Páginas

terça-feira, 19 de março de 2013

Trindade em Escritos Originais de Ellen White




Fichamento da Revista Parousia [1]


Figura 1 – É uma cópia escaneada da primeira página desta carta, demonstrando a sentença-chave no segundo parágrafo. O cético perguntará como sabemos que esta carta veio realmente de Ellen G. White? O que diz o manuscrito original? Infelizmente para nós, que vivemos em 2006, Ellen G. White raramente preservou cópias originais de suas cartas, depois que elas sido transcritas e haviam recebidos sua aprovação. Nós ainda vemos que em certas outras instâncias somos afortunados em ter o manuscrito original, mas para esta carta o manuscrito original não é conhecido como tendo
sobrevivido. Talvez pela segurança que ela tinha em que as adulterações não seriam realizadas já que confiava na direção de Deus ao movimento.
Mas nós temos outras evidências de sua autenticidade. A figura 2 é uma cópia escaneada da página 6, demonstrando estas alterações interlineares e provendo a evidência de que esta carta foi, de fato, revista pela própria Ellen G. White. Assim estamos com base sólida ao concluir que esta sentença-chave em O Desejado de Todas as Nações não passou despercebida aos olhos da sra. White e entrou para o manuscrito do livro, que por intermédio dos seus assistentes ou por outros líderes da igreja. O que Diríamos quanto ao segundo argumento, de que as palavras “terceira pessoa” não aparecem com letras maiúsculas nas edições mais antigas? Como vimos na figura 1, a frase também não aparece com maiúsculas na carta original. Uma comparação adicional entre as cartas de Ellen White, seus artigos publicados e livros, indica que este estilo editorial, sem intenção teológica, governou tais questões quanto a se os pronomes referindo-se à Divindade deveriam aparecer em maiúsculas. Se o argumento de que o uso de letras minúsculas na “terceira pessoa”, demonstra que a sra. White não estava atribuindo status de divindade ao Espírito Santo, então deveríamos explicar por que nas
mesmas edições anteriores, o pronome pessoal “Ele” (referindo-se ao Espírito Santo) duas vezes aparece maiúscula no parágrafo imediatamente anterior (671:1), bem como em outros lugares no mesmo capítulo.



Figura 3 – É uma cópia escaneada da folha de rosto da fonte em que se encontra a citação de Evangelismo – Special Testemonies, Série B, nº7. De particular interesse é observar no final da página a frase “ Published for the Author” (Publicado pela Autora).

 A figura 4 é a cópia escaneada da página contendo a sentença-chave. Assim, o que quer que as alegadas “conspirações” tenham feito quanto às palavras que aparecem em Evangelismo, elas não podem ter sido originadas pela liderança da igreja na década de 1940. A passagem apareceu na impressão de 1906, publicada pela autora – Ellen White.
Buscando a fonte deste material, descobrimos que ele vem do Manuscrito 21, de 1906, escrito em novembro de 1905, indicando a data da transcrição como 9 de janeiro de 1906. A figura 5 é a cópia escaneada da figura 4, na qual esta declaração-chave aparece. A sentença é idêntica à que foi publicada na Série B, exceto que na versão impressa um ponto-e-vírgula foi substituído por uma vírgula depois das palavras “trio celeste”.


 

 

 Figura 6 – É a cópia escaneada da primeira página deste manuscrito, mostrando as correções manuais da sra. White – evidência de que ela pessoalmente revisou a cópia datilografada. Assi, mvemos que o que foi publicado em Evangelismo, reflete corretamente o que foi publicado na Série B, a qual, por sua vez, reproduz corretamente o manuscrito de Ellen G. White como revisado por ela.


 Figura 7 – É cópia escaneada de uma página do diário da sra. White, onde é encontrado o original não editado da cópia escrita a mão do manuscrito 21, 1906. Isto é o que foi tanscrito pelas seretárias de Ellen G. White, lê-se: “Aqui estão as três personalidades vivas do trio celestial, nas quais cada alma arrependida dos seuspecados, recebe Cristo por fé viva, para aqueles que são batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”



 Figura 8 e 9 - “A obra está colocada diante de cada alma que reconhece sua fé em Jesus cristo pelo batismo, e se tornou um recipiente da promessa das três pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (WHITE, Ellen G. DAS Commentary, 6:1074).



 O uso que Ellen G. White faz de “terceira pessoa” e “três pessoas no trio celestial” indica claramente sua crença de que não apenas existem três seres na divindade, mas que eles ão “pessoas”. Outra afirmação publicada em Evangelismo diz isto em termos evidentes: “O Espírito Santo é uma pessoa, pois ele dá testemunho ao nosso espirito de que somos filhos de Deus” (Evangelismo, p. 616,617).
Novamente nos perguntamos, o que Ellen White realmente escreveu? A figura 10 é uma cópia escaneada da fonte citada no livro Evangelismo – Manuscrito 20, 1906, p. 9. Não apenas este manuscrito atesta a aprovação da sra. White (no topo da sua primeira página lemos: “Eu li isto cuidadosamente e o aceite” – ver Figura 11.
Possuímos o original do rascunho escrito a mão, que foi transcrito por suas secretárias.
A figura 12 é uma cópia escaneada da sentença-chave: “O Espírito Santo é uma pessoa, pois Ele dá testemunho ao nosso espírito”.
Ellen G. White tem mais a dizer sobre o tema em outro lugar. O Manuscrito 93, 1893, diz: “O Espírito Santo é o Consolador, em nome de Cristo. Ele personifica Cristo, contudo é uma personalidade distinta”. A figura 13 é uma cópia escaneada do rascunho escrito à mão por Ellen White, confirmando a transcrição. O Manuscrito 27ª, 1900 acrescenta esta descrição: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo, poderes infinitos e oniscientes, recebem aqueles que verdadeiramente entram em relação de concerto com Deus” (Manuscrito 271, 1900, publicado em DAS Bible Commentary, 6:1075).
Observe como os atributos da Divindade são aplicados a cada pessoa. Isto é seguido da seguinte declaração: “Três agências distintas, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, trabalham juntas pelos seres humanos” (Ibid, com excessão do DAS Bible Commentary). O rascunho original à mão deste manuscrito não existe mais, mas a transcrição dele não apenas estampa a assinatura de Ellen White, como também suas correções interlineares, como visto nas fuguras 14 e 15 abaixo. 


