original de ekporeúomai fosse mesmo “vir de dentro”, como querem os dissidentes, seria uma desnecessária redundância Marcos 7:21 e 23 registrar ésôthen ekporeúetai, “procedem de dentro”; seria o mesmo que dizer em português: sair para fora, entrar para dentro, subir para cima e descer para baixo.
Assim, a preposição é importante para se estabelecer o ponto de origem do movimento expressado por ekporeúomai. Em João 15:26, a preposição é pará, também “de, desde”, mas com a acepção de posição, colocação, etc. (cf. à nossa palavra paralelo). Segundo Robertson, uma das maiores autoridades no estudo do koiné, o grego popular do Novo Testamento, pará significa “ao lado de”, “junto com”.10 Em outras palavras, o Espírito Santo procede de onde o Pai está, não do íntimo dEle.
Assim, o verbo ekporeúomai, para ter o significado requerido por Nicotra e Carvalho na aplicação que fazem ao Espírito Santo, teria que, no mínimo, estar ligado à preposição ek, ou, então, apó, como na construção “saía de Jericó” em Marcos 10:46. E este não é o caso em João 15:26.
Portanto, a fórmula “Espírito de Deus”, ou “de Cristo”, indica procedência e não inerência, e implica que a obra do Espírito Santo é executada em subordinação ao Pai e ao Filho. Parte desta obra é a representação vicária de Ambos neste mundo. De fato, Jesus prometeu aos discípulos que, juntamente com o Pai, retornaria para eles na pessoa do Espírito Santo (Jo 14:16-18, 23).
Outro expediente utilizado pelos que rejeitam a personalidade do Espírito Santo é o gênero neutro do grego pneuma, espírito. “A Bíblia não empregaria uma palavra neutra para identificar uma personalidade,” dizem. Contra esta hipótese se verifica que o termo é usado em referência a entidades reconhecidamente pessoais. “São todos eles espíritos ministradores…”, afirma o escritor sagrado acerca dos anjos (Hb 1:14).