 


 



 Tendo em mente as declarações de Ellen White, sem qualquer ambiguidade, acerca do “trio celeste”, vamos agora examinar outra passagem relacionada com a natureza do Espírito Santo, que os promotores do antitrinitarianismo usam como apoio.
Ela aparece na página 669 de O Desejado de Todas as Nações: “O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, Cristo não poderia estar em toda parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como seu sucessor na Terra. Ninguém poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal com cristo.
Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto”.
O enfoque desta passagem é a presença de Cristo por meio do seu representante – O Espírito Santo. A distinção pessoal entre Cristo e o Espírito Santo é cuidadosamente expressa no texto, mas os promotores antitrinitarianos indicam o manuscrito fonte desta passagem. Encontramos em uma carta a Edson White e sua esposa, datada de 18 de fevereiro de 1895 (WHITE, Ellen G. Carta 119, 1895). Como é a leitura deste texto na carta original?
“Limitado por sua humanidade, Cristo não poderia estar toda parte em pessoa; portanto, era do interesse deles que ele o s deixasse, e fosse para o seu Pai e enviasse o Espírito Santo para ser o seu sucessor na terra. O Espírito Santo é ele mesmo despojado da personalidade humana, e assim independente. Ele se representaria a si mesmo como presente em todos os lugares pelo seu Espírito Santo, como o Onipresente” (Publicado em Manuscript Releases, 14:93).
O que é de particular significado para os não trinitarianos é que onde O Desejado de Todas as Nações apresenta “O Espírito Santo é o representante de Cristo”, a carta original lê “O Espírito Santo é Ele mesmo.” O manuscrito original não é conhecido como existente, mas a carta, como transcrita pela secretária de Ellen White, estampa a sua assinatura e outras correções, significando sua aprovação à carta. Veja a figura 16 no final.
Será que a frase na carta original estabelece que a sra. White cria que o Espírito Santo e Cristo não são pessoas distintas? Nós já observamos várias declarações de Ellen White afirmando que existem “três pessoas” na divindade, e que o Espírito Santo é uma “personalidade distinta”. Como estas afirmações, cronologicamente, tanto antecedem como seguem a fraseologia desta carta, a consistência nos levaria a esperar que ela não está introduzindo uma nova compreensão do Espírito Santo nesta passagem. De fato, nós encontramos em O Desejado de Todas as Nações. O parágrafo na carta onde esta sentença aparece, começa com a declaração: “Embora nosso Senhor tenha ascendido da terra ao céu, o Espírito Santo foi indicado como seu representante entre os homens.”
Ellen White adicionalmente explica o significado de suas palavras “O Espírito Santo é Ele mesmo” acrescentando que “Cristo se representaria a si mesmo como presente em todos os lugares pelo seu Espírito Santo. Na misteriosa união que existe entre os membros da divindade, a presença pessoal de Jesus; contudo, suas identidades distintas são preservadas. A mesma ideia é encontrada em outras passagens da sra. White, tais como:
“Quando vós receberdes a Cristo como vosso Salvador pessoal, haverá uma marcante mudança em vós; sereis convertidos e o Senhor Jesus pelo seu Espírito se erguerá ao vosso lado” (Manuscrito 13, 1897, publicado em Mind, Character, and Personality, 1:124-125); e “Eu testifico aos meus irmãos e irmãs que a igreja de Cristo, fraca e defeituosa como possa ser, é o único objetivo na terra ao qual Ele concede sua suprema consideração. Enquanto Ele estende a todos o seu convite para virem a Ele e
serem salvos...Ele pessoalmente vem pelo seu Santo Espírito em meio à Igreja” (Carta, 2d, 1892, publicada em Testemonies to Ministers, 15).
Como explicar então a mudança nas palavras de O Desejado de Todas as Nações? Nós temos apenas a carta de 1895, e nenhum rascunho para a leitura final do capítulo, deixando-nos com a conclusão de que o que foi publicado em 1898 representa a leitura editada e aprovada pela autora. (Contra o argumento de que a leitura publicada não reflete os ensinos de Ellen White, ergue-se o fato de que o texto permaneceu não retocado por ela ao longo dos 17 anos anteriores à sua morte, e que a passagem foi repetida em um artigo que ela supriu para as leituras da semana de oração, publicadas na Review and Herald de 19 de Novembro de 1908).
A linguagem adotada por Ellen White em o Desejado de Todas as Nações ajuda o leitor a evitar a má interpretação que surge quando a sentença, é isolada de todo o parágrafo do seu contexto original.




[1] POIRIER, Tim. Parousia: Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Ano 5, nº 1. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2006.

Acervo literário de Ellen White e possíveis adulterações para advogar a doutrina da trindade


Por Gilberto G. Theiss[1]


Introdução

 Desde os primórdios de Ellen White e os demais pioneiros, o tema específico da Trindade foi algumas vezes discutido e amplamente debatido por alguns pioneiros. A compreensão, embora truncada, foi gradativa e, especialmente, após a publicação do livro “O Desejado de Todas as Nações”, a revelação deixou a imparcialidade de lado para se tornar uma contundente doutrina Adventista do Sétimo dia.

 No entanto, esta imparcialidade e discussão têm sido ressuscitada em nossos dias promovendo apostasia, além de sustentar movimentos separados ou revoltados com a igreja. Um dos argumentos que tem causado maior dano e diluído a fé de muitos estudantes do assunto é a implacável acusação de que os escritos de Ellen White, quando traduzidos, foram adulterados para advogar, provar e defender a doutrina da Trindade.

Devido a grande credibilidade nos escritos de Ellen White, este tipo de argumentação pode ser incisiva e demasiadamente forte para convencer e minimizar a confiança na própria organização. Infelizmente, muitas das pessoas que recebem informações equivocadas e enganosas como esta, absorvem a ideia sem ao menos buscar as fontes e evidências necessárias para colocar a prova tal ensinamento. Satanás e os inimigos da igreja sabem disso e por esta razão são muito bem sucedidos ao levantar suspeitas. Muitos membros se agarram à mentira com muita facilidade, e consequentemente a disseminam, e em alguns casos até morrem por elas. Temos que ter em mente que, embora a mentira seja mentira, ela tem o poder de persuadir e de enganar. Por este motivo, o propósito deste artigo é permitir ao leitor a possibilidade de observar os escritos fotocopiados dos originais de Ellen White quanto ao que ela realmente escreveu sobre o tema proposto. Suas cartas, algumas escritas a punho e outras datilografadas, mesmo com mudanças sinonimizadas, expõem fielmente, suas palavras da forma como originalmente foram traduzidas para o português, evidência esta que, o leitor poderá tirar por conclusões.

Desenvolvimento do acervo literário de Ellen White

Algumas acusações de adulteração dos escritos de Ellen White para advogar a doutrina da trindade tem haver com a participação de assistentes literários permitidos pela autora. Alegam que, foi a exagerada dependência dos seus assessores, por sua deficiência gramatical, que contribuiu para algumas adulterações[2]. Portanto, este adendo tem como finalidade apresentar uma síntese clara e objetiva das razões que implicaram na formação e organização de assistentes literários de Ellen White, seguindo de perto o exemplo de alguns profetas bíblicos.

A formação dos escritos de Ellen White compostos por cartas, diários, artigos, periódicos e livros totalizam cerca de 100.000 páginas.[3] Acredita-se que Ellen White, possivelmente, esteja na terceira posição de escritores mais traduzidos da história e a escritora norte-americana mais traduzida em todos os tempos. Em 1915, ano de seu falecimento, havia vinte e quatro livros publicados e mais dois em mãos dos editores para possível publicação. No entanto, após 1990, de sua autoria, 128 livros já se encontravam publicados.[4]

Embora ela tenha escrito muitas cartas e livros, de fato, como bem conhecido, Ellen White não era uma estudante brilhante e muito menos possuía formação universitária. Esta verdade, casada com os critérios para se testar um profeta, clarifica como  verdade o fato de ter sido chamada por Deus para um ministério especial. Como bem expressou Hebert Douglas, “Seria difícil dizer que a extraordinária obra literária de Ellen White é produto apenas da inteligência e invenção humanas”, e ainda afirmou que,

“Seus contemporâneos, conhecedores de sua formação e educação mínima, também estavam convencidos de que uma sabedoria mais do que humana era responsável pela incisiva e impressionante eloquência demonstrada por ela tanto no prelo como no púlpito”.[5] 

Sua fragilidade não era apenas acadêmica, mas, em grau elevado, física. Diante deste impasse, ela muitas das vezes precisou dar uma pausa temporária até que Deus a auxiliasse dando-lhe força e condições para prosseguir. Reconhecia claramente que era amparada e fortalecida por alguém fora dela: “O Senhor é que me tem fortalecido, e abençoando, e sustido por Seu Espírito.”[6]

Devido à intensidade de escritos em contraste com sua diminuta capacidade intelectual e física, outra esclarecida verdade é que, com o passar do tempo, algumas pessoas incorporaram a equipe de auxílio para dar-lhe suporte neste exaustivo trabalho. Há uma carta bem esclarecedora escrita a G. W. Amadon em 1906 apresentando a maneira como suas assistentes a ajudavam: 

 “Recolhi-me à noitinha, depois do sábado, e repousei bem sem dor ou incômodo até às dez e meia. Não consegui dormir Eu havia recebido instruções [do anjo assistente], e raramente fico na cama depois de tais instruções me sobrevieram [...] Saí da cama e escrevi durante cinco horas, tão rápido quanto a pena podia traçar as linhas. Depois, descansei na cama por uma hora, e dormi parte do tempo”,  

ela continua,  

“Coloquei a matéria nas mãos de minha copista e, na segunda-feira de manhã, ela me esperava, tendo sido colocada no meu escritório no domingo à noite. Havia quatro artigos prontos para eu reler e fazer quaisquer correções necessárias. A matéria está pronta agora, e parte dela seguirá hoje para o correio.”[7] 

Ellen White, com o objetivo de tornar mais eficiente as correções, envio e preparo de matérias para publicação, além da ajuda de seu esposo, desenvolveu uma enérgica organização de assistentes de redação tanto voluntárias quanto remuneradas.[8] Esta estratégia de permitir o auxílio de assistentes, não apenas partiu dela e de seu esposo, mas também se tornou uma necessidade devido ao grande volume de material que ela era incumbida a escrever. Às vezes algumas pessoas ficam um tanto que túrbidas ante o conceito de um profeta fazer uso de assistentes literários, e, de certa forma, acabam não compreendendo a maneira como Deus fala e guia o profeta. Não deveria ser novidade, Ellen White utilizava assistentes literárias pelas mesmas razões que os escritores bíblicos o faziam. A este respeito, bem ponderou Alberto Timm  que,  “Se os profetas não podem expandir e clarificar conceitos previamente enunciados, como explicar então as diferentes perspectivas de determinados eventos descritos nos evangelhos sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas?”. [9] Neste caso específico, ela conhecia as suas limitações de tempo e aptidões literárias,”[10] e, por esta razão, uma equipe de auxiliadores era bem vindo para o aperfeiçoamento e atualização de seus escritos.[11]