Especulação na ordem do dia

Condenando as especulações, o Espírito de Profecia adverte: “A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não revelou. Com fantasiosos pontos de vista, pode-se reunir passagens das Escrituras e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a Igreja. Com relação a tais mistérios – demasiado profundos para o entendimento humano – o silêncio é ouro.”11
Quanto a esse assunto (natureza do Espírito Santo), está na ordem do dia o que Ellen White classifica de “fantasiosos pontos de vista”. Dissidentes oportunistas e aventureiros, com “comichões nos ouvidos” (2Tm 4:3), imaginam ser crime de apostasia a aceitação da divindade do Espírito Santo, e, inescrupulosamente, intentam arrancar das páginas sagradas alguma noção que lhes satisfaça as divagações; com isto, acabam preterindo o criterioso ensino bíblico e do Espírito de Profecia sobre tão sublime tema, por arrazoados fantasistas e inconsequentes que, no mínimo, denigrem o caráter sacratíssimo deste Ser. E isso, sim, é crime. E o que é pior: julgam-se os portadores da verdade, enquanto o povo de Deus, em sua totalidade, está errado.
Não obstante, o que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua veemente censura, está literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do Senhor denunciou, os atuais dissidentes igualmente reúnem um punhado de “passagens bíblicas”, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo respeito às mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia temática ilegítima que as obriga a afirmar aquilo que eles pretendem. O resultado é uma interpretação barata, superficial, abusiva, tendenciosa, sem o necessário respaldo de pesquisa séria e responsável, o que, inevitavelmente, conduz a conclusões confusas e contraditórias; ora o Espírito é definido em termos de pessoalidade, ora em termos de abstração.
Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela em publicações produzidas por separatistas. Algumas colocações aí feitas quanto ao Espírito Santo são de estarrecer mesmo o leitor casual. “Entre outras, cada qual mais descomunalmente absurdas,”12 são feitas as seguintes declarações:
O Espírito Santo…
(1) …é o sopro, o fôlego de Deus,13 no sentido de que da mesma forma que o homem tem fôlego (isto é, espírito) Deus também tem fôlego (isto é, espírito).14 Em outras palavras, a teoria transforma uma simples analogia empregada por Paulo (ver 1Co 2:11) numa realidade substancial que toma o homem por modelo. Mas se isto é o que Espírito de Deus significa, é inevitável a ideia de que o antropomorfismo divino, longe de ser um engano,15 é um conceito correto: o homem é a padronização de Deus – como é com ele, assim é com Deus!!! Mas vejamos: não importando se o homem tem fôlego porque respira ou respira porque tem fôlego, uma questão aqui pertinente é: Deus respira? (bem, esse seria o caso se Ele tivesse fôlego como o homem). Tem Ele um sistema respiratório que inclui, por exemplo, pulmões? Há no céu uma camada atmosférica para suprir a respiração dos que ali habitam?
(2) …é o próprio Senhor,16 no sentido de que o Espírito Santo equivale ou a Cristo, ou ao Pai, ou a ambos. Este raciocínio descamba para uma variação de outra heresia; seria um sabelianismo17 dicotômico.
(3) …é isto.18 O dissidente Jairo Carvalho afirma que é “um total desprezo chamar mesmo um ser humano de ‘isto’”, quanto mais Deus, o que para ele é “uma prova de que o Espírito Santo não pode ser um Deus”,19 já que, como ele supõe, Atos 2:33 O identifica como “isto”. Mas nesse caso, não importando o que ou quem Ele seja, o Espírito Santo é, segundo esse raciocínio, inferior ao próprio homem, pois “isto”, que não é cabível a este, é próprio para o Espírito Santo.