A acusação de adulteração 

As acusações de adulterações de alguns escritos para advogar a trindade não procedem e muito menos condizem com uma análise séria e criteriosa. Também têm sido habituais afirmações alegando deturpação direta do original para o inglês – de onde são traduzidas as obras para o português. Estas acusações não são comuns em literaturas, elas são encontradas exaustivamente pela comunicação eletrônica – internet. Muitas das informações encontradas pela internet que, de forma bem incisiva, afirmam categoricamente a adulteração das cartas de Ellen White por parte da liderança para advogar a trindade, muitas não passam de palavras sem fundamentação, ou seja, palavras ao ar, enquanto que outras dão aparência de estarem substancialmente embasadas. O grande problema é que, muitas pessoas se contentam com as poucas informações transmitidas enquanto que outras se satisfazem com um simples jargão depreciativo à igreja. Se todos levassem a sério o que leem e pesquisam, levando em consideração “o todo” em detrimento do “parcial”, além do contexto e caso, creio que o número de apostasias causadas por esta negligência seria consideravelmente pequeno comparado ao atual.

Por este motivo é que, será apresentado em seguida os escritos originais de Ellen White com as principais citações concernentes a trindade fazendo um paralelo entre os escritos originais e as traduções para o português. O objetivo é mostrar que a argumentação levantada, ou acusação feita contra os tradutores e a igreja, não são capazes de suportarem seu próprio peso de evidência. Desta forma, tendo acesso a estes escritos originais, será mais fácil mostrar que a igreja, por mais débil e defeituosa que pareça ser jamais maquinou uma ação tão diabólica de traduzir erroneamente as visões e conselhos da mensageira do Senhor. Somente uma mente muito sagaz e um sentimento muito controverso à igreja para chegar a tais conclusões e ainda espalhar essas informações como se fossem a mais pura verdade.

Analisaremos as principais citações mostrando sua verdadeira raiz original para que, tais comparações, possam dar-nos mais credibilidade e segurança.

 Citações originais e traduções para o português

Nesta sequência, será apresentado a citação em português e as imagens escaneadas dos originais poderão ser vistas e comparadas. O leitor perceberá que Ellen White conservou algumas cartas escritas a punho enquanto que outras conservou apenas as datilografadas. É importante salientar que, os auxiliadores literários eram pessoas de sua confiança e as cartas datilografadas passaram por suas mãos para devidas correções antes de serem assinadas e confirmadas. Outro fato também relevante é que, não faremos uma análise em todas as cartas de Ellen White que tratam deste tema, pois o objetivo é reavaliar apenas as principais cartas por julgar que seja suficiente. Caso o leitor tenha interesse em ver todas as cartas, elas são acessíveis em qualquer centro de pesquisa Ellen White, incluindo o que serviu de base para este estudo no Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (IAENE).

A primeira citação a ser avaliada é a que foi publicada em 1906, observe: “Há três pessoas vivas pertencentes ao trio celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e estes  poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viverem nova vida em Cristo”[12].

Esta citação encontra-se no livro Evangelismo, p. 615 e foi compilada em 1946. No entanto, a impressão apareceu em 1906 publicada pela mesma autora. Na imagem da página 5 podemos ver nitidamente que tal conspiração de adulteração jamais houve. A citação original se encontra em Manuscrito 21, de 9 de janeiro de 1906, escrito em novembro de 1905 como visto na figura página 6.

Na próxima imagem, escaneada de uma página do diário de Ellen White, onde é encontrado o original, não editado da cópia escrita à mão do manuscrito 21, 1906, que se lê:

“Aqui estão as três personalidades vivas do trio celestial, nas quais cada alma arrependida dos seus pecados, recebe Cristo por fé viva, para aqueles que são batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”[13].

 Na próxima imagem, encontramos a seguinte citação:

“A obra está colocada diante de cada alma que reconhece sua fé em Jesus Cristo pelo batismo, e se tornou um recipiente da promessa das três pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo”[14].


Portanto, outra evidência da fidelidade de tradução. Na verdade, verifica-se forte comprovação dos fatos, de que, não  houve nenhuma intenção malévola de tradução. Os escritos de Ellen White, por si, advogam a doutrina  como correta.

O Manuscrito 271 acrescenta esta citação: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo, poderes infinitos e oniscientes, recebem aqueles que verdadeiramente entram em relação de concerto com Deus”[15]. Podemos confirmar na carta de Ellen White a mesma transcrição. Observe na figura abaixo, incluindo a segunda figura (p. 9) com a assinatura de confirmação da autora:


E quanto ao Espírito Santo?

Das pessoas da Divindade, o Espírito Santo tem sido o mais atacado e desacreditado por alguns movimentos dissidentes. No entanto, neste tópico, analisaremos alguns textos históricos de Ellen White escritos a punho ou datilografados e assinados por ela autenticando o que a igreja tem ensinado há décadas a respeito da Terceira Pessoa da Divindade.

A citação encontrada no livro Evangelismo, p. 616 e 617 é uma das cartas mais acusadas de fraude. Portanto, faremos uma breve análise e comparação com o texto original para tirarmos as dúvidas. O texto reza assim: 

“Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos”.[16]  “O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. Uma vez dado esse testemunho, traz consigo mesmo sua própria evidência. Em tais ocasiões acreditamos e estamos certos de que somos filhos de Deus....O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus. ‘Por que qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus’ (ICo 2:11). O princípio da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Divindade, o Espírito Santo”.[17]  

E continua, “Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais alto no Céu- o Pai, o Filho e o Espírito Santo - e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de Deus”[18].

 Nas imagens da página 11, podemos sanar nossas dúvidas observando, com atenção, que não há inchaço na tradução a ponto de prejudicar a crença como num todo. A citação original é verídica e pode ser encontrada em um dos Patrimônios Literários de Ellen White. A única modificação encontrada e que não coaduna com a citação original é a palavra trindade. Ellen White faz uso de Godhead que significa divindade. No entanto, mesmo que utilizássemos divindade nas traduções, o sentido exato da ideia transmitida não seria mudado.
                                                               
Original datilografado


Original escrito a punho


Veja a página original na íntegra:


 Alguns, talvez bem intencionados, porém desprovidos de coerência nos resultados hermenêuticos afirmam que não há uma distinção clara entre Espírito Santo e Jesus. Para não dar margem a tal pensamento, é bom vermos Ellen White afirmando que ambas são pessoas distintas. No Manuscrito 93, diz: “O Espírito Santo é o Consolador, em nome de Cristo. Ele personifica Cristo, contudo é uma personalidade distinta”[19] (Observe imagem abaixo).


Outra citação que tem sido fortemente atacada e creditada de adulteração é a encontrada no livro Desejado de Todas as Nações. Observe:

“O pecado pode ser resistido e vencido apenas através da poderosa agência da terceira pessoa da Divindade, a qual viria com energia não modificada e na plenitude do poder divino”[20]

Esta citação foi publicada pela primeira vez em 1898 e hoje se encontra e no mesmo livro. A imagem da página 13 escaneada do original, demonstra claramente que não houve tradução equivocada. Embora a palavra Trindade não esteja na carta, qualquer pessoa sensata saberia discernir que esta mudança não causa nenhuma implicação ao sentido de toda a frase e contexto. Alguém ainda poderia questionar se realmente esta carta veio de Ellen White. É importante conhecer que, ela raramente preservou os manuscritos escritos a punho. Depois de transcritas, com sua aprovação, as cartas eram catalogas e usadas para as edições de seus livros e periódicos. Esta confiança por parte de Ellen White em não manter alguns de seus manuscritos escritos a punho pode ser uma clara evidência de sua credibilidade na manutenção e cuidado das citações ao longo dos anos que se seguissem.


 Conclusão:

Como ressaltado, neste presente artigo, foram inseridas apenas algumas poucas citações por julgar que sejam suficiente. No entanto, caso ainda permaneça dúvidas a este respeito, sugiro que visite um de nossos centros de pesquisa Ellen White no Brasil (UNASP C. 2, IAENE ou FAAMA) e faça uma revisão dos fatos. As evidências da autenticidade das traduções são evidentes, e precisamos crer que Deus mesmo se mantém na fiscalização de Sua obra e na manutenção de Suas Doutrinas. Ellen White mesma considerou tais fatos afirmando “Sou animada e beneficiada ao compreender que o Deus de Israel ainda guia Seu povo, e continuará com ele até o fim.”[21] Também acrescentou que “A obra está sobre a supervisão do bendito Mestre [...] O intenso anelo de ver a igreja impregnada de vida tem de ser temperado com inteira confiança em Deus”[22] E para ser mais contundente, 

“Não há necessidade de duvidar, de temer que a obra não tenha êxito. Deus está à frente da obra, e Ele porá tudo em ordem. Se, na direção da obra, houver coisas que careçam de ajustamento, Deus disso cuidará para corrigir todo erro. Tenhamos fé em que Deus há de pilotar seguramente ao porto a nobre nau que conduz o povo de Deus.”[23]

 A história da igreja tem demonstrado como o sobrenatural tem convivido com o natural. Deus tem sido presente com esta igreja ao longo desses anos e com certeza ainda permanecerá até fim. Sei que nem tudo é mar de rosas, mas não tenho dúvidas que, em se tratando de questões doutrinárias, Deus não seria absolutamente nem um pouco conivente.







O material ora exposto pode ser encontrado no livro "A história revelada e a verdade confirmada" do Pr. Gilberto Theiss. Todas as imagens divulgadas podem ser vistas na Revista Parousia publicada pela UNASPRESS e foram aqui expostas com a devida autorização.

Bibliografia

DOUGLASS, Hebert E. Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White. 3. ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

POIRIER, Tim. Parousia: Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Ano 5, nº 1. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2006.

SILVA, Demóstenes Neves da. Perguntas e respostas sobre a trindade. Cachoeira: CEPLIB, 2009.

TIMM, Alberto R. Revista do Ancião: Teriam alguns líderes da igreja adulterado os escritos de Ellen White para advogar a doutrina da trindade?. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, out – dez 2005.

WHITE, Arthur L; WALDVOGEL, Isolina; CHRISTIANINI, Arnaldo B. Ellen G. White: Mensageira da igreja remanescente. 2. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993.

WHITE, Ellen Gould. Evangelismo. Tradução de Octavio E Santo, Raphael de Azambuja Butler. 3.ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997.

________________. The Seventh-day Adventist: bible commentary. U.S.A.: Review and Herald Publishing Association, 1984.

________________. Mensagens escolhidas. Tradução de Isolina A Waldvogel, Luiz Waldvogel. 4. ed. V. 3. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2010.

________________. O desejado de todas as nações. Tradução de Isolina A Waldvogel. 22. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004.

________________; PAGANI, Cesar Luis. Testemunhos para a igreja. v. 2. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006.

________________. Testemunhos seletos: conselhos para a igreja, selecionados de "Testimonies for the church".  V. 2. Tradução de Isolina Waldvogel, Rafael de Azambuja Butler. 6. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

________________. A Igreja remanescente. 8. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

WHIDDEN, Woodrow et al. A trindade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na bíblia e na historia do cristianismo. 2. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003.