Pena que o Sr. Carvalho não tenha percebido que o demonstrativo neutro não se aplica à pessoa do Espírito Santo propriamente, mas ao efeito poderoso da Sua operação, o milagre que todos testemunharam! O texto diz: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Por um lado, “Espírito Santo”, o assunto da promessa, e “isto”, o que foi derramado, não se correspondem necessariamente; por outro lado, segundo o discurso de Pedro à multidão atônita, o “isto” foi referido como aquilo que “vedes e ouvis”. O que eles viam e ouviam? Era o Espírito Santo ou era a Sua operação? Bem, ali estava um grupo de iletrados galileus falando, nos vários idiomas representados, as grandezas de Deus (vs. 6-8, 11 e 12), e isto eles estavam muito bem vendo e ouvindo; em outras palavras, eles testemunhavam o poder do Espírito em exercício, e era exatamente o poder do Espírito, e não Sua pessoa, que fora derramado.
Com efeito, Atos não afirma que Deus derramou o Seu Espírito, mas do Seu Espírito (ver 2:17). Em 10:45, é o “dom do Espírito” que “foi derramado.” À luz de 1 Coríntios 12, o Espírito Santo é tanto dom como doador. Derramar significa conceder generosamente, e refere-se fundamentalmente aos recursos do Espírito. Dias antes, Jesus havia prometido isso aos discípulos; receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito (At 1:8). É a Pessoa quem desce; é o poder que é “derramado”. O que aconteceu com a igreja primitiva foi a repetição do que já acontecera com Jesus (10:38). Neste texto, o Espírito é distinto de poder, e vice-versa. De fato, ao ser batizado, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba (Mt 3:16), e o resultado foi um poderoso ministério. O senso de derramamento transparece no relato de Marcos, que afirma que “os céus rasgaram-se” (1:10), enquanto o de pessoalidade é notado em Lucas, ao afirmar que o Espírito veio em “forma corpórea” (3:22).
Houve, portanto, uma compreensão equivocada de Atos 2:33 por parte do Sr. Carvalho. O demonstrativo isto se refere antes à consequência da manifestação do Espírito, que à Sua pessoa.
(4) …é a mente de Deus.20 Mas a Bíblia diz que o próprio Espírito tem mente (Rm 8:27); seria correto falar em mente da mente?
(5) …é o dedo de Deus.21 Nesse caso, o Espírito Santo seria uma pequena parte d[o corpo d]e Deus. E aí pergunta-se: “Deus tem corpo?”
(6) …é qualquer anjo fiel22 com especial menção primeiramente a Lúcifer,23 então a Gabriel, quando aquele que se tornou Satanás foi expulso do céu.24 Na verdade, o autor confundiu a verdade afirmando que Gabriel é um Espírito Santo, mas não o Espírito Santo, o qual é a glória de Deus.25 Mas quantos Espíritos Santos existem? A Bíblia diz que é apenas um (Ef 4:4). Para Carvalho, entretanto, qualquer anjo fiel pode ser um Espírito Santo; Gabriel é a terceira pessoa da Divindade (que ele insiste em dizer que é “a partir da Divindade”),26 e deve ser distinguida do Espírito Santo. Mas a inspiração afirma que ambos, a terceira pessoa e o Espírito Santo, são o mesmo ser: “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Divindade,27 o Espírito Santo.”28
(7) …é a glória de Deus.29 Aqui o dissidente se aproximou consideravelmente de uma das abstrações espíritas condenadas por Ellen G. White; havia em seu tempo aqueles que diziam que o Espírito Santo era uma “luz derramada”.30 Mas o mais deplorável é consignado ao final das colocações de Carvalho: como o Espírito Santo é meramente a glória divina, então mesmo o “pior inimigo de Deus”, Satanás, tem o Espírito Santo, pois ele “ainda possui um pouco da glória que recebeu de Deus.”31 Simplesmente estarrecedor!
É espantoso como determinados elementos, como fruto de seus devaneios, chegam ao extremo de nescidades como esta; isto é sacrilégio de elevada ordem, diante da qual as palavras de Jesus soam oportunas: “…a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. … Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir… visto que é réu de pecado eterno”(Mt 12:31, 32; Mc 3:29).  Dizer que o Espírito Santo é a glória de Deus, que o próprio diabo ainda retém e emprega em sua obra de engano, como o Sr. Carvalho afirma, é, na realidade, dizer que o Espírito Santo é um instrumento nas mãos do diabo para a operação do mal e serviço do pecado!!! Na esperança de, quem sabe, despertar um pouco a consciência do dissidente, pergunto: “O Espírito Santo continua ainda glorificando a Cristo, como João 16:14 afirma que é uma de Suas tarefas, quando Ele é usado pelo diabo em sua obra satânica?”

Um Ser pessoal e divino

Impugnadas as lucubrações meramente humanas quanto ao Espírito Santo, observemos agora o que a revelação tem a dizer sobre tão excelso tema.
Quando Ellen G. White afirma que “a natureza do Espírito Santo é um mistério”,32 não significa que nada podemos aprender sobre Ele. Aquilo que a revelação nos transmite não é especulação; é a realidade que temos o dever de, pela fé, aceitar.
Dois pontos sobre o Espírito Santo estão devidamente assentados nas páginas sagradas: Ele é uma pessoa, e é Deus. “O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus.”33

A Personalidade do Espírito Santo

A personalidade do Espírito Santo é claramente inferida do testemunho bíblico. As seguintes referências não deixam dúvida a respeito:
(1) Ele é citado entre pessoas: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo…” (At 15:28). Além disso, Ele aparece na fórmula batismal junto ao Pai e ao Filho (Mt 28:19); seria redundância Jesus mencionar o Espírito Santo, tendo já mencionado o Pai, fosse Ele a mera energia dEste, ou Seu sopro, ou Sua glória; também não faria sentido Jesus ordenar o batismo em nome de uma Pessoa, o Pai, de outra Pessoa, o Filho, e agora em nome de uma energia, ou sopro, ou glória, o Espírito.34
(2) Pode e deve ser mantida comunhão com Ele (Fp 2:1; 2Co 13:14). Não se mantém comunhão com uma energia, nem com um sopro, ou glória.
(3) Não é mero poder, mas tem poder (Rm 15:19). Seria outra redundância a Bíblia falar do poder do Espírito Santo, fosse Ele mero poder; seria “o poder do poder”, o que é um contra-senso, da mesma forma que “mente da mente” visto acima.
(4) Pode-se mentir a Ele (At 5:3). Mente-se a uma pessoa e não a uma energia, a uma luz, ou à glória.
(5) Pode-se-Lhe resistir (At 7:51). É possível cumprir o papel de um resistor (componente que impede, ou atenua, o fluxo da corrente elétrica) para com o Espírito Santo? Sim, e isto o pecador faz quando, diante do apelo divino, prefere permanecer no erro. Mas tal não significa que o Espírito Santo não seja uma pessoa, pois não é apenas a uma energia que se resiste. Pessoas também podem ser resistidas, incluindo Deus (11:17). O texto fala de se resistir às claras evidências da verdade, apresentadas pelo Espírito Santo.
(6) Pode-se guerrear contra Ele (Gl 5:17). O que é uma intensificação de resistência ao Espírito Santo.
(7) Pode-se ultrajá-Lo (Hb 10:29). Como é possível ultrajar uma energia, o sopro, a glória? Ultrajar se liga naturalmente ao sentido de afrontar, insultar, difamar, injuriar, ofender, deprimir, vilipendiar, desacatar, vituperar, envergonhar. Como se pode fazer tudo isso a uma abstração?
(8) Pode-se blasfemar contra Ele como se blasfema contra o Filho (Mt 12:31). É possível blasfemar contra o sopro, contra uma energia? Blasfema-se contra uma pessoa, como é caso de Jesus aqui.
(9) Ele executa específicas funções próprias, não de uma abstração, mas de uma pessoa:
sonda, perscruta a Deus – 1Co 2:10
concede dons para a edificação da Igreja – 1Co 12:8, 12
manifesta-Se nesses dons –1Co 12:7 (em outras palavras, ao conceder dons à Igreja o Espírito Se dá a ela)
contende com pecadores – Gn 6:3
ordena sobre itens relevantes para a obra e o povo de Deus – At 8:39; 10:19, 20
envia pessoas no processo do cumprimento de alguma missão – At 10:19, 20
ensina o que uma vez ouviu – Jo 16:13 (ouvir não é próprio de uma energia), ver também 14:26; 1Co 2:13
revela, especialmente pelo exercício profético – At 1:16; 2Pe 1:21; 1Tm 4:1
testifica através da intuição na consciência, bem como com o testemunho da Igreja – Rm 8:16; At 5:32; Ap 22:17
move o agente humano na captação da revelação divina – 1Pd 1:21