[1] Pastor no estado do Ceará, estudioso e escritor (IAENE).
[2] Informações como esta são encontradas em diversos sites eletrônicos. Com o objetivo de não provocar um incentivo de divulgação de tais sites, justamente por não apresentarem informações e pesquisas sérias, seus nomes, títulos e autores foram omitidos propositalmente.
[3] WHITE, Ellen G.  Mensagens Escolhidas, cap. 12 a 18
[4][4] Pode-se obter uma lista completa de seu acervo literário incluindo cartas, folhetos e periódicos de Ellen White em Centro de Pesquisa Ellen White (Patrimônio Literário White) no Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (IAENE). Km 197, BR 101, Cachoeira-BA, Bairro Capoeiruçu. 44300-000.
[5] DOUGLAS, Herbert. Mensageira do Senhor, p. 108.
[6] WHITE, Ellen G. Manuscrito 4, 1891, citado em Arthur White, Ellen G. White, Mensageira da Igreja Remanescente, 2º ed. (Tatuí, SP: CPB, 1993).
[7] WHITE, carta 28, 1906, citado em ibdem, p. 332.
[8] WHITE, Ellen G. Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 89.
[9] TIMM, Alberto R. Revista do ancião 2005.
[10] DOUGLAS, Herbert E. Mensageira do Senhor, p. 110.
[11] Maiores detalhes ver Carta 11, 1884, citada em Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 96-98.
[12]  WHITE, Ellen G. Evangelismo, p. 615 -A citação original se encontra em Manuscrito 21, de 9 de janeiro de 1906, escrito em novembro de 1905. 
[13]  Idem. Manuscrito 21, 1906.
[14] Manuscrito 57, 1900, publicado no comentário bíblico adventista do sétimo dia
[15]  Manuscrito 271, 1900 (Publicado em Sevent Day Adventist Bible Comentary, 6:1075) 
[16]  WHITE, Ellen G. Manuscrito 66, 1899
[17]  Idem, Evangelismo, p. 616-617 e está localizada em Special Testimonies, Série A, nº 10, pág. 37. A palavra Trindade não será encontrada na citação original, mas tal tradução não altera o sentido de toda a expressão. Com esta palavra ou não, a revelação está falando de três pessoas divinas.
[18]  Idem. Evangelismo, 616, 617; Manuscrito 20, 1906, p.9 
[19]  WHITE, Ellen G. No Manuscrito 93, 1893, Publicado em Manuscript Releases, 20:323-325
[20]  Idem, Desejado de Todas as Nações, p. 671. 
[21] WHITE, Ellen G.  Testemunhos para a Igreja, v. 2, p. 406.
[22] Idem.  Testemunhos Seletos, v. 2, p. 353, 354.
[23] Idem. A igreja Remanescente, p. 68

Entendimento progressivo dos pioneiros sobre a trindade


Gilberto G. Theiss[1] 
Muitos debates e confrontos se levantaram nos primórdios do adventismo com o objetivo de impedir que certas doutrinas estranhas se infiltrassem no seio da igreja. Mas, conceitos estranhos e doutrinas duvidosas eram de certa forma os meios mais eficazes para forçar os teólogos e pastores da época a estudarem com mais profundidade os temas propostos e controversos. Assim como outros assuntos complexos e preconceituosos, o tema da divindade de Jesus, Espírito Santo ou da Trindade ganharam um pequeno espaço em algumas dessas discussões no meio adventista, principalmente pelo fato de tal crença ser creditada à origem pagã do catolicismo[2]. Essa discussão, no princípio, não era nada amistosa, mas aos poucos, ao longo dos anos, as diferenças teológicas a esse respeito foram diminuindo. Podemos separar esse período em pré 1898 e pós 1898, por ter sido neste ano a primeira impressão do livro “O Desejado de Todas as Nações” que trouxe grande luz sobre a essência da natureza de Jesus, influenciando grandemente alguns pioneiros que ainda mantinham certas dúvidas quanto à co-erternidade de Cristo[3].

Mesmo antes da publicação do Desejado de Todas as Nações, e da influência das visões de Ellen White, houve entre alguns pioneiros, um progressivo entendimento deste tema que culminou em declarações extra-oficiais da crença da Igreja Adventista na Divindade e Eternidade do Filho junto com o Pai e da natureza pessoal e divina do Espírito Santo. E será exatamente isto que veremos a seguir.

O contexto de 1892 e algumas Publicações

Na data de 1892, um estudo publicado pela Review and Herald, usou pela primeira vez, de forma abrangente e positiva, o termo Trindade. O devido estudo foi publicado num conjunto de dezenas de outros estudos para confirmar no que, até o momento, os Adventistas do Sétimo dia definitivamente acreditavam.

A desmistificação da palavra Trindade começa neste período com nenhuma contrariedade dos principais pioneiros da igreja. É importante lembrar que, nos períodos entre 1846 e 1888, a maioria dos adventistas haviam rejeitado o conceito da Trindade[4], e apresentavam diversas divergências quanto a natureza da pessoa de Cristo, Sua igualdade com o Pai e sua co-eternidade. Uns acreditavam que Jesus era essencialmente Deus, porém inferior ao Pai, enquanto que outros acreditavam que, em algum momento, na eternidade, o Filho teria vindo à existência.

Analisaremos a partir de aqui, algumas importantes considerações de alguns renomados pioneiros do movimento, que nos darão a compreensão de que suas descrenças na divindade e eternidade de Jesus não suportaram o tempo e a luz posterior que Deus lhes daria através de diligente estudo. A progressiva compreensão poderá ser notada nestas citações:

W.W. Prescott[5] - 1896 (Antes) -  “Assim como Cristo nasceu duas vezes, uma vez na eternidade...e de novo na carne”[6]

W.W. Prescott – 1919 (Depois) - Depois assumiu: “Fui ensinado como o irmão Daniells...de que a Trindade era algo herético...sem contudo pensar por mim  mesmo, ou estudar, eu supus que estava certo. Mas eu descobri algo diferente...como entendo agora, deidade envolve eternidade. Você não pode ler as Escrituras e conceber sem eternidade”[7]

Uriah Smith[8] - 1865 (Antes) - “... o primeiro ser criado”[9]. “Embora através de meios não claramente identificados nas Escrituras, Cristo havia sido trazido à existência ou gerado”[10]

Uriah Smith – 1881 (Depois) - “Mas a linguagem não implica necessariamente que ele foi criado [...] ele próprio veio à existência de uma forma diferente.”[11] Ao comentar a frase, “O princípio da criação” de Apocalipse 3:14.