incute novas realidades ainda não percebidas – Hb 9:8
indica a correta compreensão do que é revelado – 1Pd 1:11
guia os filhos de Deus – Rm 8:14, inclusive na busca de “toda a verdade” – Jo 16:13
assiste nas fraquezas – Rm 8:26
intercede corrigindo nossas orações – Rm 8:26
produz frutos na vida dos que se submetem a Ele – Gl 5:22, 23
lava e renova, o que resulta em salvação – Tt 3:5. Em João 3:5, 6 este ato é referido por Jesus em termos do novo nascimento
escreve a lei de Deus nas tábuas do coração – 2Co 3:3
santifica – 2Ts 2:13; 1Pd 1:2
sela os que são de Deus – Ef 1:13
(10) Ele possui mente (Rm 8:27). O termo grego, traduzido “mente” neste texto em algumas versões, é phrónema (alguma coisa que se tem em mente, que passa pela mente, o pensamento), em contraste com nous (a mente como sede da consciência, da reflexão, da percepção, do entendimento, do julgamento crítico e da determinação). O importante é que phrónema pressupõe a existência de nous. Apenas um ser pessoal é dotado de nous, e pode exercer phrónema. O Espírito Santo é um ser pensante, o que implica inteligência e consciência. Ele não pode ser menos que uma pessoa.
Mas o que é uma entidade pessoal? É aquela que afeta outras entidades pessoais e é afetado por elas. Afeta-nos Deus? Naturalmente. Podemos afetá-Lo? Bem, Sua tristeza e alegria, misericórdia e justiça, interesse por nós e condescendência, amor e ira indicam que sim. Deus é afetado por Suas criaturas porque antes de mera consciência das coisas, Ele tem autoconsciência; esta é o traço fundamental da personalidade porque é a capacidade que uma pessoa tem de referir a si mesma a consciência de qualquer coisa ou experiência pela qual passa. Isso não acontece com um animal, porque ele não pode distinguir entre o ego pessoal e a momentânea sensação que experimenta. Por não ser um ente pessoal, ele não consegue formar uma noção objetiva de seus sentimentos e das ações que estes geram, e aplicá-los a si mesmo. O ser humano, ao contrário, torna-se, por exemplo, consciente de erros cometidos, reconhece-os como tais, e chega à autoconsciência da culpa. Isso porque é um ser pessoal, dotado de mente e razão.
Aplicando isso a Deus, dizemos que Sua autoconsciência é prova irretorquível de Sua personalidade. Isaías 55:8 fala de Seus pensamentos. Ele pensa porque tem mente, e ter mente O faz pessoal. Então, quando nos é afirmado que também o Espírito Santo tem mente, não podemos senão concordar que Ele é, de fato, um ser pessoal. Se assim é, perguntamos: afeta Ele a cada um de nós? Por suposto que sim.35 Afetamos igualmente a Ele? Claro, pois a Bíblia fala da tristeza (Ef 4:30), do anseio (Tg 4:5), da alegria (1Ts 1:6), da vontade (1Co 12:11), do amor (Rm 15:30), e até do ciúme (Tg 4:5) do Espírito Santo.
(11) Além disso, o Novo Testamento emprega fartamente pronomes pessoais gregos em referência ao Espírito Santo. Apenas em João 14-16 isso ocorre 24 vezes, e Ele próprio faz referência a Si com o pronome pessoal: “Disse o Espírito [a Pedro]: Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles nada duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19, 20).
(12) Finalmente, a palavra inconteste de Jesus não deixa qualquer margem para dúvida no que respeita à personalidade do Espírito Santo. “Eu rogarei ao Pai,” prometeu Ele à Igreja, “e Ele vos dará outro Consolador, o Espírito Santo” (Jo 14:16, 26). Chamando-O “Consolador”, Jesus evocou Sua personalidade. O original parákletos (etimologicamente chamado para estar ao lado de), é masculino e aplica-se à pessoa que apóia, conforta, orienta, defende, etc., o que uma abstração não faz.