Alguns, até mesmo bem intencionados, afirmam que Uriah Smith não havia se convencido completamente deste assunto. A resposta a esta indagação poderia ser entendida à luz da impressão da primeira edição do Desejado de Todas as Nações. Urias Smith faleceu em 1903, portanto ele presenciou em 1898 as afirmações de Ellen White neste volume de que Jesus não possuía vida derivada e nem emprestada[12]. Também pode conhecer a declaração contundente no mesmo livro a favor do Espírito Santo que assim declara: “Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa operação da terceira pessoa da Trindade, a qual viria, não com energia modificada, mas na plenitude do divino poder”.[13]

Este argumento pode ser uma referência plausível do desenvolvimento progressivo e teológico para os pioneiros do movimento, e especialmente para Smith, pelo fato dele devotar grande confiança no ministério profético de Ellen White para a igreja remanescente.

De qualquer forma, temos uma citação de 1896 onde Smith admitia louvar o Espírito Santo, pois estava equiparado ao Pai e ao Filho em Mateus 28:19[14].

Em 1903 Smith reconheceu três seres ou três agentes para a nossa salvação[15].

 James White[16] - 1846 (Antes) - “O antigo credo trinitarista ausente nas escrituras...de que Jesus é o eterno Deus”[17]James  White – 1876 (Depois) - “Os adventistas dos sétimo dia compreendem a divindade de Cristo de forma tão parecida com os Trinitaristas que não receamos qualquer debate aqui”[18]

Um ano mais tarde, em 1877, James White declara abertamente sua crença na igualdade do Filho para com o Pai, e ainda condenou qualquer ensinamento que faça Cristo inferior para com o Pai”[19].

J. H. Waggonner – (Antes) - “A Bíblia faz silêncio sobre a Trindade.”[20]

J.H Waggonner – 1883 (Depois) - Em 1883, Waggonner reconheceu que o Espírito Santo partilha os atributos do Pai e do Filho.[21]
     
            Os registros históricos visto até então, são evidentes em mostrar que, no mínimo, mudanças no pensamento que diz respeito à trindade, foram gradativamente permeando o parecer de alguns pioneiros sobre a trindade. Nos capítulos seguintes, cavaremos um pouco mais para encontrar algum tipo de solo que possa dar sustento e respaldo a crença no meio adventista. A história, estudada com seriedade, não falha em nos apresentar a verdade.

Outros pioneiros em defesa da trindade

S. Spears, em artigo de 1889 transformado em livreto e publicado pela igreja em 1892 defende “A doutrina bíblica da Trindade.” N. Downer, em artigo, declarou que as três pessoas da Trindade tiveram parte na ressurreição de Cristo.[22]

Lee S. Wheeler, observou, citando Efésios 4:4-5: “É digno de nota que nesta como em muitas outras partes da Escritura, o Espírito como sendo um é mencionado como distinto do Pai e do Filho.”[23]

D. Hildereth escreveu: “Tire o Espírito Santo da Bíblia e ‘nada’ que reste é digno de ser falado.”[24]

Joseph Clark defendeu o Espírito Santo como uma realidade em si mesmo, e um agente de Deus.[25]

P. Bollman escreveu: “O Espírito Santo é divino e Criador de todas as coisas”.[26]

A.J. Morton declarou: “A divindade do Espírito Santo, de Cristo e a do Pai e Cristo não pode ser separada”.[27]

Alonzo T. Jones foi editor da Reviewand Herald por muitos anos. Em sermão na Sessão da Conferência Geral de 27 de fevereiro de 1895 defendeu que “O Espírito Santo é um representante pessoal de Deus”. Também, que há uma unidade do Espírito Santo com o Pai e o Filho.[28]

Stephen N. Haskel, no artigo “O Espírito Santo” declara que a relação entre o Pai, Filho e Espírito Santo é um mistério.[29]

G.C Tenny, que em 1883 usara “it” (“Isto”, em inglês, normalmente usado para coisas) para o Espírito Santo declarou em 1896 que o Espírito Santo era inteligente, tinha existência independente e passou a suar o pronome pessoal “he” (“ele”, normalmente para pessoas).[30]

S.M.I.Henry, escritor denominacional declarou em 1898 que: “Os pronomes usados em conexão com o Espírito devem levar-nos a concluir que ele é uma pessoa – uma personalidade...”.[31]

R.A Underwood, que havia sido antitrinitariano a princípio, expõe, segundo ele mesmo declara, a sua mudança de compreensão, a partir do estudo da Bíblia.

Na revista Review de 3 demaior de 1898 ele diz que o Espírito é uma pessoa e que não deveríamos permitir que Satanás destruísse nossa fé “na personalidade dessa pessoa da Divindade – o Espírito Santo.”

Em relação à sua opinião anterior Underwood declarou:

“Mas nós queremos a verdade porque ela é a verdade, e nós rejeitamos o erro porque é o erro, apesar de qualquer ponto de vista que nós possamos anteriormente ter sustentado ou qualquer dificuldade que nós possamos ter tido ou possamos ter agora quando nós vemos o Espírito Santo como uma pessoa”.[32]


Conclusão

Com o passar do tempo, assim como outras doutrinas que foram incorporando ao quadro de crenças adventista, a trindade foi superando as discussões contrárias, conquistando gradativamente espaço cognitivo entre os principais pioneiros da igreja. As visões reveladoras dadas a Ellen White sobre a Divindade de Cristo e do Espírito Santo, tendo como marco a publicação do livro “O Desejado de Todas as Nações”, teve um impacto importante para a fundamentação da crença no ano de 1898, que consequentemente levou a igreja a se posicionar definitivamente no ano de 1931, onde expressou total aceitação a esta doutrina. Muitos líderes e membros que viviam neste ano, foram membros atuantes no período de Ellen White e mantiveram sua crença assim como nos anos anteriores - a favor da Trindade. Portanto, em torno de 1900 a igreja já desfrutava de consenso sobre o tema conforme os testemunhos da época evidenciam clarificadamente.[33]

LEITURA ADICIONAL SUGERIDA

CASALI, Victor. Historia de las Doctrinas Adventistas. Centro de Investigación White: Universidad Adventista Del Plata, p. 131-132

DEMÓSTENES, N. S. Perguntas e Respostas sobre a Trindade, p. 117-130.