A Divindade do Espírito Santo

Um estudo mais atento da Palavra de Deus, e, acima de tudo, desprovido de idéias pré-concebidas, atesta naturalmente a divindade do Espírito Santo. Pode Ele ser menos que Deus, se possui os atributos exclusivamente divinos de Eternidade (Hb 9:14), Onisciência (1Co 2:10 e 11) e Onipresença (Sl 139:7)? Quem menos que Deus pode criar e comunicar vida (Jó 33:4), convencer do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8), regenerar (Tt 3:5), santificar (2Ts 2:13; 1Pe 1:2), escrever Sua lei nas tábuas do coração (2Co 3:3), ressuscitar (Rm 8:11), e selar o crente para o dia da redenção (Ef 4:30)?
Como um ser menor que Deus pode perscrutá-Lo? (1Co 2:10). Como pode a blasfêmia contra o Espírito Santo não ser perdoada, enquanto que aquela contra Jesus pode (Mt 12:31)? Porventura, pecar contra uma coisa, ou uma criatura, é algo mais sério que pecar contra Deus? E como é possível que, segundo a fórmula batismal (28:19), alguém deva ser batizado em nome do Pai (que é Deus), do Filho (que também é Deus), e do Espírito Santo (que seria uma coisa ou uma criatura, como supõem os antitrinitaristas)?
Além disso, é-nos afirmado que, no próprio ato de mentirem ao Espírito Santo, Ananias e Safira mentiram “a Deus” (At 5:4). Nesse mesmo sentido de correspondência, Paulo primeiramente declara que somos santuário “de Deus, e que o Espírito de Deus habita em” nós (1Co 3:16; ver também 6:19), para então afirmar que “somos santuário do Deus vivente”, e que é o próprio Deus que habita em nós (2Co 6:16, 17). Percebemos claramente aqui que o Espírito Santo habitando no coração é Deus se fazendo aí presente. Isso não seria possível se Ele mesmo, o Espírito Santo, não fosse Deus.
E quanto a Jesus? Reconheceu Ele a divindade do Espírito Santo? Bem, deixemos mais uma vez que Ele fale. Ele prometeu “outro Consolador” (Jo 14:16). “Outro” pressupõe um Consolador prévio, o próprio Jesus, também identificado como Parákletos (1Jo 2:1). Dois termos gregos são vertidos “outro” em nossas Bíblias: állos e héteros, o primeiro, empregado aqui, significando “outro da mesma espécie”, enquanto o segundo “outro de natureza diferente”. O prometido Consolador é Alguém tão divino quanto Jesus. Fosse Ele Gabriel, como querem os dissidentes, teria que ser classificado héteros, e não állos.
Mas, qual a qualidade da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não deixam por menos: Ele é tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a eternidade (Jo 1:1; 10:30). “Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido. Ele esteve com Deus desde toda a eternidade…”36 Se assim é com o primeiro Consolador, não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia confirma esse fato: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal.”37 “Toda a plenitude da divindade” é precisamente o que Colossences 2:9 afirma residir corporalmente em Cristo. De fato, o Espírito Santo é o segundo Consolador, da mesmíssima natureza do primeiro.
É-nos afirmado ainda: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é uma pessoa, como o próprio Deus, está andando por estes terrenos.”38 Pode ainda haver dúvida que, à luz da inspiração, o Espírito Santo seja uma pessoa, e seja Deus?

Um com o Pai e um com o Filho

Um último ponto referente à divindade do Espírito Santo se faz necessário. Pela doutrina da Trindade entendemos que Jesus é um com o Pai porque possui a mesma natureza divina dEle. São distintos como Pessoas, mas iguais em Divindade. Isto resulta em que onde Um está pessoalmente, ali o Outro estará essencialmente. Enquanto o Filho estava pessoalmente na Terra, o Pai estava essencialmente aqui (embora pessoalmente continuasse no Céu), pois Jesus afirmou: “Não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32). Da mesma forma, enquanto O Pai estava pessoalmente no Céu, Jesus estava essencialmente ali, pois disse a Nicodemos muito antes da ascensão: “Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, o Filho do homem que está no Céu” (3:13).39
Devemos crer que é exatamente isso o que ocorre em relação ao Espírito Santo? A resposta é “sim!”, pois, como vimos, Ele é állos, isto é, da mesma natureza divina de Jesus. É por isso que o Salvador, imediatamente após prometer a vinda do “outro Consolador” que estaria não apenas “com”, mas “nos” discípulos (Jo 14:16, 17), pôde também assegurar-lhes que, por este Consolador, Ele, Jesus, voltaria para eles (v. 18) e, com o Pai, faria neles morada (v. 23). Isto porque o Espírito Santo é igual a Jesus e ao Pai em divindade. Assim, onde Ele estiver, Pai e Filho também estarão. É por esta razão que Jesus declarou ser vantajoso aos discípulos que voltasse ao Céu, pois assim lhes enviaria o Espírito (Jo 16:7), e, através dEle, estaria em todo o tempo com toda a Sua comunidade de seguidores.
O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente. Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em toda a parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles [os discípulos] que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra. Ninguém poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal como Cristo. Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto.40
Com isto em mente, não há qualquer dificuldade para se entender o que Ellen G. White quis dizer quando declarou:
Impedido por Sua humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente; então foi para benefício deles que Ele deveria deixá-la, ir para o Pai, e enviar o Espírito Santo para ser Seu sucessor na Terra. O Espírito é Ele mesmo, despojado da personalidade humana e independente dela. Ele Se representaria como estando presente em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.41
Como ela afirma, o Espírito Santo reunindo, a exemplo de Jesus, a plenitude da divindade, é o sucessor de Cristo, e pode tão perfeitamente representá-Lo neste mundo, que se torna uma bendita realidade a presença essencial dEle aqui, isto é, “Ele mesmo,” Cristo, “despojado da personalidade humana e independente dela… como estando presente [com Seu povo] em todos os lugares por Seu Espírito, como onipresente.” “O Senhor Jesus age através do Espírito Santo, pois é Seu representante.”42
Quão surpreendentemente fascinante é o plano de Deus e Seu trato com os pecadores! Enaltecido seja o Seu nome.