PAROUSIA, Ellen G. White e a compreensão da Trindade, p. 11-26.

PAROUSIA, O debate adventista sobre a Trindade, p. 19-30.

WOODROW whidden, Jerry Moon, John W. Reeve. A Trindade, p. 207-215.

THEISS, Gilberto G. A história revelada e a verdade confirmada, p. 69 – 150 (ver desenvolvimento doutrinário da IASD e a doutrina da trindade).


[1] Pastor na IASD do distrito de Itapajé-Ce, na Associação Costa Norte.
[2] SHWARZ, Richard W. e GREENLEAF, Floyd, Portadores de luz, p. 161
[3]  WHIDDEN, Woodrow, MOON, Jerry e REEVE, John W. A Trindade, p. 223
[4]  Ibdem, p. 217. Ver também: MOON, Jerry. O debate adventista sobre a Trindade, Parousia ano 4, nº 2, p. 21.
[5]  W. W. Prescott, educador e administrador. Em 1885 tornou-se diretor do Battle Creek College e foi, durante algum tempo (1891-1892), simultaneamente, diretor de dois outros colégios – Unio e WallaWalla. Ajudou a fundar o que hoje se conhece na Austrália como Avondale College. Posteriormente trabalhou como erudito e administrador, exerceu grande influência sobre a obra educacional mundial da denominação. Nascido em 1855 e falecido em 1944. DOUGLAS, Herbert E. A mensageira do Senhor, p. 250.
[6]  PRESCOTT, W. W. Review and Herald, 14 de Abril de 1896.
[7]  Ibdem, p. 62, 1919
[8]  Uriah Smith. Pastor, escritor e redator. Tornou-se adventista observador do sábado em 1852, unindo-se no ano seguinte à equipe da Review. Desde aquele tempo até sua morte, seu nome apareceu no expediente da revista, a maior parte das vezes como editor. Foi o primeiro instrutor bíblico do Battle Creek College e secretário da Associação Geral. Escreveu alguns livros, dos quais o mais conhecido é Thought son Daniel and the Revelation. Nascido em 1832 e falecido em 1903. DOUGLAS, Herbert E. A mensageira do Senhor, p. 251.
[9]  SMITH, Uriah. Thoughts Critical and Patriarcal, on the Book of Revelation p. 59
[10]  Ibdem
[11]  Ibdem, p. 74
[12]  WHITE, Ellen G.. O Desejado de Todas as Nações, p. 530
[13]   Ibdem, p. 761.
[14]  SMITH, U. In the Question chair, Adventist Review and Sabbath Herald, doravante Review, 27/10/1896.
[15]  SMITH, u.The Spirit of Profhecy.General ConferenceBulletin, 14 de março de 1903.
[16] Tiago [James] Springer White. Um dos três co-fundadores da igreja Adventista do Sétimo dia, sendo os outros dois sua esposa Ellen e amigo José Bates. Foi professor durante dois anos, amas logo que completou 21 anos de idade uniu-se ao movimento milerita e, empunhando um diagrama, começou a pregar. Relata-se que, durante os meses de inverno de 1842-1843, Tiago levou mais de 1000 pessoas a Cristo. Depois do desapontamento de 22 de outubro de 1844, associou-se a outros Cristãos no estudo da Bíblia, em busca de maiores esclarecimentos. Em1846 aceitou a verdade o sábado e, em 1849, começou a publicar a revista PresentTruth. À medida que crescia o número dos adventistas guardadores do sábado, ele insistiu para que constituíssem uma organização. Isso resultou na formação da Associação Geral , em 1863. Tiago liderou o desenvolvimento da obra editorial, educacional e médica da igreja. Durante muitos anos foi editor da Review and Herald. Atuou como presidente da Associação Geral durante três mandatos (1865-1867-1871; 1874-1880). Nascido em 1821 e falecido em 1881. DOUGLAS, Herbert E. A mensageira do Senhor, p. 253.
[17]  WHITE, James. The Day Star, Jan. 21
[18]  Idem. Review and Herald, 12 de Out. De 1876.
[19]  Ibdem, 29 de Nov. de 1876, p. 72
[20]  WAGGONNER, J.H. The Atonement, p. 173
[21]  TAYLOR, 1953
[22]  DOWNER, N. Review, 6 de abril de 1876
[23]  WHEELER, L.S. The Communion of the Holy Spirit, Review, 21 de abril de 1891, p. 244
[24]  HILDERETH, D. Review, 01 de abril de 1862
[25]  CLARK, J. Review, 10 de março de 1874
[26]  BOLLMAN, P. Signes of the Times, 04 de novembro de 1889.
[27]  MORTON, A. J. Signes of the Times, 26 de outubro de 1891.
[28]  JONES, A. T. General ConferenceBulletin, 27 de fevereiro de 1895.
[29]  HASKELL, S. N. Review, 28 de novembro de 1899.
[30]  BOLLMAN, P. TENNY, G. C. Review and Herald, 9 de junho de 1896.
[31]  HENRY, S. M. I. The Abindig Spirit, p. 271
[32]  UNDERWOOD, R.A. Review, 3 de maior de 1898.
[33]  SILVA, Demóstenes N. A Trindade, p.124.