Conclusão

Que pessoa maravilhosa é o Espírito Santo! Que humildade, que interesse, que desvelo! Ele nos ama a ponto de instar conosco a que sejamos salvos. Ele está disposto a aplicar em nossa vida a obra redentora da cruz em toda a Sua extensão. A exemplo do Pai e do Filho, Ele anseia por nossa presença no reino de Deus. Já Lhe agradecemos por isso?
De fato, Ele é um precioso amigo. Se O resistirmos, magoá-Lo-emos, e Ele poderá se afastar triste e pesaroso por nossa indelicadeza e apego a ideias que O desmerecem, e que resultarão finalmente em nossa ruína eterna. Mas se O valorizarmos como Ele merece, e O acolhermos em nossa vida, Ele tomará posse do nosso ser, far-nos-á crescer em semelhança com Jesus, até que coloquemos nossos pés na cidade celestial.
“Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 4:7).

Referências

1 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 614.
2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 352. Esta afirmação do Espírito de Profecia denota claramente a personalidade e divindade do Espírito Santo.
3 LeRoy E. Froom, A Vinda do Consolador (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 40. À página 36 da edição castelhana, acrescenta-se ao final do parágrafo a seguinte colocação: “Mas se O reconhecemos como Pessoa, estudaremos como nos submeter a Ele de modo que nos use segundo Sua vontade.”
4 Ibid, 41, 42.
5 Ricardo Nicotra, “Eu e o Pai Somos Um” (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão, maio/2004), 9, 34 e 35; Jairo Carvalho, A Divindade (Contenda, PR: Ministério 4 anjos, s.d.), 114.
6 Ibid, 35.
7 Ibid.
8 Embora, de vez em quando, palavras sejam proferidas ou escritas por aí sem, ao menos, se pensar nelas.
9 É bom lembrar neste momento que Jesus é chamado Logos, “Palavra” (a Almeida verte “Verbo”), nos escritos joaninos (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13), e nem por isso iríamos afirmar que Ele, na encarnação, procedeu de dentro do Pai. O emprego da preposição prós, “com”, no prólogo do quarto Evangelho indica que Jesus veio da íntima companhia do Pai, de um relacionamento face a face, de um companheirismo como iguais (ver A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Reserarch [Nashville, TN: Broadman, 1934], 613, e The Divinity of Christ in the Gospel of John [New York: Fleming H. Revell, 1916], 39): “O Verbo estava com [prós] Deus… Ele estava no princípio com [prós] Deus” (Jo 1:1, 2). Vemos, então, que é sempre importante levar em conta a preposição usada e sua conotação.
10 Robertson, A Grammar, 613; ver pp. 553-649 para uma abordagem geral das preposições gregas.
11 Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), 52.
12 A fórmula é de Rui Barbosa em alusão às prerrogativas papais de infalibilidade (ver O Papa e o Concílio [Rio de Janeiro: Elos, s/d], I:113).
13 Nicotra, 8, 9. Carvalho, 44-46, 74, 110.
14 Nicotra, 8, 9, 11.
15 Por exemplo, muito da “teologia” grega do tempo dos apóstolos era antropomórfica, o que naturalmente recebeu o repúdio da fé cristã.
16 Nicotra, 12, 32, 33, 36; Carvalho, 18, 19, 20, 21, 26, 31, 32, 50, 51,
17 Sabelianismo, de Sabélio, herege do terceiro século, que afirmava que uma única Pessoa na Divindade se manifesta de três modos distintos: às vezes como Pai, outras como Filho, e ainda outras como Espírito Santo. Assim, para Sabélio, o Espírito Santo era às vezes o Pai, outras vezes o Filho.
18 Carvalho, 21.
19 Ibid.
20 Nicotra, 8.
21 Ibid, 28.
22 Carvalho, 24.
23 Ibid, 132, 133.
24 Ibid., 80, 134, 135, 136, 137.
25 Ibid., 80, 137.
26 Ver nota a seguir.
27 “A partir da Divindade”, em vez de “da Divindade”, é como Jairo Carvalho verte o original inglês “of the Godhead”, do texto em apreço de Ellen G. White. Ele recorre ao Webster’s Dictionary em apoio à sua versão, afirmando que, segundo este, “of ” é sinônimo de “from”, que ele afirma significar “a partir de” (107). Mas, na acepção que o dissidente requer, é duvidoso atribuir tal significado à preposição “from”. Em sua edição mais completa, o aludido dicionário supre os diversos casos de equivalência entre “of” e “from”, e nenhum deles coincide com o que o dissidente imagina (ver “of ” em Webster’s Dictionary of the English Language – Unabridged – Encyclopedic Edition [Chicago, IL.: J. G. Ferguson Publishing Company, 1979], II:1241, 1242). Igualmente não pode ser alegado que, “na época em que o texto [de Ellen G. White] foi escrito, por volta de 1890”, um dos significados de “of ” era “a partir de” (Carvalho, 107, 128), pois o mesmo Dicionário supre os significados obsoletos do termo e também nenhum deles é o que o dissidente pretende. Quisesse a serva do Senhor declarar o que ele afirma, teria registrado algo como “starting from” em lugar do simples “of ”.
28 Evangelismo, 617. Se é apenas pelo poder do Espírito Santo que se vence o inimigo, o que será dos que O negam e rejeitam? Senhores dissidentes, pensem nisso!
29 Carvalho, 22, 52, 114, 116, 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143, 159.
30 Evangelismo, 614.
31 Carvalho, 165.
32 Atos dos Apóstolos, 52.
33 Evangelismo, 617.
34 Afirmar, como o Sr. Nicotra faz (18-24), que a fórmula batismal no tríplice nome de Deus em Mateus 28:19 foi interpolada posteriormente ao texto original do Evangelho, sendo, portanto, apócrifa, não é verdade, como ficou evidenciado em Jose C. Ramos, “Mateus 28:19 ¯ falso ou autêntico?”, Revista Adventista, maio de 2005, 10, 11.
35 Veja, por exemplo, Lucas 2:27; João 3:5, 6; 16:8; Romanos 8:4, 23; 14:17; Gálatas 5:17, 22, 23; 1 Pedro 1:2; 2 Pedro 1:21.
36 Ellen G. White, “The Word Made Flesh,” Review and Herald, 5 de abril de 1906, 8.
37 Evangelismo, 615 (itálicos supridos).
38 Ibid., 616.
39 Quanto à genuinidade da fórmula “que está no céu” em João 3:13, ver José C. Ramos, “La Revelación de Dios em JesuCristo en el Cuarto Evangelio”, Theologika VII, 2 (1993) 93: 112-127, principalmente 117-121.
40 O Desejado de Todas as Nações, 669. Ênfase suprida.
41 Manuscrito 14, 23 e 24. Ênfase suprida.
42 Ellen G. White, “Our Battle with Evil”, Review and Herald, 10 de fevereiro de 1903, 8.


Fonte: Revista Parousia, 2° Semestre de 2005, UNASPRESS


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